quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sobre essa coisa toda de fim de ano




                                                            (Fonte Imagens: Google Imagens)


As nuvens fizeram reunião no céu no final da tarde de hoje. Dialogavam sobre decisões a serem tomadas quanto aos rumos que o vento as levaria. E nas calçadas da Asa Norte disfarçadas de ciclovias, muitos pedestres entenderam que aquele espaço tinha maior afinidade com o tênis para caminhada, assim como os cachorros esfolando a garganta nas coleiras de seus donos - língua pra fora, patas descompassadas - o mesmo entendimento.

O sol já se punha ao oeste, deixando as cores do céu rosada como há muito tempo não se via. Ao leste, a lua batia seu ponto na hora exata do espaço. Dessa vez sem a companhia de Júpiter, que ontem a noite passou horas ao lado dela, como se observassem a Terra e comentassem coisas a respeito de nós todos.
Quarta-feira, a última de dois mil e doze, e pensando bem percebo que foi fácil sobreviver ao fim do mundo. Difícil foi sobreviver ao Natal. Sempre é. Mas agora, mais fortalecida, vou tomando fôlego para os últimos suspiros desses 365 dias de acontecimentos e aliterações.

Rapidamente o som de dissolve eu meus ouvidos e as músicas derretem-se em meus tímpanos, limpando-os de tantas bobagens escutadas por aí.

Este final de ano, até o especial do rei pareceu estranho aos meus olhos e ouvidos. Aquela tentativa de misturar eletrônico só para deixar a coisa com cara de moderna ficou mais estranha que a coisa em si. Quem diria Eliz que você viveria para ouvir uma opinião dessa vinda de você mesma? Quem diria...

Tô ficando mesmo velha e um tanto cansada de padrões envelhecidos pelo medo de tentar o novo. Até o meu próprio padrão. Mas eu tento!

A partida de alguns centenários, alguns quase imortais e alguns tantos outros. O fim e o começo novo de novo. O calor neste final de ano. Calor que eu nunca vi em Brasília nesta época. Calor em todo o Brasil. Calor dentro e fora de mim, constante, insistente e contínuo. E essa coisa toda dando um tempo dentro da gente, tomando fôlego para os próximos capítulos, ainda não redigidos. O tempo dando um tempo e o exercício provocando LER nos dedos, insistindo em pausar um pouco a palavra, o silêncio e o caminho.

E essa coisa besta por inteiro.
Essa coisa simples derradeira.

Essa coisa chamada canção, imaginando todo o caminho compartilhado sob os pés enquanto vivia.
Essa coisa toda, toda, toda.


elizpessoa

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Aos meus amigos, familiares, colegas e simpatizantes



                                                                         (Imagem: Google)


Queridos,

Semana que vem estarei de recesso e por essa razão, resolvi antecipar minhas felicitações para o natal, Final do Mundo e, se tudo der certo do ano.

Estamos exatamente em 21/12/2012 data onde se finaliza o Calendário Maia. 
Até o presente momento, o mundo continua de pé. Não é o mesmo de ontem porque é um novo dia. Mas ainda não acabou.

Eu não acreditei que acabaria assim, numa data x agendada. Ainda mais quando vi o Japão, tão acostumado com catástrofes naturais de pé. Muito ao contrário. Aceito mais as ideia de que um novo ciclo se da a partir de hoje e em todos os outros dias de nossas vidas. Basta tentar. 

Mas voltando aos votos. Pretendo dizer aqui, que os meus não serão o das boas intenções, até, porque neste ano, aprendi que "o inferno anda cheio delas". Então, deixemos as boas intenções de lado e cuidemos das intenções mais pensadas. De preferência aquelas aonde a intenção do retorno não venha à frente da intenção da ação.

Neste ano de 2012 não foi fácil para ninguém. De certo modo, foi um divino preparo para o exercício para o nosso 2013.

