terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

BB, caixa rápido, fim de tarde, saque eletrônico. De um lado uma jovem mãe segura seu bebê nos braços, do outro um senhor, feição desgastada pelos anos que o consumiram como velas acessas, derretidas pelo tempo. No meio dos dois, eu... Ligeira, inquieta e pronta pra resolver uma transação bancárias. Dinheiro curto, que raramente vejo colorido em minhas mãos. Quase virtual.

Local mais tático pra levantar a palma das mãos e suplicar ajuda. Fico constrangida, me soa punk a recusa em ajudar. Mas ajudar a quem, se a esmola os torna mais miseráveis que o ato?

Continuo sem moeda, sem saber o que fazer. Mas faço. Checo o saldo e outra idéia me envolve a cabeça... Não se saca dinheiro trocado num caixa rápido, apenas notas inteiras, redondinhas como exatas.

Onde estariam as moedas, símbolo de nossa caridade safada, revestida de hipocrisia, programada para aliviar o peso de nossa consciência desconfiada e confinada em nós?

Exercito o papel, encontro as moedas tímidas na mochila. E agora, pra qual dos dois as daria? Pro velho cansado da guerra, ou pra jovem de seios de vazios com o filho faminto por leite?

Até parece conto da “carochinha”, mas é mais uma imagem rotineira das ruas. Passagem pro texto.

Mal penso e repasso a prata pra mãos da mulher. Incomoda-me novamente. O velho me olha sem vontade, a moça agradece sem esperança, a idéia não amenizada e a miséria que parece um insulto, mas ainda motiva a fé de um homem cansado.

eliz

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Brasília às vezes me causa estranheza... Parece fria, e quando faz frio, isso se evidencia mais.
Hoje ta frio, tão frio que nem os atletas em cooper nas quadras, me dão a impressão de calor humano.

Na altura da nove sul, a graça só desfila no movimento dos carros em plena tesourinha, ou nas conversas dos botecos aquecidos pelo teor alcoólico.

Há muito que andar, mas paro de passos em passos pra redigir o atalho.

A placa anuncia curso de assistência técnica. E quem não precisa de uma?

Esta cidade é muito diferente de tudo, nem os meninos embaixo dos blocos parecem trazer um som novo. E quem disse que o Rock não se perdeu?
Ao menos o vôlei, nas quadras de areia, permaneceu dentro da camisa do Botafogo, que bem poderia ser o Vasco, inalterada.

Por aqui as árvores vestiram-se de lodo, as calçadas formaram tapetes de pés-de-macaco, que senão tomar cuidado... Cuidado!!
As bicicletas estão presas nos pc’s, e só desfilam nas ruas, aposentados e seus dog’s. Muitos poodles. Entre eles, cachorros de apartamentos. O garoto passa com seu violão e a música emaranhada nele.

Caberia um Whisky só para experimentar o torpor que dizem trazer uma onda diferente. Ou ao menos, pra esquentar as sensações entorpecidas pelo dia.

Os hippies ainda me causam miséria e liberdade, quando a poça d’ água anuncia o rosto da moça.

A Pioneira, ainda é da Borracha, as raízes das árvores ainda causam alteração no asfalto e “o pulso ainda pulsa, num corpo que ainda é pouco” nos braços das meninas, que desfilam sacolas de supermercados.

Brasília é tão estranha, tão estranha que falta referência que nos forneça idéias novas.
No novo, já nasce velho.

Falta reboliço e inquietação.
Sobra juízo e imposição.
E nada sufoca mais que a falta de abismo.

Esta cidade anda tão distante de mim e ainda é o centro de tudo.

eliz pessoa
bsb, 14/02-2007