foto: smuff
Despretensiosamente, acessei a Internet em espaço público, aberto a outros olhares. Vasculhando meus e-mails, fiquei ali exercitando minha miopia cansada, com os olhos sobre a tela do vídeo.
Ele chegou, sentou-se na máquina ao lado, ajeitou os óculos sobre os ossos do nariz, pegou no mouse com certa falta de jeito e acertou a mira no monitor. Desliguei-me do fato ao lado. Depois, ele veio meio sem jeito, pedindo para auxiliá-lo no acesso à página virtual. Segurava em suas mãos um guardanapo de restaurante com um endereço de e-mail, mais nada. Ele referia-se ao endereço como se fosse um sítio. Levantei do micro que eu usava e fui explicar as diferenças entre sítio e e-mail. Ouviu-me pacientemente, depois disse que não tinha um e-mail. Sugeri que fizéssemos uma conta, para que assim ele pudesse enviar a referida mensagem para a tal pessoa. Topou na hora. Mecanicamente, fomos descobrindo os caminhos da rede, buscamos o Yahoo e criamos uma conta.
Depois de feito todo o processo, deixei-o livre para escrever à vontade.
Ele, com aquele dedo indicador procurando o P no teclado, indicado pelas letrinhas, digitando no seu tempo, ao seu modo. Tratava-se de uma confidência de amor, pelo que pude perceber, não quis invadir sua privacidade.
Ele, um senhor aparentando uns 57 anos, pele cansada, olhos pesados, simpatia e um pedido de ajuda. Geminiano como eu, como pude perceber pela data da nascimento na hora de preencher os formulários eletrônicos da conta, que ele quis omitir.
Mas o que aconteceu é que o e-mail voltou. E ele, achando que tinha tudo dado certo, ficou ali, feliz da vida, acreditando que sua mensagem teria sido entregue ao destinatário. Mostrei que não havia ocorrido nada disso, pois a mensagem havia retornado com aviso de erro em inglês. Só me recordo-me do “sorry” e daquelas coisinhas que mostram quando a coisa não vingou. Coisas da tecnologia.
Ele perguntou-me se a pessoa responderia logo que recebesse. Respondi, com bastante honestidade, que dependeria primeiro, dela receber o e-mail. Segundo, da vontade dela em responder com a mesma urgência dele. Coisa que independeria da vontade dele. Então, enviou novamente o e-mail que retornou com a mesma velocidade de não recebimento.
Meio sem jeito, frustrado em suas expectativas, ansioso por um retorno vindo de lá. Tentou disfarçar sua falta de jeito. Novamente deixei-o pensar sozinho e retomei minhas atividades virtuais.
Pensou, repensou e resolveu fechar a página na Internet sem fechar sua caixa de e-mail corretamente. Tentando ajudá-lo de alguma maneira razoável, perguntei se ele havia fechado direito seu e-mail, retomei a explicação abrindo a caixa e voltei a tocar no assunto do e-mail... Como quem tenta vingar-se, talvez do próprio sentimento, ele disse que tinha apagado tudo. Que não queria mandar mais nada. Estranhei, mas reconheci de imediato a atitude derradeira, tão humana que cabe tão dentro de cada um de nós, em algum canto de nossa passagem, varada pela existência. Tentando prender a atenção do meu “aluno”, falei dos procedimentos ao desconectar o e-mail. Mais uma vez, ouviu-me, prestou atenção e disfarçou sem êxito sua tristeza.
Depois agradeceu pela paciência (que não tenho normalmente) e pediu meu número de telefone. Virou o outro lado do mesmo guardanapo onde estava o e-mail da moça, como se virasse uma página, anotou meu número lá e partiu.
Fiquei pensando em todas as nossas carências, querências, expectativas em relação aos outros, percebi que ninguém é auto-suficiente. Nem ele, nem eu, nem ninguém.
