quinta-feira, 30 de agosto de 2007

foto: eliz pessoa

No início é o impacto, o surto e o beliscão apertando a consciência da verdade.
É quando se chora compulsivamente e algo parece fugir ao controle, como se quiséssemos parar o mundo e descer. Só que não descemos. Nosso instinto de superação sobrevive às migalhas do rompimento que não rompe conosco, pois seria, e é impossível caminhar sem nossa ação voluntária e muitas vezes (maioria delas) solitária, num vazio que insistimos habitar em nós. Pura mentira! Somos tão preenchidos de tantas coisas, só nos esquecemos disso no ato de desespero natural, humanamente viável.

Depois vem o dia... E outros, e embora a lembrança martele na memória algumas imagens fadadas ao esquecimento, as posições, agora invertidas, não tecem mais os mesmos contornos. É preciso parar o “muro das lamentações” e proclamar um canto novo, iniciado de dentro para fora de nós.

Não há receitas de bolos para certos descompassos descoliografados pelo tempo, mais de passo em passo, caminhamos a cidade inteira. E gradativamente novas performances nos serão cobradas, pois o tempo não tarda em seus compromissos. Do contrário, nos cobra ruga por ruga de nossas noites mal dormidas, nosso excesso de exposição ao sol, de nossa negligência com o uso incorreto das palavras. E a pena, recai sobre nós.

É preciso sintonia para acompanhar as notícias do rádio. Para amadurecer as relações, tempo. Senão arranhamos fatos gravados em vinis, machucando a agulha sobre a superfície de músicas que resgatam lembranças tardias.

Em meio a tantos escritos, é preciso deixar morrer alguns deles. Não que eles não sejam importantes. Eles apenas foram importados made in passado. Assim mesmo, incrivelmente cru. Porque a vida é o momento e todos eles esvaem-se, do mesmo modo como nós jamais seremos os mesmos como os idos, lidos neles.

Mas com todas essas novas possibilidades, ganhamos a liberdade de depreendermos das mesmas vertentes. Renascidos, a vida embeleza-se e convida-nos à festa, exigindo novas roupagens, jogando fora mortalhas, amordaçando a língua minguada para os assuntos que perderam o prazo de validade.

Completamente, ficamos quase prontos para o novo espetáculo, onde só admite-se borboletas renovadamente coloridas. Deixando o casulo de lado, sobrevoamos nossas novas transições.

Equilibradamente, experimentamos desequilíbrios para tentar caminhar sobre a linha tênue entre a superação da dor, que não mais nos pertence, esvaiu-se em persistência na rotina dos dias, que, às vezes, parecem fadigados em si, mas resplandecem inteiros em nós.

“E agora José, quem disse que a festa acabou?”.

: : eliz : :

Nenhum comentário: