terça-feira, 20 de março de 2012

Todas elas


(Foto Campanha Publicitária Benetton)

Tive muitas mães: biológica, do coração, cobradora de tarefas, de leite, de colo, de levantar a palma da mão para uma censurada em algum comportamento irremediável para o futuro. Mães de afeto, de feto. Não me faltou esse amor nascido no laço do umbigo e fora dele. Mãe para as urgências financeiras, mãe de educação fundamental, mãe nova, velha, loira e morena. Mães que brigaram por mim e mãe apadrinhada, patrocinadora das viagens de férias. Mães que se fortaleciam para me auxiliarem e que discordavam sentindo ciúmes de minha atenção.

Não me faltaram AMOR dessa espécie, raro e intrasferível, alimentado por dentro e amor derramado por fora.

Amor, muitas vezes SUFOCANTE de tão grande e cercado de cuidados (muitos deles). Amor de uma, duas, três e até quatro mães diferentes.

Amor dilacerado no parto, nascido de outras histórias instituídas, experimentadas ou proibidas. Amor de MÃE que tanto se doa na gente, MÃES de tantos filhos. Mães e Mulheres, loucas e graciosas. Amor de fêmea.

Mães imaculadas, padroeiras e danadas.
Mães duras, sérias e operárias.
Mães de sexto sentido e muitos outros tatos. Marceneiras de mãos cheias, lavadoras de beira de rio, beatas e putas, devoradoras de livros e histórias e desarticuladas de expressões passageiras.

Mãe preta, branca, parda.

Não me faltou MÃE no caminho até aqui, e nenhuma delas passou por mim sem deixar vestígios mágicos de MULHER.

Nenhuma delas passou por mim sem deixar cicatrizes abertas, nenhuma delas passou e passa por mim, sem que eu as veja impregnadas no espelho todo santo dia. Nos gestos mais despercebidos, nas minhas ações mais bem pensadas, nos meus medos do amanhã, bem agora.

Nenhuma dela se solidificou em uma apenas.
Por essa razão essa multiplicidade em mim, comum de todos os gêneros.
Por essa razão não quero ser mãe tão cedo, porque não consigo me dissolver delas, da presença onipotente, onipresente, onisciente que só as mães exercem sobre a gente.

Tive muitas mães no caminho.


eliz pessoa

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