Ano que será regido por Saturno, o planeta que representa o limite e a estrutura necessária para a sua realização. Saturno é visto como um grande pai, aquele que pune, que cobra, o que anuncia um ano duro, de muito trabalho para todos nós, sem exceção. E pensando nesses aspectos é que desejo que tenhamos discernimento para distinguir as coisas, paciência para lidar (em primeiro plano) consigo mesmo, tolerância para aceitar o outro e as diferenças, etc, etc e tal.

Quase sempre me pego pensando, nos mesmos desejos: saúde, paz, amor e prosperidade, mas é cada vez mais claro, que tudo isso só se dá na vida de cada um, quando aprendemos a nos conhecermos, a vencermos a nós mesmos. Não é fácil. Nada é fácil nesta passagem. Nunca foi.

A mudança que acontece em mim está diretamente ligada com a espiritualidade. E já pressinto que esse é o meu caminho de crescimento evolutivo consciente nesta vida.

Não há espiritualidade sem caminho, não há espiritualidade sem o outro, não há espiritualidade sem compaixão (não confundir com pena) e acima de tudo, não há espiritualidade sem compreensão das pessoas e da realidade que cada um vivencia na vida. Contextualizem sempre. Tire o seu foco, o seu olhar estreito, baseado em sua vivência ao analisar os outros. Pense no outro dentro da realidade em que ele vive, e não se detenha a essa realidade como sendo o outro. Será apenas parte do contexto que o formou. O outro é outra coisa. Está além, assim como nós, dessa passagem e segue passando.

Que possamos seguir vivendo com todas as dádivas que essa existência nos emprestou. Com toda a gratidão que venha de nosso coração, com toda, e ainda possível, pureza de nossa alma.

Desejo a todos ainda saúde em abundânciasabedoria para enfrentarmos a lida, amor para com todas as criaturas vivas do planeta, porque tudo tem alma, em graus diferenciados, todos somos amor no grande amor de Deus.

Que este novo ano venha repleto de muita vontade de mudar as coisas que não estamos de acordo, que possamos fortalecer nossos laços de amizade com o outro, com a vida e conosco. Que haja música para alma, que haja sinceridade em nossas ações e que possamos lidar com a sinceridade dos outros também.

Que a vida se empreste a cada um de vocês e que nos emprestemos à vida como todo o nosso coração.

Trabalho é o exercício de 2013.
Trabalho em todos os âmbitos de nossa existência.
Para executá-lo, AMOR grafado em caixa alto.

L u z!

Feliz Natal, Felizfimdomundo, feliz começo de novo!


elizpessoa

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Antes do fim



                                                                                       (Foto: Google Imagens)


Se o mundo irá dar o seu último suspiro na próxima sexta-feira, isso eu não sei. Ninguém de fato sabe. Mas repensando no fim, um novo começo se faz necessário. O que poderia ser alterado para que as coisas estejam melhores a partir do dia 21 de dezembro?

Nesta semana todas as notícias, mencionam o fim do FIM para 21/12/2012. Mais que findar o mundo encerrasse a penúltima sexta-feira desse ano que se despede antecipadamente. E logo ali, na curva da semana, anunciando o final de semana, natal e réveillon. Muito propício é o anuncio desse fim, no final do ano. Não poderia ser no início ou até meio do ano? Quantas sensações se renovam no término dos ciclos, quanta poesia se empresta a essa data sem terrorismos, cataclismos, destruições superdimensionadas? Seria esse fim apenas um dia a mais no nosso calendário, ou mais um dia novo que logo envelhece rapidamente?

Se o mundo irá acabar na próxima sexta-feira, eu não sei. O que sei é que ainda há tempo de fazer a coisa certa, no seu tempo certo antes do “fim dos tempos”.

Ainda há tempo de repensar tudo isso.

elizpessoa

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sobre passarinhos, gatos e outras coisas


                                                                                (Foto: Google Imagens)


Havia um pequeno pássaro cor de barro que de tanto procurar por terra para construir sua casa, era de costume encontrá-lo pisando em gramas, vasculhando a terra como bico. Miúdo por natureza, trabalhador pelo mesmo motivo, um passarinho.

