domingo, 8 de abril de 2007

Um dia de beira de piscina, uma preguiça espalhada à beira da cama, um corpo de mulher magro invadido pela expansão de nosso céu azulado, bem ali, onde um pouco de mim procurou abrigo, perdida pela sensação dos raios solares.

Ela, miúda, de pernas compridas, veio como quem tenta dizer algo sem dizer nada.
No silêncio da ação trabalhadora, carregando um pedaço de papel higiênico. Curiosa, cedi aos encantos de um ser tão pequeno, que de um ponto a outro fiquei vazia, sem resquícios ou palavras.

Aqui também silenciosa coisa rara pra uma língua “geminianamente” inquieta, fui lentamente invadida pelo universo dela. Devagarzinho, pacientemente, a formiga passou, deu a volta sobre o meu corpo, desceu o concreto, continuou pela grama, que, daquele ponto de vista, era enorme para ela. Não só a grama, as flores, os gatos, as pedras que pareciam montanhas rochosas. Minha cabeça deitada no chão, tudo ao mesmo tempo agora.

Meus olhos assistindo ao trabalho da formiga que veio e foi como as nuvens de chuva e meu olhar vasto, ficou pequeno diante do gesto formigueiro. Ali, entre o ser e o não ser de outras questões.

Entre o ser e o fazer, ela o fazia.

Meu mundo pintado pela grandiosidade das montanhas, engolido pela imensidão do mar, desenhado sobre a vista de outras dimensões que engolem o que sou.

No ponto de vista dela, as imagens multiplicam-se, implicando com meu olhar de saturno.
Ela seguiu, cumpriu, teceu novos caminhos, esculhambou meu olhar, cutucou minha alma com fragilidade e força, depois partiu, como se nada tivesse acontecido.

eliz pessoa

Um comentário:

Leandro Jardim disse...

"Entre o ser e o fazer, ela o fazia."

lindo!

beiJardins