sexta-feira, 22 de outubro de 2010



Foto de Marina Aguiar


É preciso uma injeção nos ânimos, umas cócegas na sola dos pés já calejadas pelos sapatos fechados, suados e formais. Não tem sido fácil viver pura e simplesmente por viver, como um animal procurando comida no caminho. Ainda ele tem fome de comer, fome de sobreviver no inconsciente coletivo de sua existência. Ando me rastejando, cumprindo com o levantar e seguir em frente, sem olhar muito firme para todas as circunstâncias. E a vida tem dessas, segue às vezes sem poesia, perde a maestria e desencantasse num desencanar de idéias. Por outro lado, cá estou, tecendo as linhas dessa tortura, neste encontro comigo mesma, com a solidão tão necessária para se saber melhor. Fatidicamente vou encolhendo-me aqui dentro, vasculhando as coisas que ficaram bagunçadas dentro de minha casa, buscando algo para deixar as coisas (novamente) onde devem estar e jogar fora todos os entulhos que eu for capaz de largar. No fôlego novo, as palavras entrelaçam uma às outras, como peças de Dominó alinhadas em fila indiana, mas apenas um pequeno esbarrão, seria suficiente para deixá-las novamente em desordem, apinhadas sobre as outras, como quem se esquiva sem medo de cair.

A vida tem tantas facetas, veste tantos personagens, gasta muito da gente, suga nossas contradições, dá lá as suas muitas voltas de cento e oitenta graus de magnitude, reeduca, conta suas histórias e anotadas, brinca com a cara da gente, faz o seu show particular e depois nos olha frente a frente e nos pergunta: “E você o que acha de tudo isso?” Oras, o que acho? Não me venha com suas questões existenciais, porque de fato, tem horas que eu não acho nada sobre você. Penso que quando você acabar, você não terá outro lado (da vida), e sim, um silêncio profundo, uma total ausência de importâncias, um abismo entre o que você foi e quando ficamos quando nos deixou. Viver pode ser muito cheio de acontecimento, mas morrer não é nada. Deixamos de ser.
Bom, são apenas inquietações do vazio, oco e fatalmente necessário. Mas chega de lorotas bobas, não quero me estragar com isso.

eliz pessoa