quinta-feira, 26 de julho de 2007

foto: eliz pessoa


De repente Maria amava Pedro, mas ele gostava muito de Ana, que só pensava em Paulo, que tinha idéia fixa em Rita, que se irritava com isso. Ela sonhava com Chico que desejava Maria (àquela que amava Pedro, que não tava nem aí pro resto do conto).

Então Lucas amava Carolina, que namorava outra moça, que por sua vez, sonhava em ir embora pro Rio, onde morava Joaquim que não amava, pois havia desistido dos tais laços para não doer em mais ninguém.

Em meio há tantos desencontros, lá vinha Vinícius, cheio de prosa e poesia, dizendo que “a vida é a arte do encontro, embora haja muitos desencontros pela vida.”
Não é que o cara tinha mesmo razão!

Acho mesmo muito comum a “arte do desencontro”, ta nas ruas, nas histórias dos outros, nas nossas, nas prateleiras de livros, por aí, solta. E o que é mais interessante, nos pontos de encontro da cidade.

Talvez o desencontro quando desencanta, transforme-se em encontro e quando isso se realiza em nós, deve ser “coisa feita”, “mandinga caprichosa” da tal felicidade.
É, àquela que (dizem) encontrarmos em momentos de descuido.

Quem sabe uma pintada de descuido não faça mal a ninguém...


:: eliz ::

terça-feira, 17 de julho de 2007

Vasculhando livros sobre a estante, no instante de intervalo da condução, altura da doze, setecentos da asa que aponta ao norte, encontrei-a arriscando “Laços de Família”. Clarisse Lispector despertando-me atalhos e memórias. Presente e Marlegrias. Homenageando-a, levei-o comigo.

De repente nenhum funcionário ou responsável para validar o empréstimo do exemplar. Nem câmeras de lago algum registrando a ação, nem olhares de censura. Nada. Apenas o gesto da própria consciência arbitrando livremente, e a sugestão no papel de pegar um livro por vez, freando o impulso seduzido por vários títulos de temas distintos.

Com Clarisse em punhos, segui o caminho. De “cuca” fresca, pairando sobre a ela, a idéia libertadora de um ponto de ônibus cercado de prateleiras amontoadas de livros e uma prancheta sobre a mesa exigindo de mim apenas o nome, título da obra preterida e endereço eletrônico, nada mais.

Livros que passam dias e noites, madrugadas e manhãs, aguardando algum anseio curioso de leitor sobre eles. Biblioteca bisbilhotando ares de ruas, dando graça e cultura a paisagem da avenida W3.

Gestos de Brasília, verbos daqui, hemorragia das palavras, verborragias em mim.

Enquanto Clarisse clareava expectativas:

“O que era vagaroso, desdobrado, vasto.”

“Intenso como uma jóia. Ela.”



(*) Marlota... um atalho de lembranças tuas.

eliz pessoa

quarta-feira, 11 de julho de 2007

"SAUDADE ENGOLE A GENTE"

terça-feira, 10 de julho de 2007

Sobre o asfalto ressecado, dividindo os dois eixos que traçam as retas da cidade, os passos contabilizam pensamentos.

Alguns coqueiros definindo o meio do caminho e do outro lado, a ambulância anuncia passagem, quebrando detalhes de cá.

Na altura dos pardais a velocidade de carros pardos não ameniza a passagem de uns loucos “pés-destros”. Barulhos de segunda-feiras, enquanto a tecnologia sms insiste em alertar-me que alguém preocupasse comigo: pré o cu pa cão desocupada.

Devagar se vai ao longe divagando.
Devagar se vai...

As avenidas aquietam sons de cidade, o bar aprontasse para abrir e o álcool – ópio do trabalhador trabalha as intempéries da alma, temperando a lida, tendo como trilha sonora, nuance de som de grilo. Notas que sobem e descem com as horas da estação que se finda.

Sem que se perceba um Opala, símbolo de potência e velocidade, recorta nervos da memória de infância.

Eu também tenho mais de vinte anos.
30 mil desculpas,
30 mil acertos,
30 mil repetições,
30 mil idéias,
30 miúdos mudos aqui.

Mas o que é o ser pra que pensa se os homens à beira da rua, apenas embaralham cartas, sentados em caixas de laranjas já consumidas, perto da outra Asa que aponta o norte? “Justiça de todos”. Poder de julgar minorias, dissociando homens, produzindo livros e lixo, retalhos de nós.

Humaniz a r t e, humaniza a gente.

Pretérito imperfeito superando o absoluto imperado sobre nós – nó do mundo, metendo olhares em tudo que passa.

Segunda-feira...

Sinto ninhos de g e n t i l e z a s aqui.
Sintoniza g e n t i l e z a s em nós.


:: eliz ::

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Quando ecoa uma voz nas ondas sonoras de uma virtualidade impalpável, algo aqui se inquieta diante do dia corrido, como os detalhes transcorridos na passarela de algumas ruas.

Tão ligeiro e devastador são os ponteiros do relógio contra todos nós.

A vida pede passagem e passa com ela.

Outro dia, sujeitos “mulambentos” lambendo asfaltos aquecidos pelos raios de uma manhã comum, semáforos sinalizam inércia. A praça, símbolo do índio morto em meados de sua data, enquanto jornais exibem crimes com desculpas que esfarrapam domésticas, que bem poderiam ser “putas” nos pontos de ônibus do Leblon, ou mendigos que “amenizem” os fatos escarrados na língua – álibes de alguns.

Muitas questões, envolta à tudo isso..

No ato, coisas derradeiras como às folhas do jornal de ontem, servindo de cama para o homem de hoje. Os passos não amenizam muitas coisas, quando os olhos vagam pela cidade, afoitos por outras realidades.

Mas a músicas insiste em tocar e dar ar, a graça dos ouvidos, em meio ao trampo, por entre pensamentos que passeiam pelas cortinas de nossa consciência.

E aqui dentro, plantas crescem afoitas por luz, assim como os fios do couro cabeludo, como o calor após o frio, sobre a extremidade da pele, como as idéias de um texto alheios a outras verdades, vorazes como a fome corroendo o estômago de um faminto.

Insaciados seguem, na sede de uma ação nova, na folhas viradas de um próximo capítulo do livro relido, nas imagens de uma exposição fotografadas por outra vertente - apurada sensação. Pelas várias possibilidades de um artista, na arte de viver cada dia, como a única verdade plausível, presente.



:: eliz ::

terça-feira, 3 de julho de 2007

Ou, girassóis girando sobre a vista na Lua do último domingo,
neste horizonte da mesma cidade rasa.
Beijando a força que há nas fêmeas de ciclos infindos.
Nas muitas páginas de nossa existência.

Seriam possíveis novas cores sobre a mesma paisagem cansada do mesmo olhar?

...

eliz