terça-feira, 17 de julho de 2012


(Foto: Eliz Pessoa)


Logo e bem rapidamente sigo pelas ruas da cidade. Muros pichados em palavras de protestos, outros recheado da arte dos grafites que dão certo ar e graça a vista do cidadão que passa. Ônibus, sacolas plásticas jogadas aleatoriamente ao chão, lixo e o trabalho incessante dos garis que varrem às ruas dos não civilizados. Torre de transmissão levando o sinal do mundo num piscar de olhos do indivíduo. Tecnologia e tecnofobia de tudo. 

No tempo da pressa no asfalto, os atalhos nos remetem a nós mesmos. De repente me pego processando uma ideia proveitosa: e se eu pudesse pedalar e ao mesmo tempo recarregar a bateria do meu aparelho mp3 e assim seguir viagem sem deixar a música falta aos ouvidos? Soube que no interior de Minas, um prefeito anda estimulando seus presos a diminuir à pena pedalando e gerando energia para as praças da pequena cidade. Pelo o menos seis horas de pedal por dia são suficientes para colocar o coração em forma e a alma em juízo. Penso...

De alma carregada à pressa continuar fazendo parte das mesmas coisas, e sempre encontra espaço entre um pensamento e outra correria. Na mochila pesada, outra vida lá dentro carregada nos livros, nas promessas de inscrição, nos papéis maus recolhidos da estante do quarto, no maior peso de todos, advindo das contas que contam dias.

Mas a cidade... Ela sim parece engolir muito dos seres que nela se experimentam. Parece viva cálida e cansada. Reinventada nos acumula de sua personalidade. Ou seríamos nós que a submetemos a isso? Inteira e despedaçada, calçada todos os dias por pessoas, animais, veículos e outra animosidades. Não posso me perder quando transito por suas avenidas. De fato nem haveria como, pois a conheço melhor que a mim mesma. Sei dos teus artifícios para me enganar, de sua maestria em me seduzir, do seu dedo sujo apontando o nariz de outro. Sei até, de alguns segredos guardados em suas entranhas. Mas você, nem pensa muito sobre a minha cidadania.

Bem penso que caberia a minha pessoa, cuidar da sua imagem, mantê-la limpa. Bem mais que isso, caberia a mim, cuidar de suas dores também. 

Sigo por suas ruas e penso em você, cidade minha, como parte de tudo que me habita.


elizpessoa

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