terça-feira, 25 de setembro de 2007

Tantos fins, re-começos, traços de esperanças espaçados no caminho, delírios de noites rasas, alegria de festas, marasmo cotidiano, catarse dos dias, metade de mim, processo do resto, decomposição derradeira, apologia à palavra, afasia mira bolando sentidos. Princípio de tudo, rituais adversos. Dor nos ombros, costas largas, peito de remador. Homens e mulher no instante do beijo, língua insatisfeito percorrendo detalhes do outro rabiscados em nós.

Toques de celular, rascunhos em celulose, respiração ofegante, olhos que se deitam, dias claros trabalham aqui. Retrocessos onde re-invento um tempo novo.
Outra malícia, alegria estampada na cara, velha roupa colorida.
Brasília re-partida, lados que se opõem, esbarroes que se espreitam, Rio, delírios e afins.

Dígito de dedos rápidos, agonia de mente inquieta, ventila dor e o vento liberto lá fora. Fora isso, dês-complico apagando lembranças mortas.
Prima Vera, flores de plásticos, flores de fato, flores... Apenas elas.

Amores em vão, amores em si.
Mas os corações vagabundos, ainda vagam nas ruas da cidade e numa pausa o instante perde-se sem muitas palavras.

Ando tão a flor da pele que floreio pelos cantos.

:: eliz ::

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Bem depois de você...




















Desenho: Luiz Zerbini


Porque depois de você, estive em mim, mudei a cor dos cabelos, li outras poesias, enjoei de romances e fui tomando gosto pelas coisas apimentadas. Segui, desvencilhando os ouvidos daquela música que trazia um pouco das lembranças soterradas de você.
Nem chega a ser saudade, pois me recordo de cada detalhe escondido no seu rosto, sensação da barba espetando os contornos da boca. Pois dizem que quando é saudade, a imagem do rosto se apaga na lembrança e adormece no silêncio do peito.

Depois de você, desejei com ardor alguns atalhos que poupassem o caminho, quando a falta de descuido cuidou de mim. Dispensei muletas, porque sempre soube de minha força pra seguir. Pois embora algumas aflições sugassem a alma, minha alegria independia de sua presença, como algo que teima em ser, pleno em si, sem outros devaneios.
Comecei a escutar os muitos sons de cigarras agarradas em troncos secos das árvores plantadas nas quadras, depois tive a sensação de aperto inovada no peito, como anúncio de final de ano, mais pra lá do que pra cá.

Sem você, algo passou junto e muito ficou guardado dentro de mim.
Outras perguntas martelaram na minha cabeça oca, formando filas e filas de exclamações, aclamando respostas por algo novo já caducando, como a fragilidade da pele sobre o tempo da gravidade.

Porque depois, bem depois de você, percebi que não cabia mais querer você. Pois você não existia mais na infinitude dos meus dias. Preferiu assombrar meus momentos de solidão.

Também tomei gosto pela coisa, aprendi a sair sozinha, esqueci alguns caminhos, descobri outras verdades, desejei outro contorno, apelos nos pêlos em mim.

Porque depois de você, não havia mais você, restando a mim.

Depois, bem depois de você.

: : eliz : :

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Escrito no saco de pão




















Desenho: Luiz Zerbini

O porteiro, desnuda a revista de palavras cruzadas ao final de expediente, repartindo ao meio o transcorrer da semana, enquanto na entrada do supermercado o cachorro espera ansioso o retorno de seu dono. Amarrado aos laços da coleira, seus olhos assistem o movimento que passa. Língua pra fora, cheiro de pão de fim de tarde, enquanto as letras dão formas ao saco de pão. Seis unidades ao todo, cinqüenta por cento pra cada.

Do outro lado, dois homens. Um caminha, outro corre. Em sentidos opostos seus destinos cruzam-se e passam. Todos os dias são quase assim...

O respeito sobre a faixa de pedestres desvia a atenção, quando ela passa... Corpo pesado, sacolas de compras na mão esquerda, inclinando o corpo para a direita das coisas.
Alguém grita por Marina. Ela aparece na janela e joga a carteira para que ele compre outro pão, quando a chegada da noite lança trégua sobre o dia quente. Mas alguém sentado de costas tem formas conhecidas – descuidos de bares à toa.

A parada de ônibus, agora cheia, em nada se assemelha àquela da noite de ontem.
Depois das putas, prateleiras amontoadas de livros, enfeitam o programa das moças de “cultura”. Dá até pra ler enquanto o cliente não vem.

Amortecendo a mola do parafuso, afrouxo a braguilha de um pensamento. Atitudes de raios que o partam.

Há tanta ironia no caminho, nas voltas e voltas do mundo que passa, quando se passa com ele. “Metamorfose ambulante”, percalços descalços dos meninos pés-sujos.
Fim de tarde, cigarras arriscam cantos novos e anunciam ares de ida.
No meio do silêncio, o barulho caminha no escorregar dos carros.

Mas não há nada comparável ao cheiro do pão quentinho, depois de um dia cheio de idéias.


:: eliz ::

terça-feira, 18 de setembro de 2007

"Mulher de Trinta"

foto: internet



O fato é que a Paulinha sugeriu um texto aos trinta. Pensei, repensei, matutei como seria feito, quais idéias levantariam e compliquei-me nesses devaneios tolos, amortecendo o desenvolver das palavras.
Depois, freei os pensamentos, esvaziei o caminho e deixei que as circunstâncias provocassem o desejo nelas.

Nos últimos dias fiz reflexo na “juba”, achei pouco, fiz retoques, exagerei na cor, iluminei o rosto, dando ares de loira, enfeitando os fios dos cabelos. Até gostei, me percebendo outra mulher, como se eu pudesse mudar de cara num dia, uma espécie de troca de roupa. Aí, os dias foram dissipando, provocando ares de desconfiança com a imagem refletida no espelho. Tentei até me convencer que estava bom, mas bastou uma pincelada pela noite, para um fotografo desses sites da cidade, registrar a imagem de uma outra Eliz, meio diferente da que vive comigo todos os dias, para eu renegar as novas madeixas de moça de trinta. Virei morena de novo, olhei no espelho e abracei a idéia caduca em mim. Enquanto isso, uma amiga levanta a tese de que já faz parte da suposta “crise” dos trinta minhas mudanças mundanas no decorrer da semana. Olhei torto para a idéia, depois fui assimilando-a. Seria mesmo devaneio dos trinta?

Então, veio a festa, outra ousadia, segui sozinha, sem companhia programadas. Desfiz-me refeita em mim, dancei de uma pista a outra, descansei os olhos ao som da música que embalara e concentrei-me nos ruídos da música e segui misturando bebidas sem me dar conta das conseqüências do depois. Reencontrando pessoas, celebrando a festa, fui me envolvendo com torpores.

Mais tarde, já era tarde e o primeiro porre consumou-se em mim, quando o mundo rodou, as pernas não se firmaram como antes e a imagem refletida sobre os olhos pareciam míopes e estrábicas.

Voltei pra pista e pedi socorro: “pare o mundo que eu quero descer!”
Ela acolheu-me, me tirou da multidão, sugeriu botar pra fora e vomitar. Constrangida, fui libertando-me dos conceitos de educação e larguei as aflições contidas no excesso de álcool. Adormeci no carro quando a aurora anunciava um novo dia, o reboliço da cachaça já não era latente aqui. Restando gentilezas nas frestas da noite. O primeiro grande porre aos trinta. Uma nova cor nos cabelos aos trinta e outras vertentes aos trinta.

Dedico este à Paulinha pela idéia germinada e a Belzinha e Dariu pela gentileza, e a todas as mulheres de trinta miúdos, amiúde, mudos aqui.

: : eliz : :

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Teima arrogante interrogando o saber...

foto: internet

Queria calar essa teima insistindo em minha lembrança, como “murro em ponta de faca”.

