quarta-feira, 21 de agosto de 2013



Era para ser uma passagem entre um dia e outro. Ela bem que tentará não prestar atenção nos detalhes que a cercavam como a conversa trocada das mulheres no ônibus, como a grosseria do motorista sempre arrumando confusão com os passageiros, sendo doce apenas com a moça que o paquerava. Aliás, esta moça era a certeza de que o ônibus não havia passado mais cedo. Onde ela estivesse lá estava à outra moça confiante na volta para casa. Todo dia era assim, trânsito congestionado, fluxo intenso, Brasília vista ao longe.

A correria da semana exigia de cada um, um pouco mais de paciência, muito mais de empatia e exercício. Nunca fora fácil viver em sociedade, respeitar as diferenças que pesavam pra mais e menos. Mas de certo modo, dava para entender os porquês de o criador ter nos dado a chance de voltarmos pra cá. A escolha de aqui estarmos era a maior dádiva de todas. Dentro dessa grandiosidade cabiam, além da gravidade, outros pesos do existir. Ficaria mais fácil de aceitássemos que o mundo se entorta em reticências, se dobra em malícias, se enche de gente indo e vindo constantemente.

O mundo, este que pisamos, também vinha cheio de fadigas, estafas, vontade de não fazer nada nas próximas horas latentes. Mas num tempo onde correr é imperativo, seguir freneticamente tem sido regra imposta por uma ditadura consumista. Corra, trabalhe, estude, lute, vingue, prossiga, grite, compre, coma, ganhe, lucre, tenha, seja, sociabilize-se e não tente fugir do esquema.

Ela só queria não parar de tentar. Tinha dias que esse não parar, não era nada fácil – negócio escuso, impertinente. Tentar de novo, colocar a cabeça para erguer o corpo, para injetar ânimo na alma. Escrever pra dar sentindo, ainda que as palavras se resumissem no olhar crônico da mesmice. Todo dia santo e todo santo dia.

Ela, uma moça naquele dia exausta, perdera o brilho no olhar. Aquele brilho tão necessário para o gosto na vida. Aquele mesmo brilho que faz de uma simples imagem, um turbilhão de sentimentos felizes. Só num dia desses qualquer por aí.



elizpessoa

Um comentário:

SheilaMelo* disse...

Nao! Nao perca, nunca perca! Empilhar pernas sobre pes, tronco sobre pernas e cabeça, sobre todo o resto, todo dia, nao e facil. Existir deveria ser mais do que isso. Mas nunca perca o brilho no olhar............mesmo sem saber, vc escolheu ter estes olhos agora, pra poder olhar mais bonito depois.


Um beijo!