Havia um gato, muitos pelos e habilidades. Curioso por natureza, que de tanto curiar às vezes se dava mal, às vezes se dava bem.

Havia um homem, muitos pensamentos, outros olhares entre o pássaro e o gato.
Havia alguém além de quem escrevia.

Alguém que via o pássaro, o gato e o homem. Esse alguém além das palavras.
Alguém que enxergava as coisas em 380°, como olhos de Lince com efeito em 3D.

Alguém tão inexplicável, tão grandioso que não era possível classificá-lo, conceituá-lo, aprisioná-lo, alguém além de todas as matérias, de todas as ciências, de todas as coisas, de tudo. Alguém que era tudo isso e não era nada alem disso.

Havia um alguém cheio de liberdade.

Neste alguém o passarinho, o gato e o homem eram uma coisa só.
Essa coisa toda!



elizpessoa

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Sobre um Deus hippie



                                                               (Fonte da Imagem: Google Imagens)


Por horas me pego pensando nesse Deus que vive aqui dentro e mora lá fora.
Que me faz companhia quando tudo em mim é solidão.

Deus de tantos eus espaçosos, roubando e devolvendo o sentido da existência.
Esse ser que cabe tão bem num espaço curto de saudade.
Cheio de alegria, quando a chuva despenca no telhado.

Por horas penso nesse Deus e toda a razão míngua diante do invisível em nós.
Deus presente nas crianças e nos animais. Por que maior pureza não há que as coisas simples preenchidas de esperança.

Por horas sinto esse Deus que não vive dentro de templos, não se esconde em religiões, não se apresenta nos discursos prontos e entorpecidos, de alguns homens já distanciados da inocência.

Por horas penso nesse Deus imenso em cada um de nós.
Esse Deus hippie de pés descalços.
Deus da palavra e do silêncio, senhor de muitas moradas.

Por horas uma poesia, outra maestria e a vida, centelha em mim, enquanto exercito a mentira do existir.
Por horas esse olhar infinito sobre as coisas curtas e passageiras.

Por Deus, há algo em mim que não cabe aqui dentro, que é parte de tudo o que sinto. Pura beleza e contemplação.

Por Deus há em mim, uma oração e um chacra aberto no peito.

elizpessoa

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Sobre algo dentro da gente

                                                                       (Fonte Imagem: Google Imagens)


Minha mente não para. Inquieta, fala, grita.

Adolescente, minha mente é cinema e imagem.

Compulsiva por palavras, sem formar uma só frase.

Aflita, pede silêncio.

Não tem papas na língua.

Vive de metáforas.

Minha mente mente o tempo todo, tentando levar de mim a verdade. Alguma coisa lá escondida...

Minha mente, um hiato.

Não é minha. Não é de ninguém.

Parte dela são paz e acolhimento,

Silêncio e solidão.

Outro esquecimento.

Minha mente é coração e coragem.

Pulsa exercitando a ilusão do existir.

Ilusão maior, a morte.

Minha mente, onde quer que eu esteja.


elizpessoa

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sobre sombras




                                                                                 (Foto: Google Imagens)


A cidade parece a mesma. É a mesma! Ainda que as cores se apresentem diferentes a cada dia.

O que repete anestesia o olhar e o sentimento.
O que se dá, da dentro da gente e passa.
                             
Fora, tudo se mostra por partes e alguma coisa continua oculta pelas sombras que exibem árvores nubladas no chão.

De lado de cá, nossas sombras nos perseguem enquanto é dia.

E a noite todas as sombras são pardas. Os gatos também, as putas também, a gente também.
As sombras nos impede de ver as pessoas e oculta defeitos e imperfeições.

De dia, tudo é claro e modesto. Tudo é simples e imperfeito. Tudo vige à revelia de um instante vago entre o que sinto e o que vejo.

