segunda-feira, 13 de dezembro de 2010



Foto de Nádia Maria

Tenho fome.
Fome de idéias, das coisas lá fora.
Tenho fome correndo por dentro e por fora.
Fome que não sacia.
Fome de tudo.

Tenho fome da vida.
Fome de pluralidade.
Do barulho incansável de outras cidades.
E do silêncio absurdo dos interiores.

Fome de multidões na vastidão solidificadas em todos nós.
Fome de solidão.
Fome de nada.

Tenho fome das coisas fugidias.
Fome de permanências.
Fome esfomeada.

Fome do ato,
Fome, apenas.

Tenho fome de entendimento, do protesto, da ação exata, da indignação latente.
Fome de tempo.

Tenho fome, muita fome de idéias perigosas.

eliz pessoa

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010



"Devagar... o tempo transforma tudo em tempo.
O ódio transforma-se em tempo.
O amor transforma-se em tempo.
A dor transforma-se em tempo.
Os assuntos que julgamos mais profundos, mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, transformam-se devagar em tempo.

Mas por si só, o tempo não é nada.
A idade não é nada.
A eternidade não existe."

Luis Peixoto

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Essa coisa dentro da gente insistente, contínua, por vezes alegre, noutras tristeza e infinito.

Essa plenitude do existir, um vazio musical e um mistério tão profundo diante às coisas, os fatos, a vazão do dia seguinte, o absurdo-surdo nas pessoas. Pedimos para estar aqui? E porque não temos consciência da solicitação?

Viver.

É preciso lucidez para a vida, mas também é mais que necessários abismos, profunda invasão dentro d’alma da gente.

É preciso uma lágrima experimentada, um abraço apertado, depois é necessário vastidão.

O que será dentro da gente?

eliz

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Itermitências


(Foto de Bernardo Soares)

Escrever sobre a morte não é uma tarefa simplista, ainda mais quando ela resolve trazer a notícia na madrugada. Em resumo, mal dormi direito e quando acordei a sensação estranha de perder alguém, mesmo quando não temos tanta proximidade assim, nos deixa anestesiada e com uma interrogação irremediável na cabeça: Porque morremos?

Ironicamente quando soube da notícia estava lendo “A Menina que Roubava Livros” e este livro é narrado pela morte. Ela é quem conta toda a história para o leitor, como se de fato, fosse íntima de nós. E não o seria? Embora tenhamos a certeza dela cruzando os nossos caminhos, quando ele passa perto da gente, traz consigo significâncias existenciais e outras tantas perguntas. O que de fato é essencial em nossa existência? Quem de fato faz parte dessa importância? Como desejamos sermos lembrados pelos próximos? Que legado deixaremos ao mundo? E a nós mesmos?

Viver é a extrema oportunidade de se lançar as novas experiências, de permitir-se ao mundo. Nem sempre é fácil, pois muitas vezes nos atolamos em tantas bobagens, nos prendemos em coisas pequenas e esquecemos-nos de estarmos aqui, na plenitude integral de nós mesmos. Morrer é uma outra oportunidade que a vida nos dá, de realizarmos o mistério. E mistério é silêncio, não se conta por nada, apenas é.

Não sei o que é morrer (ainda) mais sei que a hora de todos faz parte da continuidade exata da natureza, da Roda de Samsara, da dança de opostos, do caminho de um plano maior no qual não somos os únicos coadjuvantes.

Morrer nos dá a dimensão da simplicidade e do quanto a arrogância e prepotência é nossa maior covardia diante de nós mesmos. A morte deveria de fato ser nossa eterna companheira, o lado B da existência, mas uma grande mestra da vida.
A maior das intermitências.

Morremos porque vivemos um dia.

eliz pessoa

sábado, 4 de dezembro de 2010

Nem sempre


(Foto: Álvaro Dias)

Linhas e marcas, detalhes não resumidos apenas no físico, formas do tempo no tempo da gente e outras possibilidades para além do que não vemos. Buscamos nos contar, até quando nos escondemos em nós. Tudo é expressão, vontade, vida dilacerada, necessidade humana de dizer ao mundo ao que viemos, ainda que não saibamos compreender nossos porquês Ainda quando há silêncio e hiatos nas curvas da alma, nos revelamos no absurdo da gente.

Não escapamos da sina, historiada por nós.

Como livros passageiros, experimentamos nossas vidas, reformulando sensações, arriscamos o controle sobre o incontrolável, desmistificamos o ato seguinte, quando concordamos que não somos os donos da razão, como supúnhamos um dia.
Viver para muitos, não passa de sobrevivência, e tem gente que nem assim perde o tesão pela coisa, e nem sempre dá para ser a diferença em meio a tantas desigualdades, mas agindo, movemos o mundo, ainda que pelo estreito renovado das coisas.

O resto é atropelo.

eliz pessoa

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sexta e ela



(Foto: Pedro Cruz)


Termina o dia, a semana, é sexta-feira. Ela desce, pega uns trocados largados na gaveta e resolve comprar uma lata de cerveja para servir de companhia. Nos labirintos da internet, interatividade, música, download e outras possibilidades.
E há tanta vida lá fora, pelos atalhos da cidade e ela ali, fazendo do virtual, a essência para a hora gasta.

Agora ela já não tem mais pressa para escrever e segue redigindo sua relação com o nascimento da escrita. Estranhamente, sentindo necessária solidão para provocar um pensamento, outra idéia e assim, juntar cada vontade incubada nas coisas.

Graduamente ela se descobria diferente na mesma forma do todo sempre. Buscas, leituras, observações do outro lá fora, do modo como as pessoas se relacionavam com elas mesmas.

Em seu pensamento, um samba poderia acontecer num lugar de gente feliz, um brinde, outros encontros, alguns atropelos, continuações do cotidiano das pessoas.

Viu fotos postadas pelos amigos, discerniu o que a agradava e outros contrários, escreveu para algumas pessoas, esqueceu de outras tantas.
Era preciso não permanecer nas coisas, porque outras metamorfoses eram necessárias pra todos os lados. Ela buscava mudança na tentativa de pequenas ações solidárias.

Ela, em plena sexta-feira de Oxalá, do branco, das gentes, de todos os santos.

Num minuto, o mundo cercados de todos possíveis segundos, cabíveis dentro de todos nós.

eliz pessoa