quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Kiss From a Rose


                                                                  (Vídeo: Youtube)

Dois sujeitos e um predicado encontram-se no meio da rua e sintonizam nas ondas da rádio da imaginação. Movimentam a música estralando os dedos. Brincam com as vozes resgatando memórias musicais através da rádio mais ouvida nos consultórios médicos das cidades. Idades perdidas...

Três sujeitos cantam em Inglês, desafiam os ouvidos não adestrados. A canção Kiss from a rose:

Baby,
I compare you to a kiss from a rose on the grey.
Ooh,
The more I get of you,
Stranger it feels, yeah.
And now that your rose is in bloom.
A light hits the gloom on the grey.

Com renovadas imperfeições, arriscam mais alegria e novos timbres. Fazem caras e bocas numa única e esquecida canção. Cantores no pretérito perfeito da palavra.

Três sujeitos, um predicado e um artigo definido feminino.

Quantas sensações cabem num único sentido?

Quantas memórias vestem uma canção?
Quantos sentimentos encolhidos são acolhidos naquela estação?
Quantas antenas têm o mundo? E esse mundo guardando na gente?

Três sujeitos. Um sem jeito no meio da rua sintonizam numa Antena, daquelas do tipo 1.


elizpessoa

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Sobre Girassóis



                                                                     (Fonte: Google Imagens)



Havia uma roseira em meio ao caminho.
Flores vermelhas, vibrantes, espinhos e outras alucinações.

Havia um jardim inteiro em sua beleza. Nele: bromélias, rosas, orquídeas, lírios, violetas e outras aliterações. Além da rosa, o girassol – sua flor preferida, pela alegria que transmitia e pela poesia de seu movimento, sempre em busca da luz.

Havia em tudo isso um silêncio sereno.
Havia também uma hipérbole naquela poesia, um detalhe:
flores em todo o caminho.

Havia um pensamento e uma quietude profunda.
Uma rosa para sua poesia,
E todo o sentimento do mundo para um dia de girassóis.


elizpessoa 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Manhas de Sexta



                                                                    (Fonte: Google Imagens)


Amanheceu na ressaca, cabeça pesada, corpo preguiçoso, vontade de multiplicar os cinco minutos em outros tantos. Travesseiro na cara, cabelo arrepiado, preguiça enfadada.

Contrariando, o dia acordou cheio de vontade, sol rachando lá fora, céu azul, manhã fresquinha como as que cabem bem melhor numa sexta-feira.

Não teve jeito. Banho frio, cabelo lavado, olhos acordados pela água, um gole de café para acelerar o processo, um aperto no Trigo, uma magrela pendurada na parede, outra magrela pronta para pedalar. Pernas para que te quero!

Vento na cara, pressa, carros, calçadas sujas, flamboyant avermelhados, uma gota de coragem e outra de sentimento, cidade de céu aberto, imensidão do mar que cabe em cima da cabeça. Saiu cantarolando: “se eu quiser fumar, eu fumo, se que quiser beber, eu bebo, pago tudo que eu consumo com o suor do meu emprego...”.


elizpessoa

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Sinal Vermelho



                                                              (Foto: Google Imagens)

 

Colocou o som no ouvido e desligou-se do mundo ao seu redor. Olhar desatento sobre alguns substantivos e um desejo por um único instante me ter óculos escuros na cara. Assim caberia um mundo sem vergonha para se espiar, sem que percebessem por onde seus olhos corriam. 

Era hora do almoço de uma quarta-feira qualquer e a última quarta daquele dia em toda a sua vida. O evento brincava com os cachos de sua cabeleira colorida de castanho, enquanto longos instantes a separavam da outra margem da avenida. No meio de tudo, o semáforo vermelho. Cabiam tantos pensamentos naquela cabeça oca e espaços para muitos silêncios  Entre hiatos e trocadilhos, suas costas reclamavam de seu péssimo comportamento postural e as nuvens acinzentadas quase sempre a convidavam para dentro de si mesma. Não havia ali muito intimidade com o céu nublado, embora gostasse da chuva que caiu ontem à noite.

Lembrou da sensação de estar sendo vigiada, do pouco de medo experimentado, de uma prece evocando um tal de anjo da guarda, e assim foi perdendo o receio de coisas ocultas... pensou que logo hoje, quem viveria não sendo vigiado? Quantas câmeras, mecanismos e outros artefatos serviam, único e exclusivamente, para manter alguma coisa englobada dentro do contexto. Porque seria diferente com ela? Aceitou os fatos.

O semáforo abriu, duas pessoas a chamaram pelo nome e a questionaram se ela estava dentro da bola de balão que se fazia quando criança, guardada no seu mundo. Ela respondeu com um sorriso sem jeito dizendo: sim.

Sim, ela estava tirando seu tempo de almoço para desligar-se um pouco das coisas. Utilizava da música para conseguir isso, e quase sempre dava certo.

Atravessou a avenida, o sol deu uma tímida esquentada, a música cessou em seus ouvidos e o tempo voltou com tudo, marcando com pressa os ponteiros do relógio que buscavam chegar em algum ponto desconhecido de sua essência, intrigada com o nada de tudo isso. Era almoço numa quarta feira.


elizpessoa

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Sobre o muito que pensa em mim



                                                       (Imagem: Tempestade de Idéias - Brain Storm)




Estamos todos, ou grande parte de nós, viciados em celulares, ipod e similares. Não bastasse perdermos grande parte de nosso tempo em frente à tela do computador por questões de sobrevivência, agora o levamos para passear conosco pelas ruas, metrôs, ônibus, cinemas, festas e tal. O problema é que esses aparelhos não conseguem usufruir do passeio, da festa, do encontro com os amigos, porque ele não foi dotado de humanidade como nós. E nós, desperdiçamos o passeio, a festa, o encontro com os amigos, etc. e tal, porque não conseguimos desconectar a vista viciada às telas que dão acesso ao mundo virtual.  Nos distraímos da vida com as novas tecnologias, num mundo acessado pelo atalho das teclas touch screen, consumindo o tempo escasso da gente.

Posso falar sobre esse assunto com propriedade e conhecimento de causa. E é justamente por essa causa toda que tenho buscado me policiar nesse sentido. Arrisco um olhar crítico sobre minhas ações desavisadas, para não deixar que ela predomine sobre o dia, que, em tese, deveria ser meu e não da tecnologia transportada num pequeno aparelho, cheio de ondas invisíveis e poderosas sobre a saúde.

Sabemos que é muita sedução para um uso mal apropriado desses recursos. A falta de direcionamento quando tratamos de internet, pode até provocar aqui, um stress elevado ao cubo. Ainda mais para mentes congestionadas de pensamentos desgovernados e impulsivos.

Quem nunca arriscou a prática da meditação jamais entenderá isso. Silenciar o pensamento é um exercício difícil, chega a parecer impossível em dado momento. Mas não o é. Eu mesma nunca silenciei tudo o que passa pela minha cabeça meditando, mas com o tempo, fui aprendendo a diminuir o excesso de ideais, até porque grande parte do que pensamos não vale muito de fato. Dentro da minha cabeça cheia existem mil pensamentos. E dentro de cada um de nós, quantos milhões pensam ali?

O que de fato é nosso em essência quando das ideias experimentamos? Qual parte de nós, não é só feita de ideias? Não há porque multiplicar tanta bobagem, ainda mais levando em consideração que essa vida é curta e passageira e que o tempo esvai-se num piscar de segundo não vivido.

Por essa razão, o celular conectado, a TV conectada, as rádios conectadas, as pessoas "conectadas", o mundo num instante conectados, não nos torna seres tranquilos. Por isso a luz no calor desligada e a cabeça desconectada um pouquinho que seja, nos empresta um pouco de paz e serenidade, ainda que seja para tentar não pensar em nada, enquanto o mundo segue indiferente.

Ainda é possível voltar-se pra si mesmo, num instante precioso de tempo.


elizpessoa  

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sobre a criança em mim



                                                                       (Foto: Arquivo Pessoal)


Dias desses, observando as paradas de ônibus repletas de crianças, pensei no tempo da infância que tão rápida e tão intensa passou pela minha vida. Lembrei da criança que fui, na imensidão que habitava àquela fantasia toda, na dificuldade que tinha, e ainda tenho em crescer e aceitar o adulto em mim. Lembrei do olhar puro perdido diante do mundo e da dele. Parece até que, consigo por um só instante, experimentar novamente as noites em que sentava no balanço do quintal de casa e ficava por horas, ainda que sentindo um certo medo do escuro da noite, observando o céu estrelado. A cabeça ia longe, percorria todo o universo, outras galáxias num simples ato de observar.

Naquele tempo a vida parecia uma grande e extraordinária aventura, onde um amontoado de pedra de brita logo transformava-se numa imensa montanha imaginária. Tempo do castigo no banco amarelo exposto no meio da creche. Dali de cima dava pra ver as outras crianças, com uma certa supremacia, do auto do banco ainda que de castigo. Outras vezes me colocavam de costas para uma parede branca e diziam que era pra eu cheirar a parede como punição por alguma atrapalhada ação de minha infância. O problema para os adultos, era que eu acabava descobrindo um certo prazer em "cheirar" à parede. A gente se acostuma a tudo, certamente.

Ficava observando o ir e vir da formigas que, em meio ao trabalho, fofocavam sobre coisas de formigas. O que tanto elas diziam umas às outras? Nunca descobri e ainda me sobra curiosidade. Depois tinha os caminhos prateados que a lesma deixava, denunciando sua passagem por ali. Tudo era tão incrível e feiticeiro, que ao escutar o meu opressor dizendo: "terminou o seu castigo, menina, já pode sair!" Quem disse que eu queria deixar de ficar ali, agora que outro mundo se abria novamente sobre meus olhos deslumbrados? Adulto gosta do cortar o barato da gente...

Tenho muito e até demais da criança que fui. Talvez ela seja o melhor que ainda há aqui. Por isso me recusei em valorizar a propaganda do primeiro sutiã. Me lembro até hoje do nome dele: Valisere. Tive agonia de virar moça, nem achava graça em ver no corpo crescendo: pelos, seios e apelos. Creio que já pressentia o quão sério seria, quando tudo isso estivesse desenvolvido em mim. Ser mulher-adulta só tinha encanto sendo criança.

Hoje, olhando essas crianças de uma nova geração, quem sabe bem mais à frente de seu próprio tempo, penso na rapidez com que essa fase da vida passa, como a gente fica bobo quando cresce, como emburrecemos no processo de amadurecimento, e como isso apodrece a existência, como um fruto estragado que logo despenca da árvore para se esborrachar no chão sólido das existências pálidas.


elizpessoa

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Enquanto amanhecia



                                                      Fonte da Imagem: Google Imagens


Entre a loucura e a abstração,
Entre o asfalto e o abismo,
Entre a serenidade e a insana(idade),
Entre a música e a anarquia,
Entre a beleza e a pureza,
Em meio a silêncio,
Um tanto calada,
Em meio a festa,
Pessoas, tantas outras indecifráveis.
Essa semana coube num único e insgnificante dia,
Entre noites sinceras,
Houveram amigos e atalhos,
Sensações perdidas.
Um certo espaço,
E muito controle sobre tudo isso.
Nesta semana teve cabelo solto no vento,
Muita sede e chuva  bem no meio do sonho,
ensopavam a moça por inteiro.
Língua pra fora,
Garganta molhada.

No sonho de olhos vendados, visita recebida, abraço longo, certo medo num misto de curiosidade.
Alguém de um outro plano, sem rosto, sem corpo, sem descrição, sem narração, sem detalhes, sem imagem,  sem matéria, não me disse que viria visitar-me na noite escura, mas veio, deixou um abraço e um medinho, certamente infantil, e partiu sem dizer a mais ninguém, enquanto eu dormia.

elizpessoa