:: eliz ::
Ele chegou, sentou-se na máquina ao lado, ajeitou os óculos sobre os ossos do nariz, pegou no mouse com certa falta de jeito e acertou a mira no monitor. Desliguei-me do fato ao lado. Depois, ele veio meio sem jeito, pedindo para auxiliá-lo no acesso à página virtual. Segurava em suas mãos um guardanapo de restaurante com um endereço de e-mail, mais nada. Ele referia-se ao endereço como se fosse um sítio. Levantei do micro que eu usava e fui explicar as diferenças entre sítio e e-mail. Ouviu-me pacientemente, depois disse que não tinha um e-mail. Sugeri que fizéssemos uma conta, para que assim ele pudesse enviar a referida mensagem para a tal pessoa. Topou na hora. Mecanicamente, fomos descobrindo os caminhos da rede, buscamos o Yahoo e criamos uma conta.
Depois de feito todo o processo, deixei-o livre para escrever à vontade.
Ele, com aquele dedo indicador procurando o P no teclado, indicado pelas letrinhas, digitando no seu tempo, ao seu modo. Tratava-se de uma confidência de amor, pelo que pude perceber, não quis invadir sua privacidade.
Ele, um senhor aparentando uns 57 anos, pele cansada, olhos pesados, simpatia e um pedido de ajuda. Geminiano como eu, como pude perceber pela data da nascimento na hora de preencher os formulários eletrônicos da conta, que ele quis omitir.
Mas o que aconteceu é que o e-mail voltou. E ele, achando que tinha tudo dado certo, ficou ali, feliz da vida, acreditando que sua mensagem teria sido entregue ao destinatário. Mostrei que não havia ocorrido nada disso, pois a mensagem havia retornado com aviso de erro em inglês. Só me recordo-me do “sorry” e daquelas coisinhas que mostram quando a coisa não vingou. Coisas da tecnologia.
Ele perguntou-me se a pessoa responderia logo que recebesse. Respondi, com bastante honestidade, que dependeria primeiro, dela receber o e-mail. Segundo, da vontade dela em responder com a mesma urgência dele. Coisa que independeria da vontade dele. Então, enviou novamente o e-mail que retornou com a mesma velocidade de não recebimento.
Meio sem jeito, frustrado em suas expectativas, ansioso por um retorno vindo de lá. Tentou disfarçar sua falta de jeito. Novamente deixei-o pensar sozinho e retomei minhas atividades virtuais.
Pensou, repensou e resolveu fechar a página na Internet sem fechar sua caixa de e-mail corretamente. Tentando ajudá-lo de alguma maneira razoável, perguntei se ele havia fechado direito seu e-mail, retomei a explicação abrindo a caixa e voltei a tocar no assunto do e-mail... Como quem tenta vingar-se, talvez do próprio sentimento, ele disse que tinha apagado tudo. Que não queria mandar mais nada. Estranhei, mas reconheci de imediato a atitude derradeira, tão humana que cabe tão dentro de cada um de nós, em algum canto de nossa passagem, varada pela existência. Tentando prender a atenção do meu “aluno”, falei dos procedimentos ao desconectar o e-mail. Mais uma vez, ouviu-me, prestou atenção e disfarçou sem êxito sua tristeza.
Depois agradeceu pela paciência (que não tenho normalmente) e pediu meu número de telefone. Virou o outro lado do mesmo guardanapo onde estava o e-mail da moça, como se virasse uma página, anotou meu número lá e partiu.
Fiquei pensando em todas as nossas carências, querências, expectativas em relação aos outros, percebi que ninguém é auto-suficiente. Nem ele, nem eu, nem ninguém.
:: eliz ::
Um comentário:
Imaginei 1000 coisas agora. Dessa angústia que muitas vezes sentimos, dessa necessidade de resposta, dessa urgência. Por que motivos as coisas são tão complicadas, por que há tantos desencontros.
"A vida pede amor"
A primeira vez q venho aqui... gostei muito!
Parabéns...
Juliana
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