quinta-feira, 26 de dezembro de 2013




Um sujeito brilhante um dia cantou a ideia de um mundo melhor, e na voz dele, nas perspectivas daquele chamado, o mundo parou para ouvir aquela canção. Esta ecoou com o tempo tornando-se atemporal. Até hoje a letra da canção dá um nó na garganta até de outros sujeitos mais endurecidos. No Natal é comum escutá-la novamente solta por aí.

O Natal tem dessas poesias, de solidariedade, mas carrega muito de solidão e de uma certa melancolia, quebrada apenas pela alegria das crianças. Por isso também é que ser criança é algo mágico, até nesse período do ano. Mas eu não vim aqui falar de crianças, nem da canção, mas sim desse tal senhor chamado Natal.

Esse sujeito sempre chega cheio de simbolismos, do consumo, da união e de tantas outras possibilidades. Pra mim, embora enxergue a beleza da data em questão, experimento um pouco dos sentimentos tortos desse período, sempre penso que é bem melhor aproveitado por famílias numerosas, pela casa cheia de parentes, por fartura, presente, coisa e tal. Mas não é assim para todo mundo, tem gente que carece de tudo isso, que sobra mais que vazios.

Assistindo ao jornal da dia de Natal, fica quase impossível não entender desse sentimento que muitos de nós desfrutamos neste dia, em especial ao ver gente que doa seu tempo para o tempo do outro, que partilha, dividindo para somar no instante presente. Papais Noéis magros, morenos, mas não menos cheio de coração que o bom velhinho da pança grande e barba branca. Voluntárias de todas as idades e tamanhos, dividindo a ceia com gente que tem fome do básico, mas que talvez entenda do essencial que muita gente esqueceu na correria da vida. Gente que pede apenas um panetone, um pedaço de pão, crianças atrás de um bola, uma boneca, ou qualquer coisa que traga ou outro sentido para a vida, ainda que momentâneo.

O Natal não poderia ser imposto por regra, mas como de fato é, então, repensando nessa gente que faz alguma diferença na vida de desconhecidos, me peguei imaginando essa partilha... por que não buscá-la nos futuros natais daqui pra frente? Ainda mais para quem tem vazios nesse dia tão comemorado por todos.

Quem sabe daqui pra frente, os natais sejam mais felizes, que as confraternizações de final de ano que não marcaram presença neste ano, seja comemoradas independente do Natal, que possamos dividir não somente com as pessoas que amamos, porque isso é fácil, mas essencialmente com aquelas que não conhecemos, que nada tem haver com nossa rotina.

A todos que por muitos motivos não desejei, desejo não um Feliz Natal, mas essencialmente felizes dias do ano que se aproxima. Que não tenhamos a ilusão que serão 365 dias de coisas boas, porque a vida é feita de alternâncias, mas que acima de tudo que tenhamos sabedoria para enfrentarmos os tempos, sejam eles quais forem, e acima de tudo luz em abundância para clarearmos nossa própria escuridão e quem sabe assim, possamos clarear um pouquinho desse planeta inteiro.

Feliz Ano Novo!
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elizpessoa



quarta-feira, 27 de novembro de 2013



Eu trabalho e sou assalariada, ainda assim, há momentos em que me sinto escravizada com renda. Não vou me ater aos fatos em si, mas saibam que eles existem, e com certeza não sou a única que se sente assim. De qualquer forma, hoje em especial, provei dessa amarga sensação de novo. Muito cacife para pouco índio, para pouco espaço e para mandar em pouca gente. Egos inflados demais, gente que é como um Pinscher mas que ao olhar no espelho enxergam um Doberman. Pouca gente à toa montando em cima de gente que trabalha e pouco resultado. Mas no meio disso tudo, um questionamento: Como deveria ser na época da escravidão, quando homens eram tratados como animais comercializados, sem direito algum, sem salário ou troca que o valha? Homens, mulheres e crianças negras 100% escravizadas, enquanto os índios foram dizimados!

Num leve instante me veio à ideia das cotas e uma só e certeira conclusão: Viva as cotas raciais! Porque raça alguma, em especial no Brasil, foram tão submetidas a torturas e maus tratos como foram os índios e os negros. Ainda é até hoje.

Talvez as cotas não façam uma reparação histórica como alegam alguns, e particularmente, não acho que fará, assim como também acredito que é uma forma colocar diferenças onde deveria haver igualdades. Mas não é!

Não é porque as raízes dessas diferenças são bem mais profundas, estão cravadas no ventre dessa pátria mãe. Mas há que se tentarmos alguma mudança, do que deixarmos como sempre foi no sempre é, para não cairmos no sempre será assim.



elizpessoa 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013



Deixado de lado num canto da casa, morava um violão descontente por não ser mais tocado. Era preciso dedilha-lo lentamente por dedos destreinados, e experimentar de novo aquela coisa nova que dá na gente. E no outro - alto da estante - uma canetinha secara por falta desses mesmos dedos que a deslizavam sobre os espaços brancos do papel. Era tempo de viver as coisas realmente úteis: uma música, outra palavra, um tempo, alguma coisa dilacerada em algum canto da alma, uma oração, outro agradecimento, uma semente, outras vontades e uns detalhes soltos por aí, aqueles que a vida nos empresta, depois pede de volta.