Mania de tomar meus minutos de silêncio. Porque não quero parar no tempo, nem ao menos pará-lo em mim. Quero a mente cheia de ocupações, textos, projetos, frases e afins perdidos nos seios dos livros. Quero calar os mesmos gritos, esquecer algumas lembranças que insistem em derreter no calor dos dias. Devorar João Ubaldo, bordas e borrões de poesias, papéis amassados no raso da mesa. Estudos que sugam horas livres e usufruir outras metades de mim.
No meio de tudo, escrevo cartas e as envio para outros olhos, esquecidos a distância.

Ando dispensando hiatos, desejando ditongos, arriscando dígrafos, desarmando ironias e devorando metáforas, para, quem sabe assim, reencontrar rascunhos novinhos em folha.

Porque, como numa partida de futebol, o risco pode transformar-se num grito de gol.
Pois, por ora, sinto-me o camisa um da seleção, defendendo barreiras. Mas não há nada que se iguale a um zagueiro em transe, percorrendo os caminhos do gol.

Por enquanto, arredondo as formas da caligrafia, respiro buscando compassos que reencontro no abraço, que encosta ao coração.
Com pulso firme, divido o instante no momento em que passa, aumento o som da tv pra não ouvir mais nada.

De formas firmes, exercito passos de bailarina, mas basta perceber um vacilo da noite, para esquecer a coreografia e insinuar outros olhares. E o mundo se abre quando os olhos se deitam.

Há tanta magia no momento que a mente se recusa a esquecer, ficando ali, vagueando por caminhos perdidos. E por que não, se as cigarras ainda cantam no começo da estação?

Ah, mas se essa teima pudesse calar, esqueceria o seu retrato nos caminhos da distração.

: : eliz : :
foto: internet

Silêncio,

enquanto as roupas secam no varal, a hora se mostra - tardias repetições exercidas nos dias. Mudanças nas cores dos fios de cabelo, labirinto dos trinta.

As cruas unhas dos dedos dos pés e mãos, denunciam descuidos - cutículas ressecadas na secura do clima. Pensamentos que programam a semana, respostas aguardadas, enquanto ao longe, uma mulher geme de prazer com outro alguém. Calor “arretado” e luz acessa.

A coluna reclama dos maus tratos, e o barulho da água sobre a pia da copa alimenta sede no corpo. Um copo de limonada do limão colhido na rua, três livros de Saramago, alguns textos de João Ubaldo (gosto tanto desse jeito...), luzes que emergem, Glauber de sempre, evangelhos e cortiços. Um felino estressado reclama pela casa. Busco um “cadinho” de paciência, enquanto outras idéias folgam comigo na cama.

Um prato de macarrão, cartas amontoadas no isopor da parede, letras cansadas, retratos de um país desprivilegiado e sincero na crua verdade, cheiro do alho queimado, alimentando sentidos. Canto a si mesmo e cegos que se multiplicam no livro. Olhar vagabundo, preguiça domingueira. Gentileza-palavra completa. Cabelo disforme, crescendo e escondendo os mistérios da nuca calorenta. Arte de conviver. Fotos da última viagem: clássicos no maracá, pôr-do-sol nas pedras do Arpoador, sombras em Vidigal, pose com Drummond, abraços nos braços do redentor, All Star guardados na areia, ondas que se turvam, flores para Yemanjá e Oxossi no meu coração. Outros blogs, novas parcerias, idéia nova.

Do começo ao fim, Rê Bordosa. Depois quietude, celular desligado, tv muda e música calada. “Amanhã não tem feira”, mas tem construção. “Não tem mais brincadeira, não tem mais confusão.”

No meio de tudo, amanhã ainda é o maior mistério.

:: eliz ::

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Contratempo de um velho coração

foto: smuff


Despretensiosamente, acessei a Internet em espaço público, aberto a outros olhares. Vasculhando meus e-mails, fiquei ali exercitando minha miopia cansada, com os olhos sobre a tela do vídeo.

Ele chegou, sentou-se na máquina ao lado, ajeitou os óculos sobre os ossos do nariz, pegou no mouse com certa falta de jeito e acertou a mira no monitor. Desliguei-me do fato ao lado. Depois, ele veio meio sem jeito, pedindo para auxiliá-lo no acesso à página virtual. Segurava em suas mãos um guardanapo de restaurante com um endereço de e-mail, mais nada. Ele referia-se ao endereço como se fosse um sítio. Levantei do micro que eu usava e fui explicar as diferenças entre sítio e e-mail. Ouviu-me pacientemente, depois disse que não tinha um e-mail. Sugeri que fizéssemos uma conta, para que assim ele pudesse enviar a referida mensagem para a tal pessoa. Topou na hora. Mecanicamente, fomos descobrindo os caminhos da rede, buscamos o Yahoo e criamos uma conta.

Depois de feito todo o processo, deixei-o livre para escrever à vontade.

Ele, com aquele dedo indicador procurando o P no teclado, indicado pelas letrinhas, digitando no seu tempo, ao seu modo. Tratava-se de uma confidência de amor, pelo que pude perceber, não quis invadir sua privacidade.

Ele, um senhor aparentando uns 57 anos, pele cansada, olhos pesados, simpatia e um pedido de ajuda. Geminiano como eu, como pude perceber pela data da nascimento na hora de preencher os formulários eletrônicos da conta, que ele quis omitir.

Mas o que aconteceu é que o e-mail voltou. E ele, achando que tinha tudo dado certo, ficou ali, feliz da vida, acreditando que sua mensagem teria sido entregue ao destinatário. Mostrei que não havia ocorrido nada disso, pois a mensagem havia retornado com aviso de erro em inglês. Só me recordo-me do “sorry” e daquelas coisinhas que mostram quando a coisa não vingou. Coisas da tecnologia.

Ele perguntou-me se a pessoa responderia logo que recebesse. Respondi, com bastante honestidade, que dependeria primeiro, dela receber o e-mail. Segundo, da vontade dela em responder com a mesma urgência dele. Coisa que independeria da vontade dele. Então, enviou novamente o e-mail que retornou com a mesma velocidade de não recebimento.

Meio sem jeito, frustrado em suas expectativas, ansioso por um retorno vindo de lá. Tentou disfarçar sua falta de jeito. Novamente deixei-o pensar sozinho e retomei minhas atividades virtuais.

Pensou, repensou e resolveu fechar a página na Internet sem fechar sua caixa de e-mail corretamente. Tentando ajudá-lo de alguma maneira razoável, perguntei se ele havia fechado direito seu e-mail, retomei a explicação abrindo a caixa e voltei a tocar no assunto do e-mail... Como quem tenta vingar-se, talvez do próprio sentimento, ele disse que tinha apagado tudo. Que não queria mandar mais nada. Estranhei, mas reconheci de imediato a atitude derradeira, tão humana que cabe tão dentro de cada um de nós, em algum canto de nossa passagem, varada pela existência. Tentando prender a atenção do meu “aluno”, falei dos procedimentos ao desconectar o e-mail. Mais uma vez, ouviu-me, prestou atenção e disfarçou sem êxito sua tristeza.
Depois agradeceu pela paciência (que não tenho normalmente) e pediu meu número de telefone. Virou o outro lado do mesmo guardanapo onde estava o e-mail da moça, como se virasse uma página, anotou meu número lá e partiu.

Fiquei pensando em todas as nossas carências, querências, expectativas em relação aos outros, percebi que ninguém é auto-suficiente. Nem ele, nem eu, nem ninguém.


:: eliz ::

domingo, 9 de setembro de 2007

foto: vivis



Madrugada de sábado, outros quesitos.
Conversas jorradas fora, silêncio no escuro da noite.
Línguas cansadas, copos vazios, viagens agudas no raso do ser.
Metáforas, dramas e textos.

Livros benditos no vazio da casa.
Noite de sono, capacitando sonhos.
Lembranças faladas.
Amizades recortadas.
Amores que viram saudades.
Esfregões na nuca guardada.
Dedos que dançam sobre as letras do teclado.
Vigília de olhos cansados...

Noite a dentro, madrugada.
Duas horas da matina, manhã acordada.

Eu quero um amor novinho em folha.
E talvez me contente com uma folha novinha de amor.
Palavra que não cansa, casada com as bordas do papel.
Pautas de decisões indecisas.
Imensidão.

Eu me rendo no próximo parágrafo.
Centavos de mim.
Reciclagens de comportamento.
Revisões de pensamentos.
Renovação redobrada.
Pensamento na rima.

Ruídos de ruptura, descompasso de bailarina.
Quero um livro e dedicatória, e muitas idéias espalhadas por aí.

: : eliz : :

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

foto: eliz pessoa


De repente a vida foi tomada de arte.
As ruas, viagens, amizades, contornos da cidade.

Quando acordei, ela já havia se espalhado, empregando tudo.
Tomou meus últimos goles de cerveja, assaltou esquinas, pintou-se nos muros erguidos nas ruas e paradas de ônibus. Nada. Absolutamente nada, foi roubado.

E os olhos, tão acostumados com o dia-a-dia, cegaram de tanto de vê-la.
Então o que antes era pobreza, vestiu-se carnavalisando o retrato, congelado na fotografia.

Os desconcertos, atropelos da vida, viraram textos, a solidão acompanhou-se de tantas sensações, que deixou de ser sozinha.
Completou-se nas querências de tanta harmonia estampada lá fora.

Novas melodias ao meio dia espalharam-se nos ares das praças.
E outros autores, poetas, escritores e loucos, deram graça a novos contextos.
Outras idéias...
E a vida passou a ter sentido, sentindo-se nela.

No nó do mundo e no bater de corações, a arte de um Deus quase humano.

Agora, já vestimos a cena e somos atores convocados por ela.
E até o centro das grandes cidades, prolifera arte e em cada um de nós.

: : eliz : :

terça-feira, 4 de setembro de 2007

foto: eliz pessoa

Queria um texto sacana, cheio de malícia, pornográfico.
Um texto como a essência de Nelson, um texto depravado na língua.
Que jorrasse dentro do corpo indecências infindas...
Um corpo esfregado no outro,
Pele por pele,
Pêlo no pêlo.

Queria um texto sem vergonha. Escancarado, cru.
Um texto como o Rio, cheio de curvas e sensualidade.
Despudorado como o carnaval.
Sem vergonha como a vida.

Nu em minhas vontades, agora saciadas nos atos das mãos que, hora escrevem, hora praticam ações penetrantes. Desbravando entranhas, molhando essência, incasável desejo de algo perdido na carne e enfeitado na imaginação.

Língua nos seios, nas curvas que escondem segredos e segregam todo o resto.

Hoje, queria falar no útero de um ouvido alheio e assustar com palavras, experimentadas nas pontas de dedos. Sentir em cada detalhe, em cada suor alheio.

Hoje, queria um texto que superasse minha limitação, que fosse de sangue e carne, que não explicasse nada, contasse nada, que não fosse nada, além do sexo, por ele mesmo.

Queria um texto, sem poesia, cheio de orgia.
Sem cores, em preto e branco.

Um texto, uma entidade que dissesse por mim, o que não consigo dizer em palavras.
Como um gozo que invade almas, encarnado nas vísceras, entranhadas no ser.

Queria um texto de verdade, sem ilustrações e artifícios de beleza.
Mas que fosse a beleza em si, sem nada daqui.

Um texto que não exprimisse minha experiência, que contasse outra mulher, provocante e crua. Mais desinibida longe minha prisão.

Um texto além dos rabiscos, um texto que gemesse, que gritasse, provocando vontades em todos que lêem, que despertasse e ejaculações na alma, e se perdesse no próximo encontro.

Um texto pra fora.
De dentro de cada um de nós.

Hoje, queria um texto cheio de vontades perturbadoras. . .

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foto: eliz pessoa



O “maltrapilho” descansa na grama amassada, enquanto a avenida W3, passa no descompasso dos carros que circulam em finais de semana.

Um ciclista sem camisa movimenta o pedal de uma outra magrela e as meninas na rua demonstram passos lentos sobre a margem da parada, que me outras cidades é ponto de ônibus. Por aqui, ponto de desnudas putas, de pernas descompassadas nos olhos afoitos dos meninos sem rumo. Sol escaldando a juventude dos ombros, porque as velhas caixas amarelas dos Correios ainda aguardam paciente, mensagem de um tempo alheio.

Enquanto o menino mineiro de Itabira do Mato de Dentro, envelhece cansado de guerra, na margem da praia de copas infindas, levando palavras para outra banda do mundo de lá.

Calorosamente as axilas transpiram sensações evasivas, quando levemente as leis da gravidade, cobram no esforço físico e mais disposição nas calçadas.

“Hoje é domingo, pé de cachimbo”.

Outro asfalto saliente colide com passos alheios. “Cores, raça, castas, crenças. Riquezas são diferentes”. E as crianças não dão a mínima importância a tudo isso. Preferem escalar troncos de árvores, ou arriscam chutes nas páginas do texto.

Duplicidade de formas, cabelo de doido, retrato estampado na parede da casa.

Reticências, indecências, paradeiro de tudo que passa. Ainda assim. “É proibido animais no jardim”, e as copas de árvores abertas, ainda transmitem idéias de proteção, protelando todo o resto.

Um casal, voltando das compras conversam harmoniosamente sobre o dia, mas os mendigos, bêbados, tortos e loucos, arriscam batucados no pandeiro, dando vida ao contexto das coisas: “o ladrão foi lá em casa, quase morreu do coração”.
Melodia despudorada...

Outro ato, e o silêncio. Asas de ruas desertas.

Um texto novo sobre um mundo caduco, ou, um mundo caduco sobre um texto novo?

Sentença de pensamentos furtivos...

Ainda é a secura desse ar e o cheiro das matas queimadas que incomoda. E o que enfeita, é a bicicleta de um sujeito sem nome, equipado com o rádio, entupida de sacos de latinhas de cervejas, trabalhando pela sobrevivência, sobre um sol malvado do meio do dia.



: : eliz : :

sábado, 1 de setembro de 2007

foto: eliz pessoa

A folha de jornal veio voando, voado, fazendo malabarismo no ar rarefeito da cidade.
E não havia sequer expectativa de vento.
Tudo ali, mágico como o sol dos últimos dias.

Sem labirintos de palavras o calor invadia a superfície da pele seca, enquanto algumas nuvens davam ares de graça ao céu azul daquele dia.

Algumas braçadas alongavam ombros de atletas e a água gelada brigava com as moléculas aquecidas dos homens.

Palma da mão, abismo do queixo e joelho ardiam, descamados ferimentos da hora perdida.
Por descuido de um pneu careca, ela fora ao chão e por sorte, ou obra do destino (quem sabe um anjo da guarda eficiente) machucarasse pouco.

Um triz a salvara de um acidente malicioso.
Alguns freios que a natureza permite, tão necessários às regras que dão continuidade a vida.
As coisas a paralisava de outros descuidos na cidade de horizontes vastos.

Sem que se perceba o reflexo ligeiro fora tão, ou mais eficiente que o cérebro pensante.
Instinto de sobrevivência, dando partida a hora H - momento crucial na vida de alguém.
Por fim, o sentido foi dando forma às voltas de sua roda rolante.
E tudo, por meros segundos, seguravam ações duradouras.

“Brasiliensemente” ela reagira, dando velocidade.
E passando o mundo surgira.


: : eliz : :