Perdi o sono e liguei a tv, atencedendo a manhã aproximada. Encontro o mundo virado ao avesso... Na Somália o império dos famintos e miseráveis. Um povo esquecido pelo mundo e em duelo consigo mesmo.
A seca, a ignorância, o descaso e a fome unindo-se para dizimar, em menos de quatro meses, as crianças de um país desarticulado. A fome, injustificável, fruto do Capitalismo e da indiferença humana e o desperdício de alimentos predominantes no Brasil. Caberia vergonha num país de desavergonhados?
Rapidamente dez anos do onze de setembro e num passe de imagens cinematográficas, dois símbolos do poder virados em pó.
O mundo assiste de olhos arregalados a revira volta dos tempos. E a “culpa” é dos muçulmanos? Duvidêodó! Depois os punks e os discípulos de Hitler (skinhead), conhecidos como “os cabeças raspadas” e o confronto agendado virtualmente... o sangue sobre o asfalto paulista, a faca e as múltiplas perfurações ceifando a vida de um homem. A busca da morte. Pra quê? Pergunto-me. O gosto pelo desgosto alheio. Quadrilhas de banco e de equipamentos hospitalares, tráfico religioso de drogas, as bolsas de valores boicotadas por um dia, a neurose sistêmica dos mercados financeiros e os prisioneiros de tudo isso. O mundo num ataque de nervos.
Doze anos e o apelo amadurecido de um menino prisioneiro de sua própria mãe. A serenidade fora de época e os labirintos da vida. Escapando dessa novela humana, leio um pouco em Espanhol, observo a fineza do Chile num mapa afixado na parede, tomo consciência dos dias, do tempo que não é mais da gente. Não encontro o sono e nenhum motivo aparente. Coço a cabeça... Cinco horas da manhã, sinto fome de tudo, olho para os livros e nada me basta. Ainda sou a mesma do dia seguinte. Sigo buscando algo em meio a um mundo tão cheio de si mesmo.
Escrevo para amanhecer lobo e prematuramente. Escuto os tons e semitons de um único passarinho, anunciando outro dia. A cidade ainda escura amanhece amiúde, como um calendário que insiste em organizar o caos.
Essa noite não dormi, não chorei, nem sorri. Busquei pelo sono pacientemente, mas ele preferiu passar longe daqui, sem me dar explicações aparentes e sem que eu cobrasse um minuto de sua sonolência.
Queria o João Ubaldo para me excitar com sua luxúria, mas já não sei se é tão tarde ou tão cedo para tudo isso. Sinto preguiça e já nem sei se quero mesmo dormir, depois que o dia acordar descansado. Prefiro ficar quietinha, aguardando que o Sol cante um dia novo e já pronto para morrer em 24 horas.
Saudades de quando eu dormia a noite inteira sem pensar na apocalíptica Somália.
eliz pessoa
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