Quase sempre é assim, quase sempre sobra espaço para reinventar a vida da gente. É só querer.

elizpessoa

terça-feira, 12 de novembro de 2013

2013

2013 Foi um ano de grandes mudanças, novas transformações que deixaram a sensação de estar perdido em meio ao caos das novidades. Por conta desse cenário, os olhos acostumados com as coisas nos mesmos lugares, desaprendiam a enxergar os detalhes.

Este ano descobri muita gente, aprendi com o melhor e o pior das pessoas, experimentei um pouco de injustiça e da sede pra mudar as coisas. Da esperteza presente nas ambições desenfreadas e no preço que todos pagam por tudo isso.

Conheci a palavra, o desgaste, a mentira e o silêncio. Calcei incertezas, senti medo, respirei coragem. Encontrei braços abertos e olhares atentos ao que se passava. Amizades que não me deixaram cair em desamino, me ensinando muito de solidariedade, carinho e respeito. Respeito acima de tudo pelo o ser humano, buscando sempre a melhor luz em meio a maior escuridão.

Este ano experimentei o amor, o perdão ao outro, mas essencialmente o perdão a si mesmo. Aprendi que a vida se constrói lentamente com a mesma brevidade que passa. Que o melhor de mim ainda deve ser descoberto por eu mesma.

Entendi que eu posso até não compreender a dor dos outros, mas jamais isso me exime de respeitá-los. Em meio a tudo, a confirmação de que os maiores bens que a vida nos dá, de fato, vem de graça, e que por essa razão, é preciso devolvê-las com a mesma graça que recebemos.

Neste ano, procurei os caminhos da alma, percorrendo estradas gastas. Chorei por motivos distintos, envelheci com o coração desarmado.

Descobri com algumas poucas pessoas, com não quero ser e acabei milimetricamente testada. Encontrei a fé descoberta de falácias. Provei do poder do cuidado, entendi que o afeto cura. Que, se os sentimentos são bons, a gente espalha.

Este ano nem acabou e já mudou tudo em volta.



elizpessoa

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Além da Geografia

Morando alguns meses longe das asas do Plano Piloto, e após ter sobrevivido tanto tempo preso dentro delas, comecei e enxergar o cotidiano como se estivesse de óculos novos, depois de anos acostumada a redondezas do antigo. A mudança não foi tão grande assim, tendo como ponto de vista as questões geográficas, mas como nem só na geografia fixa-se o olhar, o meu mudou, ou melhor, continua transformando-se lentamente na medida dos dias. Se antes o caminho era trilhado sobre duas rodas, agora cabem em quatro. Ônibus lotado, democracia experimentada tardiamente, espaços que se delimitam no primeiro incômodo aparente. O som alto do outro incomoda a vontade silenciada de alguém, as mochilas pesadas abrindo caminho nos corredores, empurrando quem estiver pela frente. A leitura de um homem atrapalhada pela conversa ao celular de alguém que prefere se contar para a condução inteira, aqueles assuntos que seriam divididos na intimidade. Coisas que põe e tira do sério qualquer gente anônima. De todas essas questões, algumas lições são apreendidas e repensadas...  é fácil se sentir mais um, como também fácil não se sentir parte de tudo aquilo.

Outro dia alguém virou e disse que as pessoas da periferia se vestiam mal e eram feias.  Fiquei pensando nisso e estranhei porque o comentário partiu de alguém que vive ali, que não tem muito dinheiro como as pessoas que ali estão. O problema não é encontrar algum tipo de verdade nisso, mas perde-la em meio a isso. O fato é que cada vez mais tem sido fácil me convencer de que grande parte das pessoas está sobrevivendo, lutando, correndo atrás, e que a vida tem sido dura no que se trata de trabalhar para garantir a sobrevivência do dia seguinte, seja morando nas asas do plano piloto, ou longe delas, para grande parte das pessoas. Ao final das contas, todos são privilegiados por ainda estarmos lutando por dias melhores, e isso é uma gota para um mar de agradecimentos.



elizpessoa

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Nas ruas


                                                      (Foto: Google Imagens)


Corria os olhos sobre os grafites das ruas. Fitava-os com a intensidade própria de quem não sabe descrever um fascínio. Praticamente nascera nas calçadas, praças, ruas estreitas e esquinas confusas. Com o tempo aprendera a tolerar o intolerável, tendo com mais presente a segunda opção. Criara-se por aí, feito bicho sem pedigree. Tinha alma de vira-lata.  Fedia longe, deixando rastro e odor de lixo não reciclável. Acostumara-se ao invisível, ao olhar desatento do outro, esse mesmo olhar amedrontado pelo aspecto de farrapo humano presente em sua imagem. De fato, nem ele mais se reconhecia diante das vidraças das lojas que refletiam sua desgraça. Há tempos esquecera a lembrança do que fora um dia. Era melhor assim, sem referência, sem dilacerações desnecessárias. A vida se bastava.

