quarta-feira, 15 de maio de 2013

UTP's



                                                                 (Fonte do desenho: Google Imagens)


UTP’s atravessam as cidades dentro de uma lata, do tipo sardinha, exprimidos e mal cheirosos. A(s) cidade(s) no plural, por que aqui normalmente não se circula em uma única e específica, mas entre elas: Sobradinho-Plano Piloto, Taguatinga-Plano Piloto, Riacho Fundo-Plano Piloto, etc. - Plano Piloto, tudo em gira em volta desse tal Plano Piloto.

Geralmente leva o som aos ouvidos, por meio de celular, mp3 e outros artefatos existentes, quando não compartilha as músicas com os outros utp’s, sentados no banco ao lado. Uma espécie de técnica para não pirar enquanto não chega ao seu destino.

O sonho de grande parte dos utp’s é um dia ter o seu próprio carro. Uma espécie de vingança ao sistema, por ter passado tanto tempo de sua vida indo e vindo, sufocado e maltratado pelo sistema de transporte público brasileiro. Vingança consumada em ser mais um a entupir as vias públicas das cidades, só que desta vez dentro de um automóvel, de um engarrafamento, ao lado de um coletivo lotado de gente comum, como ele foi um dia, passado distante (graças a Deus) e às trinta e seis parcelas pagas com muito suor em longos três eternos anos.

Esses utp’sacostumaram-se com quase tudo: com as altas passagens de ônibus, metrôs e trens lotados, greves sem anúncio de segunda-feira, aquelas mesmas que nunca beneficiaram o contribuinte do sistema de transporte. Nem este, nem aos funcionários desse mesmo sistema. Paralisações que beneficiam os senhores do negócio, daquelas do tipo Wagner Canhedo e outros tão iguais quanto.

UTP’s não são vítimas, não são culpados e nem nobres, pois para ser nobre nesse sistema, faz-se necessário um carro, quando todos ou grande parte dos problemas dos utp’s serão sanados.
Quando os utp’s realizarem o sonho do carro próprio, seus problemas serão outros, como: os altos valores cobrados com combustível, taxas de IPVA, seguro e outros detalhes não menos importantes. Apenas num mesmo ponto os problemas serão os mesmos de antes do carro: o(s) engarrafamento(s).

O que os utp’s desconhecem, é que no Brasil o carro é luxo, embora qualquer um possa ter o seu hoje. Enquanto na Europa, carro é a última opção de transporte dentre outras possibilidades. Lá o chique é andar de transporte público eficiente, deixar o carro na garagem. Mas só é chique por que funciona.

A grande esperança para os utp’s seria com a chegada da Copa do Mundo ao Brasil. Este evento resolveria o problema a curto, médio e longo prazo. Mas na real, não resolveu nada. E por essa razão o sonho volta ser o carro, único, individual e SEU.

Ah UTP’s! Um dia você terá seu carro, acredite! Só não terá mais espaço para enfiá-lo neste mundo tão congestionado de si mesmo.


*UTP’s: Usuários de Transporte Público

elizpessoa

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