domingo, 21 de abril de 2013

Quanto ao tempo


                                                                           (Foto: agenciabrasilebc.com.br)



A tarde de hoje veio cercada de um sol tímido e colorido. Em meio a sensação de frio, os preságios da seca, estação esta tão brasiliana, veio com graça. Não sei o que dá no peito, mas sempre alguma coisa renovada vem com o ar seco. Lembranças das festas juninas, muito agasalho, sopas e caldos, milhos e quentões, bandeirinhas de São João, São Pedro e São José, e uma vontade de aquecer as noites em volta de fogueiras e violões. Certa nostalgia no clima e no tempero das coisas.

Por fato, Brasília faz aniversário hoje. A cidade tem a cara da seca, do pôr-do-sol mais avermelhado que já se viu. É impossível nascer aqui e se sentir indiferente quando a névoa seca afeta a cidade. A estação das chuvas parece fadada ao esquecimento, ao menos até uma boa parte do ano. Viver sob o ar rarefeito, faz com que celebremos também a chuva, em especial, aquela primeira delas após meses e meses de grama seca.

Semana passada choveu, molhou tudo e o vento foi tão forte, a luz faltou, os olhos arregalaram-se no escuro, as noites ganharam ares de vida no campo e do sossego na roça. Depois, a chuva foi embora, a lua deu as caras clareando a estrada, e uma parte do silêncio invadiu a vizinhança quando se dormia.

Ontem fez frio, muito frio.
Ontem tive sono, muito sono.
Ontem Brasília estava tão diferente, e me senti feliz por estar perto dela. Feliz por vê-la tão linda de longe, linda de perto, misteriosa, parte intensa de toda essa gente que vive aqui.
Ontem foi um mais um dia, diferente de todos os outros.
Ontem não dormi, amanheci de ressaca quanto ao tempo.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Há males que vem pra bem


                                                               (Foto: Alexandre R. Costa, Google Imagens)


Finalmente após tantos e extensos anos, mudei.
Não mudei de cara, nem de roupa e nem de jeito.

Mudei pela dor, deixando de lado do amor, como sempre acontece na vida das pessoas em geral.

O que se fez diferente foi à geografia, a casa e a cultura do lugar. Antes havia um Plano Piloto, quase sempre muito caro e bem organizado. Agora, a cidade que nasceu nas poucas montanhas que margeiam àquela Brasília já vista de longe.

E lá se vão alguns anos, parte da vida gasta.

Não é fácil arriscar o novo, ainda mais quando ele nos exige outras percepções bem mais aguçadas.

Por aqui meu lema é passar despercebida, quase invisível. Para isso há que se esconder a tatuagem, prender o cabelo, apressar os passos para não dar tempo a nada. Chegar em casa e lá ficar tranquila.
O exercício agora é o contrário e às avessas a minha personalidade.
Mas quem disse que seria fácil? É, pelo o menos, calculável.

Nas artimanhas do existir, as coisas e circunstâncias seguem moldando novos olhares lançados primeiramente sobre os outros.

É tempo de novos desapegos. Pra ser bem sincera, já ando me acostumando com isso.

Tempo de minimizar as dificuldades, pois elas se impõem naturalmente, e enxergá-las abaixo de tantas graças recebidas. Seria de minha parte, uma tremenda ingratidão. Mas não sou apta a esse tipo de sentimento. Agradeço a tantas pessoas e outros fatos.
Por essas razões é que meu tempo será sempre hoje. Agorinha mesmo.


elizpessoa