quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sobre essa coisa toda



                                                                 (Foto: Paulo Araújo)


Não é emoção que me falta, sobra sem desperdícios.
Não sou eu que me escrevo,
é outro eu aqui dentro que pede passagem pela minha experiência e se experimenta desfrutando o caminho.

Não é dentro de labirintos que me perco,
me encontro refletida nas retinas do outro, o desconhecido.

Sou um pouco dos desafortunados perambulando pelas ruas da cidade,
e sou muito do trabalhador impregnado da mesmice.

Assombro-me  com a soberba dos desavisados sobre a vida,
e divido-me em tudo que me toca de verdade unificando tudo isso.

Sou um dia após outro, o conta gota das palavras, a moça do sorriso fácil e voz embargada,
o experimento dos sentidos, o subtefúrgio da alma.

E não sou daqui, estou aqui procurando acertar os ponteiros do tempo,
procurando a beleza em meio a imperfeição.

Sou o que em mim padece e a dor da construção, o rasco de instante fecundo,
a palavra gasta sobre a mesa, a descontrução das certezas, outro texto que nasce.

Sou tudo isso e quase nada, a metamorfose da viagem.
Sou a agonia do trânsito engarrafado, o silêncio de um inocênte esquecido pela lei dos homens preso num buraco do esquecimento, a intuição mais primitiva, o afeto vago.

Sou a poesia que se empresta todo santo dia, um ano depois de outro,
a vírgula mais constante das pausas, a moça em mim revelada,
o amigo que mora distante,
o compromisso com a vida.
Esta mesma a qual pertenço!
A vida que se escreve em mim, como a flor da tatuagem na pele queimada.
Sou enquanto sigo, mas não indiferente à nada.

Por isso tanto barulho, uma espécie de anarquia generalizada,
enquanto tento me enquadrar na normalidade amoral das convivências,
sem mais compreender uma grama dessa parada.


elizpessoa

Um comentário:

Anônimo disse...

uau!!
:)

cabeça