segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Por aí


Passa o tempo, corre a vida. Passo a passo o asfalto segue impune sobre os pés calçados, num tênis despojado e já envelhecido por muitas lavagens. Olhar desatento, óculos escuros, raso conceito do dia. Alguém solta um sorriso que logo se vai com a quilometragem do carro e bem à frente, um horizonte desenhado por nuvens de chuva. E assim vai novembro deixando a gente mais perto do amanhã do que do ontem.

Final de ano e as mesmas sensações repetidas: festas, compras, frenesi das pessoas pelos apelos da propaganda, pedindo por mais uma dose da nossa embriaguez, como um espírito encostado que suga a vida pelos goles da melhor cerveja que você já experimentara.

Um pouco de paz em meio a tudo isso. E é bem possível encontrá-la desarmando esse feitiço, dando menor importância à embriaguez do dia.

Mas o feitiço taí, emprestando-se cotidianamente, como se acordássemos um dia e pudéssemos ser menos críticos, menos chatos e isolados de todo mundo. E assim seguimos sem receitas. Sobreviventes. Olhar, palavras desarmadas pelo excesso, ouvidos atentos aos outros e suas histórias, às vezes engraçadas, noutras ensurdecedoras.  

Pensei numa ginástica matinal para queimar a fadiga e encontrei o silêncio em tempos geminianos. Ufa! Difícil correr tanto assim! Mas tudo bem. Encontrei um equilíbrio que anda em cordas bambas sobre o imenso precipício do viver.  Lá embaixo, apenas a morte espera atenta à hora de se lançar e dizer que não dá mais tempo. Mas como não poderia deixar de novamente SER, escolhemos a vida: injuriada, bela, misteriosa, passível de todas as experimentações, continuada, caminhando passo a passo naquele velho tênis desbotado pelo tempo.

Um dia me contaram que as girafas não se alimentavam daquelas nuvens que vejo ao longe e que Papai Noel não passava de uma boa sensação natalina. E assim, fui aceitando a fantasia seguindo ao meu lado.

E, embora eu conheça a real da vida, aprendi a conviver com a fantasia presente nas coisas, e assim amadurecer sem fenecer por inteiro.


elizpessoa

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