Foto: Internet
- É apenas um real o drops de hortelã! Temos também amendoim
empacotado, gomas de mascar, tudotudo a preço de banana!
- Quem vai levar? Vamo,
vamo que esse preço é só por hoje!
- Leva um aí cobrador?
Beleza irmão, que Deus lhe pague!
Um olhar de rabo de
olho, sensações descompassadas, zona de conforto quebrada, lentidão de veículos
pesadas, caminhos cruzados entre vivos e mortos, fome exacerbada, observação
atenta da senhora ao lado, gentilezas de quem concede o acento, pele de moça de
segunda-feira, trânsito fluente, palavra assídua e um leve roçar desconfiado de
dedos sobre a cabeça, depois de um jeito desconfiado e outras oportunidades enquanto o tempo germina. Prováveis substantivos abstratos.
Este é o primeiro dia
de muitos outros nessa vida reciclada, e rapidamente ela passa vestindo camisa
xadrez e pesando nos braços uma sacola verde limão. O frenar do ônibus surpreendendo
a escrita, o cálculo inexato das coisas, um escapulário mapeando o pescoço, a
impaciência do lado de lá, as múltiplas pulseiras coloridas no braço do
cobrador, as luzes amarelas da cidade, a gentileza retribuída ao cavalheiro
que, agora de pé, assiste a vida pelos vidros da condução, como na tela do
cinema.
As pazes com as
circunstâncias, o dedo deslizando sobre o teclado do celular, um torpedo no
silêncio e o monólogo de uma moça acelerada, a materialização de um pensamento,
a palavra gasta sobre a pauta, o trânsito afunila a fome, aperta a pressa,
deixando a vida com cara de curta sem metragem e o amanhecer que logo entardecendo
tráz tempos de prédios esguios, retos e multiplicados.
elizpessoa
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