Gostava das ruas nas madrugadas silenciosas, obscenas, pervertidas, solitárias, onde os sentimentos são quase sempre tão confusos como ele. Tinha sede d'água e de vícios – muitos desses. Apaixonara-se pelo craque. Sabia que essa paixão, muitas vezes, não tinha volta. Mas gostava de riscos. Seu corpo era esquelético, seus olhos vazios, sua impressão do mundo deformara-se. Perdera os dentes e o juízo. Perdera essencialmente o medo de perder. Aprenderá a entrar no vazio de si mesmo, e nem isso resgatava algum sentido. Às vezes lembrava-se da mãe nunca conhecida e imagina seu rosto, sua fala... Ao pai, um eterno espaço há tempos desnecessário.

Quando a dor o acometia, ele endurecia o sentimento e chutava a primeira pedra, com pés descamados. Sonhava em melhorar e deixar essa realidade distante. Enxergaria no espelho, a face de um novo homem renascido dos escombros de si mesmo. Tinha pressa por esse dia, pois conhecia a velocidade das coisas. Tornara-se íntimo da condição apressada do tempo, e sabia que, talvez, somente um milagre o resgataria daquela condição de indigente, completamente indigesta.

Vez em quando pensava em Deus, principalmente ao ouvir os gritos dos crentes de um Deus único e, provavelmente surdo. Mas logo deixara essa ideia dos céus de lado, porque se esse cara fosse pai de todos, porque o trataria com tanta indiferença?

A única certeza que o cobria vinha da morte que a todos liberta. Essa senhora velha, amarga e pontual. Talvez depois, de açoitado por ela, fosse pedir uma palavra com Deus. Chegaria de fininho, sentaria na cadeira em frente à mesa do todo poderoso e diria que não mais queria entender os porquês que a vida levará. Deixava-os amordaçados em outros cativeiros. Queria pedir ao criador uma única coisa: queria dormir sem pesadelos.



elizpessoa

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Tráfego


                                                                         (Foto: Google Imagens)


De longe a cidade acende suas luzes amarelas ocultando pessoas. Qualquer movimento é uma libertação contrariando o congestionamento. Um, dois, três acidentes entopem as veias do caminho. Só de imaginar a temporada das chuvas e em como ficaria tudo isso aqui, já causa certo constrangimento inacabado.

A cidade dividida sobre o asfalto e nenhum indivíduo poupado. É tempo de reclamação e mato queimado, e o trabalhador resignado busca sentido em tudo isso, porque a vida em si não basta.

Aqui onde muitas atmosferas envolvem a palavra, um atalho desgastado, encurta distâncias, e aquela velha roupa colorida já não veste mais um pensamento. Pois o mundo gira sempre em sentido horário, embora a impressão latente nos diga bem o contrário.

As pessoas continuam cumprindo o papel do mesmo sempre, e isso em si não preenche as mesmas paridades.

O fluxo da existência é intenso e todos, sem exceção, procuram espaço nos ônibus, viadutos, calçadas e cidades. Procuram um pouco mais coração num mundo de praticidades. Penso em tudo isso com o envolvimento de quem assiste de fora, com aquela vontade de não entender direito, só para não pensar com a certeza de manter os dois pés ficados no chão endurecido, em tempos de engarrafamentos e de opiniões compartilhadas num estralar de dedos.



elizpessoa

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Tava pensando...

na hierarquia dos dias
no titubear das palavras
na fresta da janela
no vento gritando tenebroso sobre o espaço
na lida
na luta
na base escondendo as imperfeições no rosto da moça

Pensando nas pernas que trilham caminhos
na vigília constante do sono
no cansaço repetido dos dias
nos estudos em horas ensaiadas

Pensando nesta vida
na outra
no desatar dos nós
nos ouvidos
no ruído da comunicação truncada

Pensando na pressa
na falta
nos pelos dos gatos lambidos frequentemente
nos dias

Pensando no texto não redigido
na ideia defasada
no amor guardado
na pressa sobre a calmaria
nas viagens infindas pela vida
nos post e retratos

Pensando em arrumar o quarto
em doar aquelas roupas há muito guardadas
em rabiscar centelhas
em esquecer o prejuízo
depois de aperfeiçoar a caligrafia e escovar os dentes

Pensei em tudo isso num segundo derradeiro
depois deu fome de não pensar em nada



elizpessoa

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Porque viver tem dessas coisas






                                          (Foto: Peça de Teatro Morte e Vida Severina - Sala Funarte)


Estamos aqui tão breve e só de passagem. Outro dia me peguei refletindo sobre isso tudo, sobre a vida: minha, sua, nossa. E o que ficou aqui dentro foi à brevidade. Por que tudo é tão rápido e efêmero, porque todos gostariam de mais tempo para mostrar ao que viemos, gostaríamos de amar mais incondicionalmente, porque precisamos fazer valer a promessa feita em algum outro plano - isso para quem acredita nessas coisas. Enfim, não importa. Queríamos mais tempo e de fato, o presente é a única moral realista do existir.

