Atravessou a rua sem
olhar ao lado, esqueceu-se do sentido raso das coisas corriqueiras. Pensou
novamente, e por um triz, o asfalto molhado sobre seus pés escondidos.
Cidade larga de
horizontes estreitos. Coçou a cabeça, fingiu que não percebeu, seguiu em
frente. Atropelou-se em outro pensamento, uma ideia escondida. Escutou a canção
que lhe contava algo indecifrável por seus conhecimentos. Puxou um maço de
cigarros do bolso da jaqueta, procurava por um alívio imediato. Ascendeu o
cigarro e o tragou fundo, como quem tenta um novo suspiro sobre o vento. Olhou
para o céu, para o lado. Percebeu a velocidade das pessoas em sua volta, queria
esquecer tudo isso um pouco.
Tragou mais duas, três,
quatro e cinco vezes repetidas. Experimentou certo alívio no entorpecimento.
Engoliu a seco uma saliva passageira, sentia a garganta ressecada. Tragou
novamente. Não tinha certeza de toda àquela agitação, daquele verbo. Não tinha
muito tempo para resolver suas pendências, refletiu. Quem o tinha?
Era tarde de um dia
repetido pela primeira vez... Outra semana, a única entre tantas unicidades.
Mais era a mesma coisa, do mesmo sempre, de todo dia. Era o atalho sobre si
mesmo. Tentava sem muito esforço, mudar o hábito. Diziam que vinte e um dias
era o suficiente. Para quem?
Queria mesmo acordar
mais cedo. Lá pelas seis da manhã, tomar um banho frio, despreocupada. Um café
preto e um pão com manteiga, vestir a roupa, outra sapato e sair sem pressa
para enfrentar a lida. Mas teu sono, teus sonhos, sua preguiça eram reis.
Mandavam e desmandavam. Sabia que eram possíveis e plausíveis teus
significados, mas também conhecia o poder de uma ação imperativa. Ela tinha que
mudar tentar diferente, começando pelo sono.
Queria ler outro livro,
se apaixonar por outras palavras, ainda que desconfiadas e inconfiáveis. Não
havia tempo pra duvidar das coisas, não havia por que tantas interrogações. Era
ela, sua cabeça e o mundo presente numa caixinha de surpresas. Se o mundo iria
se acabar, ninguém sabia, nem ela. Mas pensou ironizando todas as profecias:
era sim, dia vinte e um de dezembro de dois mil e doze, em plena sexta-feira,
um bom dia para se celebrar numa festa, que chamaria de “Festa do Fim do Mundo”.
Morreria ao menos feliz ao som de uma música, cercada de pessoas bebendo
cerveja, experimentando um pouquinho de novos sorrisos.
E se, de repente, o
mundo findasse ali, partiria sem menos grilos e deixaria um mundo bagunçado, se o todo poderoso assim permitisse.
eliz pessoa
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