Passa o tempo, corre a
vida. Passo a passo o asfalto segue impune sobre os pés calçados, num tênis
despojado e já envelhecido por muitas lavagens. Olhar desatento, óculos
escuros, raso conceito do dia. Alguém solta um sorriso que logo se vai com a
quilometragem do carro e bem à frente, um horizonte desenhado por nuvens de
chuva. E assim vai novembro deixando a gente mais perto do amanhã do que do
ontem.
Final de ano e as
mesmas sensações repetidas: festas, compras, frenesi das pessoas pelos apelos
da propaganda, pedindo por mais uma dose da nossa embriaguez, como um espírito
encostado que suga a vida pelos goles da melhor cerveja que você já experimentara.
Um pouco de paz em meio
a tudo isso. E é bem possível encontrá-la desarmando esse feitiço, dando menor
importância à embriaguez do dia.
Mas o feitiço taí,
emprestando-se cotidianamente, como se acordássemos um dia e pudéssemos ser
menos críticos, menos chatos e isolados de todo mundo. E assim seguimos sem receitas.
Sobreviventes. Olhar, palavras
desarmadas pelo excesso, ouvidos atentos aos outros e
suas histórias, às vezes engraçadas, noutras ensurdecedoras.
Pensei numa ginástica
matinal para queimar a fadiga e encontrei o silêncio em tempos geminianos. Ufa!
Difícil correr tanto assim! Mas tudo bem. Encontrei um equilíbrio que anda em cordas
bambas sobre o imenso precipício do viver.
Lá embaixo, apenas a morte espera atenta à hora de se lançar e dizer que
não dá mais tempo. Mas como não poderia deixar de novamente SER, escolhemos a
vida: injuriada, bela, misteriosa, passível de todas as experimentações,
continuada, caminhando passo a passo naquele velho tênis desbotado pelo tempo.
Um dia me contaram que
as girafas não se alimentavam daquelas nuvens que vejo ao longe e que Papai Noel
não passava de uma boa sensação natalina. E assim, fui aceitando a fantasia seguindo ao meu lado.
E, embora eu conheça a real da vida, aprendi a conviver com a fantasia presente nas coisas, e assim amadurecer sem fenecer por inteiro.
E, embora eu conheça a real da vida, aprendi a conviver com a fantasia presente nas coisas, e assim amadurecer sem fenecer por inteiro.
elizpessoa
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