A gente vive e se empresta, se permite, aprende e são tantas as lições inacabáveis. A gente reza por um mundo melhor quando assistimos as almas vitimadas pelas guerras, crianças inocente que mal tiverem tempo de aprender a falar e escrever. Guerras que não mensuram cor, credo, idade e tempo. Guerras onde a verdade é a primeira a deixar de existir.

Essas últimas semanas, por exemplo, tem sido assim. O mundo caótico, quebrado, chamando a atenção aos nossos olhos, despertando o nosso pensar que pesa sobre tudo isso. A Síria, o Egito, o Alemão, a Rocinha, Canta Galo, as periferias brasileiras - tão ricas e tão pobres em assistência. A dor das mães, pais e amigos de tanta gente que se perde na loucura de mãos poderosas e gananciosas.

Esse ser homem contraditório e infinito em possibilidades, se limitando perante a morte, que pertence, esta sim a todos nós. Porque todos, sem exceção, vamos viver essa experiência. Que é uma experiência essencialmente da VIDA.

Esta semana muito pesar sobre meus pensamentos. Certo olhar curioso e tímido sobre esse mundo a qual estou vivendo. E a vida, essa senhora cansada, sempre me diz alguma coisa, me pede muito, mas muita paciência. Em primeiro lugar comigo mesma, depois com o mundo que me cerca todos os dias. Paciência de viver em sociedade, de respeitar a vida, a morte, o tempo e o espaço dos outros. Paciência para não atrapalhar o caminho de quem precisa passar e de quem quer viver.

Esta semana, por tudo isso e muito mais, senti solidão e uma vontade de ficar quieta, de fazer diferente, de só perder mais tempo com o que de fato interessa. E o que interessa é a vida emprestada a cada um de nós: bichos, plantas, ar, gente. A vida perene, falha, rasa e completamente profunda. Esse nó na garganta, esse anseio de fazer desse tempo, um espaço melhor para mim, para todas as pessoas que amo, em especial, fazer diferente a todos as pessoas que eu não amo. Porque viver é imperativo e a vida é um presente.



elizpessoa

quarta-feira, 21 de agosto de 2013



Era para ser uma passagem entre um dia e outro. Ela bem que tentará não prestar atenção nos detalhes que a cercavam como a conversa trocada das mulheres no ônibus, como a grosseria do motorista sempre arrumando confusão com os passageiros, sendo doce apenas com a moça que o paquerava. Aliás, esta moça era a certeza de que o ônibus não havia passado mais cedo. Onde ela estivesse lá estava à outra moça confiante na volta para casa. Todo dia era assim, trânsito congestionado, fluxo intenso, Brasília vista ao longe.

A correria da semana exigia de cada um, um pouco mais de paciência, muito mais de empatia e exercício. Nunca fora fácil viver em sociedade, respeitar as diferenças que pesavam pra mais e menos. Mas de certo modo, dava para entender os porquês de o criador ter nos dado a chance de voltarmos pra cá. A escolha de aqui estarmos era a maior dádiva de todas. Dentro dessa grandiosidade cabiam, além da gravidade, outros pesos do existir. Ficaria mais fácil de aceitássemos que o mundo se entorta em reticências, se dobra em malícias, se enche de gente indo e vindo constantemente.

O mundo, este que pisamos, também vinha cheio de fadigas, estafas, vontade de não fazer nada nas próximas horas latentes. Mas num tempo onde correr é imperativo, seguir freneticamente tem sido regra imposta por uma ditadura consumista. Corra, trabalhe, estude, lute, vingue, prossiga, grite, compre, coma, ganhe, lucre, tenha, seja, sociabilize-se e não tente fugir do esquema.

Ela só queria não parar de tentar. Tinha dias que esse não parar, não era nada fácil – negócio escuso, impertinente. Tentar de novo, colocar a cabeça para erguer o corpo, para injetar ânimo na alma. Escrever pra dar sentindo, ainda que as palavras se resumissem no olhar crônico da mesmice. Todo dia santo e todo santo dia.

Ela, uma moça naquele dia exausta, perdera o brilho no olhar. Aquele brilho tão necessário para o gosto na vida. Aquele mesmo brilho que faz de uma simples imagem, um turbilhão de sentimentos felizes. Só num dia desses qualquer por aí.



elizpessoa
Eu escrevi uma coisa, dessas corriqueiras, sem importância. Escrevo sempre assim, e o mesmo de desvencilha de mim.

Outro dia, buscando paciência em meio ao barulho, encontrei um silêncio tão grande, que tudo: o tempo, o mundo e os outros – todos eles esbarraram-se no vazio.

 A gente escreve para não morrer mais um pouco, jogamos palavras soltas por aí - absurdos de nós. Depois cala, para, pensa, lê novamente e acha tudo uma grande besteira, desabafos desnecessários.

A gente pensa que se acostuma com si mesmo, mas não é verdade, nunca nos acostumamos com eterno em nós.

Descrevemo-nos, nos contamos como diferentes, experimentamos novos atalhos, nos perdemos em meio a multidões, pensamos que nos inventamos sozinhos, mas nada e nem ninguém é absoluto, singular e onipotente.

A gente (da verdade) é simples, frágil do jeito que Deus nos fez, tal qual sua imagem e semelhança. Tal qual sua palavra indeferia por aí. Depois não somos mais nada, apenas uma lembrança registrada na memória de alguém.



elizpessoa

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Até chegar a Primavera


                                                                      (Foto: Google Imagem)



Outro dia briguei por conta do pedreiro Amarildo. Ando fazendo isso com certa frequência e uma sobrecarga de indignação. Sentimento este que não ajuda a resolver absolutamente nada. É tanto descaço, tanta opressão e um interesse cada vez maior em defender apenas o próprio umbigo, como se fossemos algo singular apenas, como se não tivéssemos nada haver com os fatos. Como se não estivéssemos inseridos num sistema confuso e doente.

Não é só o Amarildo que sumiu depois de averiguação numa UPP dentro de uma comunidade que chamavam de pacificada, são outros favelados, periféricos que somem todo santo dia sem deixar vestígios. Tantas mães que perdem seus filhos para o tráfico, os perdem nas mãos da polícia fatalmente corrompida. Perdem a saúde em corredores de hospitais sem remédio, e sem alma. Perdem seus filhos em escolas que tentam seguir educando no escuro, educando na indiferença do Estado analfabeto de direito.
Sofro, e acho isso completamente imbecil, até porque o máximo que posso extrair é tristeza, sentimento de revolta e silêncio. Mas novamente, não resolve.

Como espírita, acredito que o caminho da humanidade está no progresso, ainda que não vejamos tão claramente, ainda que pareça que nossos passos estejam trêmulos e inábeis.
Como pessoa me cabe a fé no futuro pretérito de tempos melhores, ainda que não esteja mais aqui, sendo este me maior exercício: esperar novas Primaveras



elizpessoa

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cavalcante – GO, 3 de agosto de 2013


                                                                                (Foto: Eliz Pessoa)



Cavalcante é um lugar sossegado demais da conta. Cidade pequena, pacata, cor e ares de cidade fantasma. Ao seu redor, toda a beleza das chapadas, montanhas rochosas e exuberantes, natureza exacerbada. Ah o olhar! Este não é poupado um só minuto: leste, oeste, norte e sul e nenhum cansaço à vista. Segundas, domingos sem diferenças.

Cachoeiras de Oxum, terreno argiloso, poesia latente. Apenas almas, elas sim parecem existir por ali nas manhãs e madrugadas.

Aos mais desavisados músicas ouvidas ao longe, sons que se misturam com as latidas respondidas dos cachorros, ou ainda pela sinfonia dos galos. Cidade labirinto, sentidos exaltados. Ali é possível desfrutar qualquer viagem com os cinco sentidos.

Gente brejeira de fala mansa, ruas atravessados por galos, deitadas por cachorros, céus enfeitados por pássaros.

Cavalcante das escondidas cachoeiras de águas geladas. Flor do Cerrado, mina d’ouro, terra de negros calungas e noites de estrelas multiplicadas.

Por ali tudo é sossego, sonha-se sossego das casas simples, sossego de solidão acompanhada.

Cavalcante das notas dispersas no ar, de ouvidos aguçando sentidos.
Cavalcante, seu silêncio é uma Folia de Reis, numa canção sem rainhas.
Cidades do esquecimento, e do encontro de você consigo mesmo.

Por ali, viver é sempre uma linda sinfonia lembrada por quem esteve de passagem.



elizpessoa

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Só nessa semana


                                                                         (Imagem fonte: Google Imagens)


Tanta coisa acontecendo rapidamente soa até contraditório, tendo em vista que algumas delas permanecem no mesmo lugar. A palavra silenciada por uns dias, a agilidade da vida apressada de quem trabalha e estuda, de quem corre atrás de alguma coisa, ainda que essa coisa se resuma a simples sobrevivência.

No dia do aniversário de alguém, dá-se a morte de outras pessoas. Perdemos Dominguinhos, um mestre da música, e acima de tudo da simpatia e simplicidade. No mesmo dia, nasce o príncipe inglês, morre a moça atacado pelo tubarão em Boa Viagem, assim como a gata de estimação de um amigo. Nascimento e morte, início e fim. Nessa mesma semana o Papa Francisco, o argentino, pisou em solo brasileiro, dando motivo para a mídia desfocar à vista da grande maioria para os problemas reais do Brasil. A Igreja Católica mostrou que, apesar dos escândalos e das ideias defasadas, ainda tem muita força por aqui.

