quarta-feira, 25 de julho de 2012

Coletivo - Parte II


                                              (Fonte da imagem: http://racks13.tumblr.com/)



De repente ele surge em meio aos adultos que se empilham no corredor. Segue como uma tartaruga carregando o pesado casco como quem se esconde do mundo. A casa, neste caso mochila, bem mais carregada que ele. Seguro de si seu tempo não há pretéritos, é tempo presente, de um menino presente, da infância presente. Meu olhar cansado, ainda assim se encanta com o novo, se abre ao observá-lo tão cedo.

Reto em seus passos, ele alcança o fundo do ônibus e ali se posiciona, segurando com suas pequenas mãozinhas o ferro afixado próximo à saída. Seguro se si lembra um adulto, mas escondido lá atrás, sua pequena presença beira a indiferença dos outros, a minha.

Ele carrega a beleza de um mundo novo e completamente encantador: uniforme da escola classe divide dois mundos, duas cidades que me dividiram um dia. Em cada uma delas duas mães, uma parida, outra criada, dois corações divididos pelo o meu. Dois amores vastos. Como ele e em cada uma das cidades, uma criança que chegava e outra que partia, dois estados, duas realidades. Vendo-o me vi ainda menina, cabelo emaranhado, atropelando o tempo da escola, experimentando os sons da música, aprendendo o apego e o desapego, experimentado um pouco das viagens entre as estradas e as ideias, lembrando a menina que fui e a mulher que sou, quando seu telefone toca e sutilmente ele abre a mochila e atende a ligação respondendo que já está a caminho de casa. Desliga, ajeita a mochila e pensa...

Vendo o menino aprendi a desaprender meias verdades e a questionar verdades supremas, quase islâmicas.
O menino e a menina em mim, indo e vindo entre duas realidades indivisíveis.



elizpessoa

Nenhum comentário: