Tá na cara que ela deu um
duro danado para comprar um celular novo, beirando ao "muderno". Até
aí, tudo certo.
Olho pelo vidro e vejo
a vida apressada lá fora e quase acredito
num instante de silêncio. Ela manuseia o aparelho, brinca com o teclado touch screen deslizando o dedo suado.
Observo-a estranhamente. Ela atenta, nem
se dá conta de mais nada. Não satisfeita, coloca uma musiquinha estúpida, quase
amaldiçoada, de arrepiar os ouvidos. Mentalizo... juro que mentalizo que ela
desligue o maldito aparelho! Cadê o fone de ouvido? Porque ela o trata com
tanta indiferença?
Ela se envaidece com o
som - MÚSICA RUIM DA PORRA! Não consigo controlar minha impaciência e fico
ruminando na mente um diálogo com a dita cuja:
- Moça, não me leve a
mal, mas da para baixar o som, porque está todo mundo cansado?
Ela me olharia
impiedosamente e ainda espaçosa, responderia que NÃO!
- Ta incomodada fia?
- Sim, estou e você não
está em sua casa!
De volta ao momento,
ela ainda impune, continua presa a si mesma, ignorando todo o resto. Ela não
tem jeito, nem eu. Sua falta de educação impressiona-me em pleno transporte
público, visão do inferno, espaço do holocausto, caminho do caos. Mas a falta
de educação dela não poderia faltar em mim. Controlo um pouco de minha loucura
contida num só pensamento e fujo da realidade projetando um futuro de moto.
Solta no asfalto, numa decisão certeira: acabo com isso comprando uma moto e
redigindo um texto novo, num contexto diferente e amplamente libertário,
enquanto a vida pede passagem num instante fecundo.
elizpessoa
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