quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Por aí


(Foto por Eliz Pessoa)

Havia uma possibilidade remota de fazer as coisas acontecer de uma maneira mais branda, fácil.

Havia muitos caminhos nesses passos sobre as coisas, existindo intensamente segundo a segundo.

Havia tanto texto aqui, ai, a cá, Allah.
São tantos deuses endeusados pelas gentes.

Há tanto Brasil aqui dentro de mim e ainda há tanto ainda que brasiliar...

Sou essa confusão generalizada em um mundo completamente confuso em si mesmo.
Sinto-me um reflexo da perdição em que me encontro. Perdição ligada a minha alma, a minha maneira de ver as coisas remotamente.

Sou uma possibilidade cheia de reticências.
Vivo este agora, e quando a dor me acomete, perco o medo da morte, quando não a curto intensamente, indo no fundo das coisas.

Tenho a impressão de que uma hora acordo dessa coisa boba e maravilhosa do existir e deixo essa ilusão generalizada. Mas é tão bom viver, desabrochar...

Viver é estar completo em tudo que se pisa, é estar inteiro em tudo que se divide.
E não se engane, não é fácil escrever (confesso). Nada é fácil, mas o não escrever é assumir a morte enquanto vida, dia a dia, enquanto esqueço tudo isso.

eliz pessoa

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Brasília



(Foto de Eliz Pessoa)

Esses eixos que se cruzam
Nessa gigante encruzilhada
Esse céu que engole a gente
Esse abismo de cidade

Bras-ilha,
Essa imensa solidão
Esse mar de gente vindas de outras realidades
Esse desencontro de raças
Esse desassossego das palavras

Tão moça ainda e tão poderosa
Envolta em negócios camuflados
Manipulada por pessoas igualmente suspeitas

Cosmopolita e interiorana
De beleza arquitetada pela ação de gênios e loucos
Pensaram-te tão friamente,
Sobre números e idéia comunistas,
Mas esqueceram que uma cidade nasce naturalmente
E pulsa no coração de seus filhos

Eu gosto de você cidade,
Sou fruto de tuas entranhas,
De sua dor
Mas ando inquieta contigo
Porque fazem de você um fantoche qualquer

Não consigo mais me deslumbrar com a sua beleza maquiada.
Pois te enxergo além de tudo isso
Vejo-te sem maquiagem e não a acho tão bela
Quando se despi diante de meus olhos

Tentam tapar as suas feridas ainda abertas,
Sem tratá-las por dentro
Contam histórias ao seu respeito,
Mas camuflam a sua verdade

Congelam seus movimentos num cartão postal,
Onde o mais belo são os Ipês florindo,
E não a tua arte.

Hoje me dói por vê-la tão linda,
Quase mulher e tão bajulada por pessoas que
Não se interessam pela sua essência,
Ou sou eu que (ainda) não a compreendi intensamente?

Brasília, por hora você é
Apenas uma linda moça,
Em meio a tantas outras beldades,
E isso é tão pouco.

eliz pessoa

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

É Gol na Argentina!




Caminhando pelas ruas de Buenos Aires, sinto-me mais uma na multidao. A cidade frenética, corrida passa sobre mim muito depressa, alucinada como quem se estivesse altamente drogada. Maluca por negócios, cultura, história, política e gente por todos os lados, personagens que cruzam olhares mas nao se exergam de fato. Impressionante!

Busco o interior de uma igreja, me encanto com a novidade. Tetos pintados de anjos, imagens pesadas, como se o pecado pudesse de fato, cair sobre nossas cabeças igualmente alucinadas. Quando neste mesmo momento, escrevo e levemente aproximasse da alsa de minha bolsa, uma mao suave, de dedos cumpridos. Rapidamente meu instinto manifesta-se por inteiro e minhas maos-magras respondem com a mesma suavidade a acao da ladra, enquanto meus olhos a fitam intensamente censurando-a sem palavras... Ela nao corresponde ou olhar, esquiva-se, faz o sinal da cruz, levanta-se e sai como sutilmente como se nunca tivesse ali estado. Espertinha a bandida! Aliáz, a igreja é um bom lugar para se fazer de santo.

Fugindo da santidade, encontro a inocência das crianças, enfeitando a praça em frente ao Palácio do Governo. Pombos em milhares pousam sobre a cabeça da professora, e os pequenos fazem à festa. Depois, manifestos, velhos reunidos em protesto, turistas, observadores, todos, absolutamente todos, misturados à massa.

Mas um pouco, em outros atropelos das palavras, Museu de Arte Moderna e uma única exposiçao despia-se por inteiro diante aos olhos, agora rendidos. O artista de nome Antonio Sigué, retratava em gravuras o homem e sua relaçao com o sexo, a transsesxualidade, a rotina, a formalidade, a decadência, as fantasias e os fantasmas dessa nossa humanidade revelada. Nos outros espaços, vastidao e muito barulho, provocados pelo trabalho incanssável dos homens em outro processo de montagem para outras produçoes.

Correndo de um lado à outro, fica fácil se perder pelas ruas da cidade, ainda que munida de mapa e outras referências. Piedras, Tucuraí, Perú, Avenida Belgrano e outras possibilidades. Mas me encontrei entre uma equina e duas ruas, aparentemente inimigas.

Grafites dao um espetáculo à parte, multi-coloridos, expressivos e completamente pessoais. Muitos artistas escondidos por detráz de tudo isso. Pelos parques, àrvores grávidas, mendigos agasalhados, fumantes ativos e passivos (muitos), "arranha-céu da boca portenha", imensidoes, museus, pugilistas, bicicletas, relógios suplicando por mais tempo no tempo da gente, bibliotecas, esconderijos, pessoas, futebol, hostel, Brasil.

De volta ao recinto, finalmente assisto a uma partida de futebol com a Selaçao Brasileira de Futebol. Amistoso entre Brasil e Alemanha, bola pra lá, pra cá e por fim, a Alemanha finaliza em 3 x 2 em cima do Brasil. Jogo bonito de ser ver, em especial, pela excelente atuaçao entre Neymar e Ganso, sintonizados numa mesma estaçao, como se estivessem jogando em casa, no Santos. É muito bom ver e ouvir o nome do Brasil em outros contextos.

Mais pra lá, outras formas de se entender a palavras, cara de brasileira, bolsa apertada sobre o braço, acuidade na maneira de expressar-se, palavras mudas, futebol novamente, aqui sim uma paixao nacional. É fácil reconhecer nossa grandeza em relaçao a bola, até porque somos o maior em número de títulos mundiais. Mas, de verdade? Somos mais regrados em nossa paixao. Nos apaixonamos desde cedo pela arte da bola, tanto que qualquer muleque brasileiro parece já nascer com ela nos pés, senao nas idéias. Nao sei como é isso no Uruguay, e por essa razao nao arrisco-me a falar nada, agora aqui na Argentina sim! SE RESPIRA FUTEBOL, SE COME FUTEBOL, SE BEBE FUTEBOL, SE PENSA EM FUTEBOL, SE PRATICA FUTEBOL, e por fim, SE VIVE O FUTEBOL loucament! E para provar a teoria, digo que até os campeonatos de segunda e terceira divisao, tem seu espaço nos canais abertos da televisao Argentina. Diferentemente do Brasil. Lá em casa, caiu para a segunda, rebaixou-se de fato, acaba qualquer tipo de divulgacao ou publicidade.

A pelota aqui é sagrada e uma verdadeira unanimidade.
É Gol na Argentina!