sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Ela


(Souza Campus)

Aproximou-se da moça para pedir esmola.

Levemente enquanto falava, deslizava as mãos sujas sobre as costas brancas da desvairada. Costas nuas, gorduras espaçadas, pendentes lado a lado do corpo. Ela o escutou deixando que ele usufruísse daqueles segundos de permissividade acatada. Exercício de pedinte. Não satisfeito, levou os dedos até os fios de cabelos, esticados à química e outros aspectos da vaidade da moça.

Um minuto. Ela, já havia chamado a atenção de todos, não por levar em si uma beleza estonteante, mas indeferida. Vestia-se toda de vermelho, roupas e sapatilhas. As costas exibidas com pelancas, bunda entristecida, short’s curtíssimos como se àquelas vestimentas não fossem feitas para ela. Completando o figurino, uma flor branca e artificial nos cabelos. Uma sujeita sem muito predicado, dizia a pobre moça, feia e mal vestida. Em seu comentário, uma espécie de desdém: “Ela deixa o cara alisar (ela) todinha, e não diz nada! Deve estar gostando e se achando a rainha da cocada preta. Aí, ai!”.

Ele não desistia do seu exercício de pobre pedinte indo de um a um, apelando para um choro mal dissimulado e de pouca expressividade.

Circular W3 norte e sul, e um sinal para que tudo ficasse para trás num piscar de olhos rotineiros.

eliz pessoa