Só de dia.


elizpessoa

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A respeito de um gato amarelo







Ele é meu amigo de longas datas. Já nos aturamos há 12 anos.
Ele é de Touro, eu sou de Gêmeos e ainda assim, não somos o inferno astral um do outro. Muito pelo contrário. Ele é galego, tem os olhos e os pelos amarelos. Bastante centrado, desde pequeno era assim.
serenidade que lhe cabe tão bem, me falta muito. Talvez por essa razão, goste ainda mais dele.

Ele tá ficando velhinho, tem exigido minha presença mais do que antes. Dorme comigo, e quando não estou em casa, dorme na porta de entrada, como quem diz: hoje você me deixou aqui, mas tudo bem, amanhã não haverá espaço para desculpas.

Ele não briga por um prato de ração, mas fareja longe o cheiro de presunto e queijo, os seus preferidos. 

Não é dado a visitas externas, também não gosta de rua e detesta tomar banho. Mas de tanto confiar em mim, acaba se deixando lavar com sabão de côco. Inteligente, sabe que sou maior em tamanho, e tem confiança em mim. Ele me dá trabalho, mas é o menor trabalho em relação às outras coisas.

É do bem, da paz. Tem a serenidade de quem já viveu o suficiente para entender que viver exige paciência, e mais que isso, tolerância às diferenças.

Às vezes acho que ele tem muito mais a me ensinar do que eu suponho, mas todos eles têm um rasco de sabedoria. É o primeiro a me desejar um bom dia e último a me lembrar de que já é tarde da noite.

Adora chamar a atenção subindo nos livros, revistas e sobre tudo o mais que meus olhos fixarem.
Ele não tem tempo, nem gosto por brigas e sabe que tem toda a moral para fazer-se respeitar.
Ninguém o desafia. Nem eu.

Ele me ensinou a gostar das coisas simples e passageiras. Porque o tempo dele, o meu e o seu já não são mais o mesmo. 

Com ele vou aprendendo a calar a voz, a contemplar o silêncio, a deixar a música invadir o corpo e a alma. Ensinou-me a gostar da cama, do sono e da preguiça e a me comportar um pouco como "gata". Logo eu que sempre tive um temperamento mais para cachorros.

Contou-me sobre a importância de espreguiçar até esticar o último músculo do corpo. Ensinou yôga, meditação e intuição. Já me contou sobre espíritos, mistérios e os vazios. Mostrou-me sobre a importância de se deixar acalentar sem que isso fosse sinal de fraqueza. Que era preciso baixar a guarda de vez em quando, e ainda assim não perder a agilidade e a percepção aguçada das coisas e pessoas.

Fez-me experimentar um pouco do que é responsabilidade, e que muitas vezes, não é necessário falar absolutamente nada para dizer muita coisa.

Aprendi que a palavra nem sempre gera entendimento.

Eu sei, eu sei que ele é apenas um gato de estimação, mas há tanto mais nele que apenas isso. Por isso ele é o meu Trigóvisky, o amarelo mais amarelo que todos os outros amarelos do mundo.
Ronronando ao meu lado, percebo que a vida passa tão rápida e a gente também.

Para o meu precioso Trigo.


elizpessoa

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Por aí


Passa o tempo, corre a vida. Passo a passo o asfalto segue impune sobre os pés calçados, num tênis despojado e já envelhecido por muitas lavagens. Olhar desatento, óculos escuros, raso conceito do dia. Alguém solta um sorriso que logo se vai com a quilometragem do carro e bem à frente, um horizonte desenhado por nuvens de chuva. E assim vai novembro deixando a gente mais perto do amanhã do que do ontem.

Final de ano e as mesmas sensações repetidas: festas, compras, frenesi das pessoas pelos apelos da propaganda, pedindo por mais uma dose da nossa embriaguez, como um espírito encostado que suga a vida pelos goles da melhor cerveja que você já experimentara.

Um pouco de paz em meio a tudo isso. E é bem possível encontrá-la desarmando esse feitiço, dando menor importância à embriaguez do dia.

