sexta-feira, 3 de maio de 2013

Esse José Ribeiro Ribamar...



                                                                           (Foto: Google Imagens) 


Ele é do Ceará, especificamente de Santa Quitéria. Sonhava em conhecer o mundo, e um belo dia, chegou para seu pai e disse:

- Pai? Vou conhecer o mundão todo, pegar um ônibus e descer para Brasília. O pai, um tanto desconfiado, ouviu atento sem dizer uma só palavra.

Quando estava saindo de Santa Quitéria, José, que agora prefiro chamar de Zé, foi logo pegando sua única mala, aquela de couro curtido do sertão, e seguiu rumo ao seu novo destino. Quando estava saindo, uma senhora o chamou dizendo:

- José!? Cê vai pra Brasília, eu soube. Então, pode fazer um favorzinho pra mim? Levar esse queijo para o meu menino em Brasília. Melhor, levar o queijo e essa cartinha.

Zé olhou, pegou o queijo e prometeu que assim o faria.

Quatro longos dias o afastavam de Brasília. Estrada longa, seca, suor e sertão eram seus companheiros do caminho.

Bem, um dia Zé, finalmente chegou a capital do Brasil, Brasília, nome bonito de se escrever. Na época, a rodoviária do Plano Piloto era a chegada de todo mundo. Por ali chegavam brasileiros de todos os cantos do país em busca de um sonho. Ele também.

Assim que pisou seus pés no Planalto Central, encontrou um conterrâneo que lhe disse:

- O moço veio trabalhar aqui? Tem onde ficar?
Zé respondeu:

- Ué, vim porque queria conhecer o mundo. Não tenho onde ficar. Nem pensei nisso.
Mas peraí! Tenho uma lembrança que me pediram pra trazer para alguém daqui. Deixa-me ver... Achei. Esse queijo e essa carta.

Mas Zé era analfabeto de pai e mãe, não tinha como entender a cartinha. Então o taxista leu-a e disse:

- Ah, é fácil! Você só precisa subir a escada “volante”, pegar o Eixão e andar um pouquinho e vai vendo placas pelo caminho indicando a quadra 204 sul. É pra lá que aponta o endereço da carta.
- Moço, o eixo que eu conheço é só o da minha bicicleta veia do Ceará, e essa tal de escada “volante” nunca vi não!

- É... logo vê que tu é da terrinha.

Eram meados de janeiro às 22h00, dia 12 do ano de 1973. Brasília era quase outro sertão de terras avermelhadas e vazias, um frio incalculável para um cearense. Uma vastidão de céu, uma imensidão de horizontes, tudo muito longe da pequena Santa Quitéria, agora distante.

O moço era taxista e se ofereceu pra levar Zé, sem cobrar nada por isso, até o endereço da carta do queijo. E lá se foram os dois.

Chegando lá, despediu
-se, Zé agradeceu a gentileza e seguiu. O bloco era o H das 204 sul, na portaria do local. Teria que procurar por dois Antônios, primos entre si.

O primeiro Antônio tinha uma costeleta da moda, cabelo meio comprido, recém casado. Ele o recebeu em seu apartamento. Trabalhava como corretor de imóveis. Convidou Zé pra comer uma jantinha feita na hora. Conversaram, enquanto o outro Antônio, esse sim Toinhio não chegava da escola. Mas Toinho chegou, ficou feliz com a presença do Zé do Ceará, da carta do queijo. Pediu pra ele “bater” uma viola. Zé a pegou, a bicha tava mais desafinada que cearense com fome. Afinou-a e tocaram noite à dentro como se o outro dia não existisse. Passaram os três...oito dias jogando conversa fora e tocando violão, depois mais oito meses até que Zé arrumasse um emprego de servente lá mesmo na 204 sul. De lá pra cá, lá se vão 40 anos de duas Brasílias, umas perdida na boa memória do Zé e a outra reconhecida pelo meu esquecimento.

Zé não conheceu o mundo como antes, mas Brazlândia, Plano Piloto, Taguatinga, Núcleo Bandeirante, Guará, Sobradinho, Ceilândia, Planlatina, etc, etc e tal.


elizpessoa

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