Foto: eliz pessoa
Até mudei a cor da caneta (antes vermelha) para dar sorte no jogo.
Por ironia, estou no bairro do Flamengo. Mero detalhe...
Visto minha camiseta black power em verde e amarelo, solto a cabeleira pra fazer jus ao as palavras exibidas nela. Dirijo-me a Praia do Flamengo e no caminho deparo-me com alguns flamenguistas pingados. Aproveito o processo e os sigo. A condução que eles pegarem será a minha.
Redigindo alguns detalhes... Noite de clássico no Maracanã.
FLA X FLU e lá vou eu.
Escrevo para afastar pensamentos, enquanto o trânsito não ajuda o desenvolver das palavras. Pela primeira vez, impaciento-me com algo no Rio.
Lá fora, alguns torcedores saltam dos carros e seguem a pé.
Salto no “maracá” do lado dos portões da torcida do Flamengo. Confusão generalizada, e eu correndo da massa rubro-negro. Indo assistir ao jogo do lado do tricolor carioca.
Correria e mais correria pra chegar em tempo de pegar o início do jogo.
O cartão comprado em mãos de cambistas amedronta-me, quando arrisca falhar na hora do vamos ver. Frio na barriga... Mas não falha.
Maracanã, cá estou.
Palavrões infindos e até eu quero gritar: “Sou tricolor! Ô! Ô! Ô!”. Eis o poder das massas.
Se há uma palavra que expresse tão bem uma noite de clássico, é festa.
Do lado tricolor, os palavrões brotam da saliva de muitas línguas, sem muito cuidado. E quanto mais pesados, mais alimentam o clima de rivalidade entre as torcidas.
E lá vem a bandeira gigantesca do Flu. Passa de mão em mão dando cores a carnavália do momento.
No telão, jogadores são anunciados, colocando à par os mais desinformados. Quando Roger é vaiado. Também pudera, quem manda vestir a camisa e sair beijando outra? E se faz com o último, fará com os outros. Como se tudo, de repente, fosse mesmo uma questão de cifrões cheios de bolinhas arredondas à direita dos números.
Começa o clássico. Alguns se benzem, fazendo o sinal de cruz e beijando a camisa, pais e filhos compartilham a mesma emoção, quase hereditária, em alguns casos. Xingam, torcem e vibram. É um tal de: “senta veado!!!” E um instante, para ver o jogo.
Aqui, qualquer cabeçada, empurrada provoca reações alérgicas na galera. E os “veados” continuam todos de pé, tampando a visão do fanático torcedor que pede: “Chega junto porra!”. Quando o jogo muda de fases com certa constância, como hormônios nos corpos femininos. Já me sinto parte da festa, desesperando-me e divertindo-me com os tricolores cariocas.
O fato é que a torcidas faz mesmo de tudo para estimular seu time e desenvolver a “parada”.
Dedadas, filhos das putas multiplicadas e muitas “porras” ejaculadas pelas línguas proféticas do público. E qualquer chute aproximado do gol é motivo, ou de tensão, ou de intuições despudoras. Eu quero ver gol!
Roger pega pesado no lance, provocando a fúria fluminense, que grita: “Roger, filha da puta! O Fluminense não precisa de você!!!
Renato Gaúcho, ex-técnico do Vasco da Gama (meu time de coração) fica ali, em pé, visivelmente apreensivo, quanto seu arc rival, dono de uma língua desastrosa, assiste no bando de sua inquisição.
Agora é a vez dos hormônios masculinos manifestarem-se nas palavras, gestos dos machos torcedores. Ficando nítido que os jogadores, jogam com a emoção das pessoas. Bombeiam corações de milhões, muitas vezes sem preparo, e é aí que carecas puxam cabelos inexistentes, gargantas ressecadas esgoelam-se sem serem ouvidas, palavras viram crônicas e paixões ficam mudas. E qualquer desleixo de uma bola atrasada, ou esquecida é motivo de desespero, mas nunca desesperança.
E lá vem a maca para um jogador-ator, ou atleta contundido.
E de repente ele ergue-se, dribla e deixa pra traz seus adversários e segue, praticamente sozinha ao rumo do gol... E é, GOOOOLLL do Flamengo!!! Às 21h17, treme as arquibancadas e é festa do outro lado do estádio.
Desconfiem sempre que um zagueiro toma fôlego, avançando sozinho na grande área. Fatalmente é gol. E para quem permite o acontecimento, é sinal de esquema tático defasado. Vacilo mesmo, no bom e grosseiro Português. E nunca vêem junto de um gol, apenas um ponto, mas outras vibrações, a estima elevasse, a moral fortalece, enquanto no sentido contrário à impaciência adversária pede passagem, passando.
Final do primeiro tempo: 1 X 0 para o Flamengo.
...
Esfomeada pela idéia do empate é o estado do tricolor no início de segundo tempo.
O álcool já enfeita a escrita, o “maracá” efervescendo e o “merda” do Soares que “fode” qualquer possibilidade de uma boa jogada... “Fudeu!”
Emoção escancarada, bandeiras hasteadas e é guerra dentro da cada um de nós.
59.281 presentes. 49.828 pagantes e 759.126 cifras ($) somam os números da noite.
Como o jogo não muda no desenrolar das palavras, e restando alguns poucos minutos para o findar do jogo, alguns torcedores tricolor, já se dispersam.
Pro Fluminense falta finalização nas jogadas. Para o Flamengo, falta jogo, porém há finalizações. Eis o que determina o placar de um clássico.
Restando pouco menos de três minutos para o término do jogo, a torcida, torce, empurra, faz das tripas coração... E haja fôlego para tanta emoção derradeira.
Nessas horas, a vascaína que habita aqui, alivia-se por não estar na pele dos tricolores carioca, enquanto os Aiatolás Flamenguistas, esgoelam as cordas vocais, a imprensa invade o gramado para roubar comentários fajutos de jogadores, que nem sempre jogam o que devem, mas falam atrocidades vazias.
1 X 0
FLA X FLU
Clássico Carioca
Maracanã, um sonho plausível...
p.s.: aos queridos tricolores marcos e marcos jr. cariocas da gema, conhecidos na arquibancada do estádio. Valeu a companhia e a conversa jogada fora, nos bares do Largo do Machado.
: : eliz : :