Mas o feitiço taí, emprestando-se cotidianamente, como se acordássemos um dia e pudéssemos ser menos críticos, menos chatos e isolados de todo mundo. E assim seguimos sem receitas. Sobreviventes. Olhar, palavras desarmadas pelo excesso, ouvidos atentos aos outros e suas histórias, às vezes engraçadas, noutras ensurdecedoras.  

Pensei numa ginástica matinal para queimar a fadiga e encontrei o silêncio em tempos geminianos. Ufa! Difícil correr tanto assim! Mas tudo bem. Encontrei um equilíbrio que anda em cordas bambas sobre o imenso precipício do viver.  Lá embaixo, apenas a morte espera atenta à hora de se lançar e dizer que não dá mais tempo. Mas como não poderia deixar de novamente SER, escolhemos a vida: injuriada, bela, misteriosa, passível de todas as experimentações, continuada, caminhando passo a passo naquele velho tênis desbotado pelo tempo.

Um dia me contaram que as girafas não se alimentavam daquelas nuvens que vejo ao longe e que Papai Noel não passava de uma boa sensação natalina. E assim, fui aceitando a fantasia seguindo ao meu lado.

E, embora eu conheça a real da vida, aprendi a conviver com a fantasia presente nas coisas, e assim amadurecer sem fenecer por inteiro.


elizpessoa

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sobre a chuva



                                                                                 (Foto: Google Imagens)



Choveu por toda a cidade e ela amanheceu úmida e indiferente.
Nublou sobre os pensamentos daqueles que amanheceram sós em si mesmo.
Outros griparam mediante os tons acinzentados lá de fora.

Não houve mais aquele sentimento confuso, disperso sobre tudo que muda.

Sobre o tempo do tempo todo.

Choveu por toda a cidade, enquanto o teclado seguia seu destino compulsivo em redigir alguma coisa sem pretexto aparente.

Uma ideia expandiu-se na cabeça do indivíduo que escrevia, e ele não sabia por que tanto exercia essa mania.

Choveu sobre a roseira de um jardim qualquer, enquanto um senhor tinha os olhos molhados pela dor e alguns guarda-chuvas resistiam bravamente à força dos ventos de Iansã.

A cidade ficou muda e lavada enquanto se vivia.

Choveu, enquanto eu dormia.


elizpessoa

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A árvore



                                                                            (Foto: Eliz Pessoa)


O telefone tocou. Do outro lado, ela, um tanto quanto diferente do habitual, ergue a voz dizendo que uma cena de guerra instalara-se na W3 Norte. Um tanto sem acreditar na imposição de sua voz, ainda mais porque ela não é de agir assim, muito pelo contrário, sempre usa de equilíbrio e ausência de exageros para dizer algo, e por essa mesma razão foi que a levei a sério, porque ela é dada a seriedades.

Não satisfeita, me convidou para descer e ver de perto o caos. Não pude negar seu pedido e nem anular minha curiosidade. Saímos a pé, cabelos ouriçados pela natureza, calças desbotadas, óculos na cara para enxergar melhor o problema, que até então, só fora lembrado pelo vento forte na janela, pelo peso da água sobre a morada, pelas cores escuras do céu, pelo o dia que virara noite tão repentinamente e pelo estrondo de um único e sincero raio que caíra sobre alguma parte da cidade, bem perto dali.

Teria sido o raio que arrancara as árvores da avenida, ou, o vento e toda a sua intensidade resolvera mostrar provas de suas habilidades de vento?

Quando lá chegamos, ela havia sido arrancada pela raiz, levando consigo uma vida inteira de árvore, que leva um tempo para amadurecer completamente. Talvez por essa mesma razão, ela tenha se dobrado aos artifícios do vento, deixando-se render por inteira.

O fato é que venho confessar minha simpatia pelas árvores. Aprecio a generosidade delas e sempre as vi com bons olhos. Não é à toa que a revolta das árvores que se passa na história do Senhor dos Anéis tanto me agrada. Mas na vida prática, elas não podem arrancarem-se do chão e seguirem proclamando independência, pois acostumaram-se a fincar raízes, nem tão profundas assim, como no caso das que residem na W3. Nasceram sobre o elemento terra e sempre exigiram praticidade e firmeza para enfrentarem anos erguidas, lutando contra a lei da gravidade.