Enquanto Francisco cumpria seu papel de Papa, muitas manifestações ainda ganhavam força pelo país. Em especial, na cidade das mil maravilhas, a polícia pôs à prova (novamente) seu poder que, acima de tudo, abusa de nossa cidadania. Bateu, feriu, infiltrou-se em meio aos manifestantes, fingiu que não viu... Viu! Tentou disfarçar, mas não conseguiu. Porque sempre há alguém que não se acostumou a assistir televisão. Alguém fotografando, filmando a vida que passa lá fora. Em meio à guerra imposta pelos policiais no Rio, Amarildo desapareceu após ter sido detido pela polícia que o confundiu com o traficante e o levou para averiguação. Sumiu sem deixar rastros, sem contar sua história. Quem foi Amarildo? Pai de quatro filhos, pedreiro, morador da favela, negro, pobre, e acima de tudo, brasileiro. Porque vendaram nosso olhar? Porque tantos outros preferem acreditar no jornal da noite?

Essa semana foi turbilhão dentro da gente. Trabalhamos como formigas incansáveis, celebramos acima de tudo à vida, porque a morte não se dá sem ela. Porque para todo início de frase, sempre cabe um ponto final que silencia o pensamento.

Essa semana fez muito frio, nevou em cem cidades do Brasil, paisagem europeia em solo brasileiro. Foi tudo tão rápido e tão traiçoeiro que o coração do sujeito sem jeito, pediu aconchego, recolhimento e orientação. Coube uma prece, porque viver só, não dá sentido à vida. E cabe tanto entendimento sobre as últimas notícias.

Essa semana, certa solidão foi solicita em meio aos acontecimentos. A vida parecia correr rapidamente entre os dedos das mãos. E essa filosofia tamanha ao olhar o mais rosa Ipê da estação seca. E ele, a maior de todas as poesias de uma vida acelerada.

O Ipê foi o silêncio necessário para um par de olhos que não se cansa de observá-los.
Só nessa semana...



elizpessoa

sexta-feira, 28 de junho de 2013

1968 O ano que não terminou x 2013 O ano que só começou


                                                                                         (Foto: Macha dos 100 mil, 26 de julho de 1968)


Estou lendo o livro “1968 O ano que não terminou” do Jornalista Zuenir Ventura. É incrível perceber que alguns procedimentos, apesar dos 45 anos transcorridos de lá pra cá, não mudaram muito. A maneira pela qual o Estado trata manifestantes, as consequências das ações cometida dos policiais e o revide do povo. A diferença, se é que podemos dizer assim, estão no sistema de governo aplicado a esses dois tempos. Lá, a Ditadura reinava e a luta dos estudantes e tantas outras classes brasileiras, vinha em prol de um Estado Democrático de Direito - naquele período distante demais da realidade.

A luta daqueles jovens e velhos foi para chegarmos aonde chegamos. Agora aqui, em pleno exercício de 2013, as vésperas de recebermos nosso segundo mundial de futebol e já batendo às portas de novas eleições, nos encontramos exercendo nossa cidadania. Saímos às ruas em prol de muitas, multiplicadas manifestações por, não somente melhores condições de saúde, educação, segurança, etc e tal, mas principalmente pedimos por uma nova moral no trato com o dinheiro público, nova moral no comportamento geral. Pedimos, acima de tudo, para sermos respeitados, tratados como os contribuintes da máquina pública já sucatada por tanta superexplorações por parte daqueles que deveriam cuidar de nossos porquinhos de maneira democrática e jamais individualista.

Em 68, pelo que li, a juventude tinha um ingrediente diferenciado do nosso. Naquele tempo os jovens eram completamente antenados em leituras e a política envolvia praticamente tudo: o sexo, o amor, as relações, as ações, as cabeças, muitas dessas. Agora, me parece que estamos percebendo a delícia que exercer o poder. Não procuramos mais com tanto gosto as leituras, mas caímos com tanta sede nas redes sociais, que nosso compartilhamento leva muitas ideias para novos manifestos.

A polícia continua de certo modo agindo com a mesma petulância e covardia que em 68, os governantes continuam inventando as mesmas desculpas antidemocráticas para justificarem ações extremistas, e a mídia que deveria informar imparcialmente os fatos, está tão vendida ao Diabo, que fica difícil acreditar nela. Sinto pena em ver, por exemplo, nossos pais conectados ao televisor, escutando notícias distorcidas, tomando-as com verdades cruciais e levando a vida simplesmente. Se alguma mudança boa nos acometer, ela chegará para todos, aos que brigaram nas ruas tomando porrada de policiais, até os que ficaram em casa resmungando da “baderna” e do “vandalismo” das televisão, eu diria.

Ainda estou no livro, lambendo ele com os olhos, sentindo cada provocação, imaginando cada instante histórico daquele momento, mas também estou aqui, discutindo, questionando, ponderando, aliterando muitas questões pra ver se assim, pinto um sentindo pleno nessa vidinha nossa de todo dia.

