segunda-feira, 30 de julho de 2012

Ela e o sistema



 Tá na cara que ela deu um duro danado para comprar um celular novo, beirando ao "muderno". Até aí, tudo certo.

Olho pelo vidro e vejo a vida apressada lá fora  e quase acredito num instante de silêncio. Ela manuseia o aparelho, brinca com o teclado touch screen deslizando o dedo suado. Observo-a estranhamente. Ela  atenta, nem se dá conta de mais nada. Não satisfeita, coloca uma musiquinha estúpida, quase amaldiçoada, de arrepiar os ouvidos. Mentalizo... juro que mentalizo que ela desligue o maldito aparelho! Cadê o fone de ouvido? Porque ela o trata com tanta indiferença?

Ela se envaidece com o som - MÚSICA RUIM DA PORRA! Não consigo controlar minha impaciência e fico ruminando na mente um diálogo com a dita cuja:

- Moça, não me leve a mal, mas da para baixar o som, porque está todo mundo cansado?

Ela me olharia impiedosamente e ainda espaçosa, responderia que NÃO!

- Ta incomodada fia?

- Sim, estou e você não está em sua casa!

De volta ao momento, ela ainda impune, continua presa a si mesma, ignorando todo o resto. Ela não tem jeito, nem eu. Sua falta de educação impressiona-me em pleno transporte público, visão do inferno, espaço do holocausto, caminho do caos. Mas a falta de educação dela não poderia faltar em mim. Controlo um pouco de minha loucura contida num só pensamento e fujo da realidade projetando um futuro de moto. Solta no asfalto, numa decisão certeira: acabo com isso comprando uma moto e redigindo um texto novo, num contexto diferente e amplamente libertário, enquanto a vida pede passagem num instante fecundo.


elizpessoa

Nenhum comentário: