segunda-feira, 13 de agosto de 2012



                                                        (Foto: Google Imagens)


Desassossegados seus olhos procuram por qualquer mísero pedaço da pedra. Sem olhar para os lados, ignora todas as direções, menos o chão sujo do setor. Ele apaga o mundo que o circunda, pois nada mais parece equivaler-se ao vício exaurido pelo ópio da morte.

Seu corpo já vulnerável pela droga exibe costelas, braços, pernas, rosto esquálido, olhos fundos e aguçados, pela opaca e suja. Como um morto vivo sobrevive dos farelos da pedra. Mas ele não é um, multiplica-se como ratos que sobrevivem do resto no resto da gente.

Ele, quase amnésico, procura pela pedra próxima aos meus pés, e não consigo me amedrontar diante disso. Do contrário, o observo atentamente como quem tenta interpretar os detalhes no corpo do outro. Mas minha interpretação é tão pessoal e por essa razão falha, que me aquieto no olhar traiçoeiro. Ele não me vê, e talvez não veja a mais ninguém. Só tem olhos para a pedra e para a perda, renúncia de si mesmo. Seu tempo, assim como o meu, se dá no presente e não há mais espelhos onde ele possa se enxergar. E chego a pensar: será que ele se enxergaria diante o espelho? Penso na distância entre esse homem antes da pedra e este mesmo homem pós-pedra.

Como numa epidemia, ela expande seus negócios, arrebenta novas fronteiras sobre o indivíduo, tornando o sujeito de sua ação algo muito mais que frágil.

Saio dali com a sua imagem impregnada em minha cabeça confusa em meio a tudo isso...
Ele não tem nome, nem imagem.
Ele não tem mais nada e pensa que tem a pedra, mas é a pedra que o tem – prisioneiro de suas vontades.


elizpessoa

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