quinta-feira, 23 de agosto de 2007

foto: eliz pessoa


Logo quando chego, já sinto os efeitos do clima nos poros das narinas.
Pele, cabelos reagem simultaneamente à aridez da secura.
180º Graus de um céu que parece engolir a gente...

Agora, tudo é plano, concreto, arquitetado pela idéia de homens.
Erguida, tijolo sobre tijolo, pela força de trabalho dos candangos, nordestinos, muitos deles mortos nas valas das obras da construção, de uma cidade mística e futurista, com prazo para fundação – fundição dos sentidos.

Cidade pré-matura, centro das decisões, e aos 47 anos, sua história continua sendo construída, como num quebra-cabeça, peça por peça.
Por aqui não há uma identidade, mas o encontro delas, língua em movimento, metamorfose ambulante. O que a torna mais interessante é essa fusão de culturas, a troca de experiências de todos essas querências, de todos esses Brasis.

Multifacetada, miscigenada, organizadamente confusa, “ilha da fantasia”, labirinto de sensações nas pessoas que aqui se esbarram e esvaecem como pescadores de ilusões, mar de gente.

Em meio a calmaria provinciana, centro das atenções atraídas para o núcleo do poder, tão repleto de insanidades. Como uma Nova York, cidade de muitas línguas, gírias e etnias. Aqui o Brasil se encontra e confronta-se nas diferenças, enriquecendo as relações.

Os filhos paridos por ela, são brasilienses e geralmente trazem em suas veias, sangue nordestino, criações mineiras e corações carioca.

Além de tantas possibilidades, indígena, negra, confusas por tantas erupções camufladas por nós. Misturada por nossos desejos de nos encontrarmos no corpo do outro, de outra cidade, de outras vertentes, de outros abismos que cabem tão bem em nós.

Brasília, mãe de muitas verdades.


: : eliz : :

Nenhum comentário: