(Fonte da imagem: http://racks13.tumblr.com/)
De repente ele surge em
meio aos adultos que se empilham no corredor. Segue como uma tartaruga
carregando o pesado casco como quem se esconde do mundo. A casa, neste caso
mochila, bem mais carregada que ele. Seguro de si seu tempo não há pretéritos,
é tempo presente, de um menino presente, da infância presente. Meu olhar
cansado, ainda assim se encanta com o novo, se abre ao observá-lo tão cedo.
Reto em seus passos, ele alcança o fundo do ônibus e ali se posiciona, segurando com suas pequenas mãozinhas o ferro afixado próximo à saída. Seguro se si lembra um adulto, mas escondido lá atrás, sua pequena presença beira a indiferença dos outros, a minha.
Ele carrega a beleza de
um mundo novo e completamente encantador: uniforme da escola classe divide dois
mundos, duas cidades que me dividiram um dia. Em cada uma delas duas mães, uma
parida, outra criada, dois corações divididos pelo o meu. Dois amores vastos.
Como ele e em cada uma das cidades, uma criança que chegava e outra que partia,
dois estados, duas realidades. Vendo-o me vi ainda menina, cabelo emaranhado,
atropelando o tempo da escola, experimentando os sons da música, aprendendo o
apego e o desapego, experimentado um pouco das viagens entre as estradas e as
ideias, lembrando a menina que fui e a mulher que sou, quando seu telefone toca
e sutilmente ele abre a mochila e atende a ligação respondendo que já está a
caminho de casa. Desliga, ajeita a mochila e pensa...
Vendo o menino aprendi
a desaprender meias verdades e a questionar verdades supremas, quase islâmicas.
O menino e a menina em
mim, indo e vindo entre duas realidades indivisíveis.
elizpessoa
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