Ela caída fechando a avenida, os carros desviando sobre as calçadas e o formigueiro de curiosos saindo dos buracos, como ratos atrás de queijo.

Nós humanos, sempre afoitos por alguma novidade, saímos às ruas. Alguns se sentiram jornalistas do caso da árvore vencida pelas ironias do vento forte daquela chuva repentina e começaram a filmar com celular e a relatarem o caso. Outros aproveitavam para postar nas redes sociais o acontecido. Um flamenguista fez questão de posicionar-se próximo a raiz apontando para ela, enquanto outro sujeito sacava uma foto, fazendo do caos uma grande distração momentânea como quase tudo por aqui.

Logo a imprensa chegou e a notícia se espalhou junto aos curiosos.  Transformando aquela tarde de sábado numa grande atração, sem artistas, nem palco. Apenas um morto, a árvore. Somente ela, no singular em meio a tantos contra tempos.


elizpessoa

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Sobre um trago e o pensamento




Atravessou a rua sem olhar ao lado, esqueceu-se do sentido raso das coisas corriqueiras. Pensou novamente, e por um triz, o asfalto molhado sobre seus pés escondidos.

Cidade larga de horizontes estreitos. Coçou a cabeça, fingiu que não percebeu, seguiu em frente. Atropelou-se em outro pensamento, uma ideia escondida. Escutou a canção que lhe contava algo indecifrável por seus conhecimentos. Puxou um maço de cigarros do bolso da jaqueta, procurava por um alívio imediato. Ascendeu o cigarro e o tragou fundo, como quem tenta um novo suspiro sobre o vento. Olhou para o céu, para o lado. Percebeu a velocidade das pessoas em sua volta, queria esquecer tudo isso um pouco.

Tragou mais duas, três, quatro e cinco vezes repetidas. Experimentou certo alívio no entorpecimento. Engoliu a seco uma saliva passageira, sentia a garganta ressecada. Tragou novamente. Não tinha certeza de toda àquela agitação, daquele verbo. Não tinha muito tempo para resolver suas pendências, refletiu. Quem o tinha?

Era tarde de um dia repetido pela primeira vez... Outra semana, a única entre tantas unicidades. Mais era a mesma coisa, do mesmo sempre, de todo dia. Era o atalho sobre si mesmo. Tentava sem muito esforço, mudar o hábito. Diziam que vinte e um dias era o suficiente. Para quem?

Queria mesmo acordar mais cedo. Lá pelas seis da manhã, tomar um banho frio, despreocupada. Um café preto e um pão com manteiga, vestir a roupa, outra sapato e sair sem pressa para enfrentar a lida. Mas teu sono, teus sonhos, sua preguiça eram reis. Mandavam e desmandavam. Sabia que eram possíveis e plausíveis teus significados, mas também conhecia o poder de uma ação imperativa. Ela tinha que mudar tentar diferente, começando pelo sono.

Queria ler outro livro, se apaixonar por outras palavras, ainda que desconfiadas e inconfiáveis. Não havia tempo pra duvidar das coisas, não havia por que tantas interrogações. Era ela, sua cabeça e o mundo presente numa caixinha de surpresas. Se o mundo iria se acabar, ninguém sabia, nem ela. Mas pensou ironizando todas as profecias: era sim, dia vinte e um de dezembro de dois mil e doze, em plena sexta-feira, um bom dia para se celebrar numa festa, que chamaria de “Festa do Fim do Mundo”. Morreria ao menos feliz ao som de uma música, cercada de pessoas bebendo cerveja, experimentando um pouquinho de novos sorrisos.

E se, de repente, o mundo findasse ali, partiria sem menos grilos e deixaria um mundo bagunçado, se o todo poderoso assim permitisse.


eliz pessoa