domingo, 28 de novembro de 2010

Rio para não chorar



Foto: Marco Antônio Teixeira - O GLOBO


Assistindo ao último noticiário, fiquei impressionada com os acontecimentos incendiários nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. É triste constatar quando o Estado perde sua autonomia para a marginalidade. O lado B das coisas tem intimidado, chamando a atenção da mídia e de todos para o problema instalado no Rio. De um lado o Estado omisso, retardando ações necessárias e envelhecidas, varrendo a sujeira para debaixo do tapete das transmissões simultâneas televisivas. Do outro, o tráfico de drogas, escondendo-se e dominando as entranhas das favelas com suas casas empilhadas, uma a uma sobre a cabeça do cidadão trabalhador que não teve outra opção na vida de uma melhor moradia, o problema social que envolve toda a dinâmica das drogas, como: o tênis que o garoto sonha em calçar, a jaqueta, o boné, a moto e toda a facilidade que só o dinheiro compra e que todos querem ter. O poder desses símbolos. Não fossem somente essas questões, mas outras tantas como o fascínio de uma juventude sem perspectivas futuras, que lhes dessem outros sonhos além dos visualizados em favelas. Dinheiro rápido em curto espaço de tempo, mudança de status, ainda que ilusórios e uma vida certamente encurtada pela realidade de uma guerra civil, agora declarada.

Depois de assistir ao filme “Tropa de Elite”, as notícias e entrevistas aclamadas pela imprensa lado A, puseram em cheque algumas questões: como acreditar nas palavras burocráticas responsáveis pela segurança pública, governadores de estado e demais representantes legais de que as coisas estão sob controle? Acreditar que ações de tanques de guerra, reforço militar adentrando a zona norte carioca, estariam solucionando o problema. Parecem ações paliativas de curta duração, programadas para, literalmente, apagar o fogo de uma espécie de alívio imediato, que lá na frente trará outros revertérios na boca do estômago do sistema. Por outro lado, quais seriam as soluções fadadas ao acerto? Políticas públicas na área educacional, geração de oportunidade de profissionalização nas favelas e periferias? Adequações de salários e melhores condições de trabalho aos policiais? Combate direto a corrupção afagada pelo Estado? Quantas questões a mais caberiam neste questionário? E a prática de todas elas? Eu não sei responder a tantas interrogações, mas francamente, esperava que nossos representantes assumissem a realidade dessa verdade social. Não dá mais para fingir controle, quando as imagens e os números não mentem. Do contrário, escarram um catarro verde e carregado de um peito congestionado e doente.

Ao final das eleições, ficaram as promessas de mudanças e os olhares angustiados do cidadão comum com a vida que é rotina e massiva naquela realidade.
Em meio ao caos, o medo não é a melhor solução, nem o melhor alento.

“Rio para não chorar”.

eliz pessoa