Abaixa a Ditadura o Povo no Poder!!!



elizpessoa

terça-feira, 25 de junho de 2013

Ainda tratam a gente com abuso e poder.

Autoridade desmedia e jamais respeitada.

Que povo é esse que grita por um canto novo?

Que povo é esse que é meu, seu, que não é nada?

Brasil seu tempo é presente, na curva estreita de uma estrada fechada.

Tão rápido nossos olhos assistem apreensivos.

Corações ardidos, sentimentos confusos, análise sintática das coisas gastas.

Pra onde corremos com tanta precisão?

Assisto no susto, um salto sobre a imperfeição cravada no homem, no texto, na carne.

Acordamos numa manhã desperta, atenta pra fora. Saiamos às ruas, deixamos a casa.

E agora, é proibido proibir tanta vontade!


elizpessoa

Proibido Zona de Conforto!



Saímos de nossa zona de conforto. É certo que um conforto um tanto quanto desconfortável. E o exemplo vem dos serviços básicos e blá, blá, blá. Se há uma culpa, esta não cabe somente ao Governo em questão, é algo que se repete de eleição a eleição. Mas com tanta constância nessa rotina letárgica do sistema corrosivo/corrompível, o cidadão foi se cansando, ao ponto de não mais aguentar esse relacionamento entre governantes e governados. Em meio ao caos, o trabalhador foi se deteriorando, vendo sua mão-de-obra cada vez mais calejada e seus sonhos apagados. Quase doente e tomando a mesma medicação de anos, pensou que o problema poderia ser solucionado com a mudança de remédio. Resolveu tomar uma dose alta de atitude, e o ânimo adormecido nos últimos tempos, revigorou-se num grito claro de esperança. Pouco a pouco uma espécie de epidemia, foi tomando conta de outras pessoas – paciente do Estado. Foi quando uma impaciência generalizada tomou contas das ruas, discursos, ações e conversas fiadas. E o assunto agora tratado, assustou os governantes, que sem jeito, perderam a compostura e a fala, buscando soluções indissolúveis para acalmar o problema – agora denominado: animo popular.

O povo inflamado experimentou um gosto de autoestima, peito erguido, palavras firmes, cartazes motivados, multidões, rebeliões e muita vontade em modificar trajetórias, construir novos dias. Quem sabe até, voltar a sonhar com o futuro brilhante. Contribuir com seu legado, caminhos melhores. E neste estado de não se sentir pequeno, um GIGANTE como dizem por aí, formou-se do singular ao plural, do indivíduo ao coletivo. Uma voz, entoado ao longe, que de tanto gritar, fomos ouvidos. Não pelo o Estado, nem pela mídia. Ouvidos por nós mesmos nos convocamos para exercermos o poder que emanamos quando não aguentamos mais nos enxergarmos no espelho do mesmo jeito.

Eis o tempo de inquieta(ações) pulverizadas.



elizpessoa 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

“Um passo à frente e você já não está mais no mesmo lugar.”


                                                                         (Imagem Google)


Em meio ao turbilhão de acontecimentos que se deram nas últimas semanas no Brasil, uma pergunta me veio à cabeça: para onde estamos caminhando? Acredito que não dá, de fato, para mensurar o destino. O que cabe é essa mudança de atitude de quase um continente inteiro - revolução virtual. Tem sido fácil sentar para almoçar num restaurante qualquer e escutar pessoas conversando sobre o assunto, expondo seu ponto de vista. Um ar de cidadania tem tomado força nos ventos das cidades. É como se de uma hora a outra, assumíssemos nosso papel de indivíduos políticos que somos. Passamos muito tempo de nossas vidas, negando esse exercício, nos escondendo por trás de desculpas, do tipo: Política era coisa para político. Agora, cá estamos todos nós, questionando pec’s, leis, resoluções, etc. Assistimos atentos ao pronunciamento da Presidenta do país, um tanto desconfiados, tentando descobrir em seu olhar algum argumento honesto, em seu discurso alguma firmeza, ou quem sabe, uma sinceridade implícita. E neste aspecto cada um enxerga como quiser.

O fato é que o país fez História em meio ao nó na garganta de muitos de nós, alguns vândalos oportunistas aproveitaram para saquear lojas, roubar, quebrar e se expressarem de sua maneira. E por mais que a gente não concorde, não aceite, temos também a consciência de que cada um tem temperamento diferenciado. De fato essas pessoas não representam a grande maioria, mas não deixam de incorporar à ira que também esteve em cada um de nós de alguma forma.

Agora é o momento de respirarmos fundo, de ficarmos atentos, vigiando para que não façam do manifesto do povo uma arma contra o próprio povo. Atentos às mudanças da mídia no tratamento do assunto. Atentos para não nos tornarmos boi de boiada. Cuidando para que partidos não tomem partido, bandeiras não sejam levantadas em vão, porque nossa causa só carrega a maior delas, a bandeira do Brasil.

