(Foto: Google Imagens)
Desassossegados seus
olhos procuram por qualquer mísero pedaço da pedra. Sem olhar para os lados,
ignora todas as direções, menos o chão sujo do setor. Ele apaga o mundo que o
circunda, pois nada mais parece equivaler-se ao vício exaurido pelo ópio da
morte.
Seu corpo já vulnerável
pela droga exibe costelas, braços, pernas, rosto esquálido, olhos fundos e
aguçados, pela opaca e suja. Como um morto vivo sobrevive dos farelos da pedra.
Mas ele não é um, multiplica-se como ratos que sobrevivem do resto no resto da
gente.
Ele, quase amnésico,
procura pela pedra próxima aos meus pés, e não consigo me amedrontar diante
disso. Do contrário, o observo atentamente como quem tenta interpretar os
detalhes no corpo do outro. Mas minha interpretação é tão pessoal e por essa
razão falha, que me aquieto no olhar traiçoeiro. Ele não me vê, e talvez não
veja a mais ninguém. Só tem olhos para a pedra e para a perda, renúncia de si
mesmo. Seu tempo, assim como o meu, se dá no presente e não há mais espelhos onde
ele possa se enxergar. E chego a pensar: será que ele se enxergaria diante o espelho? Penso na
distância entre esse homem antes da pedra e este mesmo homem pós-pedra.
Como numa epidemia, ela
expande seus negócios, arrebenta novas fronteiras sobre o indivíduo, tornando o
sujeito de sua ação algo muito mais que frágil.
Saio dali com a sua
imagem impregnada em minha cabeça confusa em meio a tudo isso...
Ele não tem nome, nem
imagem.
Ele não tem mais nada e
pensa que tem a pedra, mas é a pedra que o tem – prisioneiro de suas vontades.
elizpessoa
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