(Foto: agenciabrasilebc.com.br)
A tarde
de hoje veio cercada de um sol tímido e colorido. Em meio a sensação
de frio, os preságios da seca, estação esta tão brasiliana, veio
com graça. Não sei o que dá no peito, mas sempre alguma coisa
renovada vem com o ar seco. Lembranças das festas juninas, muito
agasalho, sopas e caldos, milhos e quentões, bandeirinhas de São
João, São Pedro e São José, e uma vontade de aquecer as noites em
volta de fogueiras e violões. Certa nostalgia no clima e no tempero
das coisas.
Por fato,
Brasília faz aniversário hoje. A cidade tem a cara da seca, do
pôr-do-sol mais avermelhado que já se viu. É impossível nascer
aqui e se sentir indiferente quando a névoa seca afeta a cidade. A
estação das chuvas parece fadada ao esquecimento, ao menos até uma
boa parte do ano. Viver sob o ar rarefeito, faz com que celebremos
também a chuva, em especial, aquela primeira delas após meses e
meses de grama seca.
Semana
passada choveu, molhou tudo e o vento foi tão forte, a luz faltou,
os olhos arregalaram-se no escuro, as noites ganharam ares de vida no
campo e do sossego na roça. Depois, a chuva foi embora, a lua deu as
caras clareando a estrada, e uma parte do silêncio invadiu a
vizinhança quando se dormia.
Ontem fez
frio, muito frio.
Ontem
tive sono, muito sono.
Ontem
Brasília estava tão diferente, e me senti feliz por estar perto
dela. Feliz por vê-la tão linda de longe, linda de perto,
misteriosa, parte intensa de toda essa gente que vive aqui.
Ontem foi
um mais um dia, diferente de todos os outros.
Ontem não
dormi, amanheci de ressaca quanto ao tempo.
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