“Um passo à frente e você já não está mais no mesmo lugar.”

elizpessoa

*Chico Science e Não Zumbi

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Gente



                                                                              (Fonte: Google Imagens)


A gente segue tentando, gritando, silenciando, pedindo com educação, pedindo sem ela.

A gente acorda cedo quase todo dia e isso não mata ninguém depois dos trinta.

A gente é meio indisciplinada, bem organizado por fora para escondermos a desorganização de dentro.

A gente critica, reclama e cala. Depois se orgulho de uma semana inteira.

A gente pega ônibus e se espreme, suja as mãos para se segurar um instantinho. Desce e sobe ladeira, cumprimenta a manhã, a chapada vista ao longe todos os dias, os cachorros que se multiplicam feridos nas ruas da cidade. A gente segue sozinha e amontoado e sem perceber, a gente envelhece, padece um tiquinho só para pensar que viveu um instante. Depois a gente cresce, amadurece e morre. Antes disso, é a gente na gente, assim bem pertinho de toda essa mocidade.



elizpessoa

terça-feira, 18 de junho de 2013

17 de junho de 2013, segunda-feira - Um dia para se fazer História


                                                                 Foto (Imagem Google Imagens)


O Brasil parou. Parou porque não aguentava mais ser tratado com descuido e intolerância. Parou porque dói quando nos vemos acuados, roubados e acima de tudo desperdiçando nosso trabalho árduo, nosso dinheiro suado, nossa saúde adoecida e nossa educação desrespeitada. Parou por que nossa força também cansa e nossa esperança também padece na rotina dos dias. Força que emana do povo para o POVO, e foi isso que se deu nas ruas de São Paulo, espalhando atitudes inflamadas nos territórios do Brasil. SP movimentou-se para exercer cidadania: reclamando, protestando e reivindicando.

Não foi somente pelos R$ 0,20 a mais nas passagens de ônibus, mas em princípio, fez-se deste o primeiro motivo. O Estado, inábil quando o assunto é cidadania, com sua força opressora, resolveu mandar seu recado, desconhecendo os reflexos de sua má atuação, má educação e muito má percepção de seu povo. Recado este que só encontrou expressão por meio da violência física e moral, utilizando-se de bombas de efeito “amoral”, cassetetes, balas e outras impertinências. Estado este que se fez veneno na carne do povo. Estado fantasiado de Democracia.

Mas os recursos tecnológicos são outros. Não encontra aqui os esconderijos da Ditadura de 1964, pois não mais utilizamos como armas, palavras e imagens advindas da imprensa. Somos nós sujeitos e predicados da notícia. Munidos da câmeras/celulares/ internet, denunciamos ao mundo, o mundo que nos cerca em nós. Saímos às ruas e escancaramos o abuso do poder e da imagem. Gritamos aos quatro cantos, a insatisfação de uma cidade, de um cidadão e da multiplicação de cidadanias.

SP parou e se fez ouvir. Parou e incomodou muita gente.

As redes sociais alastradas por curtidas, compartilhamentos, mensagens de todos os cantos, serviram de termômetro às denúncias de anônimos. O que vimos foi o país em chamas. Fingindo ser o que se sente. O que sentimos foi à dor de ver tanta gente machucada. Um desejo de revanche, que logo se transformara em vontade consciente. Dentro de cada um que sentiu, cabia uma centelha dessa dor, um amargo...

Respiramos ares de censura. Ditadura institucionalizada, aplaudida por muita gente. Gente com acesso a informação, a educação, mas sem a mínima vontade de apurar os fatos. Aplausos a ação policial, obediente ao Estado. Gente que encheu e boca para chamar os manifestantes de: baderneiros, vândalos, vagabundos e irresponsáveis. Gente que não larga o conforto de sua casa, e só aprende a reclamar nas filas da existência.
Ninguém sai às ruas simplesmente por que gosta de enfrentar a polícia ou o bandido. Ninguém se arrisca se não estiver completamente incomodado. Ninguém sai da zona de conforto senão aguenta mais a inércia.

Então, é fácil falar, quando você só faz isso. Difícil é rever os fatos, transpor preconceitos, se informar melhor sobre o que acontece fora do território do seu umbigo enfeitado. É triste ver gente comum ser tratado como marginal, escutar aplausos em tudo isso!

No princípio era apenas um protesto por R$ 0,20, que poderia ter morrido ali. Mas o copo estava cheio e derramado. Agora, tudo é motivo para contestações, e o mundo assiste atônito a nossa revolução. Imagens que só víamos de fora pra dentro, e não o contrário.

A minha última lembrança do povo tomando a rampa do Congresso, se deu nas Diretas Já, e agora.

Que Brasil teremos após tais fatos?
Quantas mudanças ainda precisam ser feitas, pra que não tenhamos o futebol como algo muito mais importante?

Um país que tenha na dignidade de seu povo, sua maior riqueza.
Um Brasil que consigamos conquistar com braços fortes?



elizpessoa