quarta-feira, 13 de abril de 2011

Filhos de Gandhy



Foto Internet



Pelas ladeiras o pelô no meu último dia por aqui, estou vestida de branco, colar de baiana, pele melada, sandálias abertas, coração incendiado e o sotaque baianês escorrendo na saliva. Desisti da boêmia no Rio Vermelho, ficando resguardada sob a Lua intensa e gasta, clareiando as ladeiras que descem sem dizer pra onde na cidade carnavalesca.

De um lado bares e MPB, do outro, show gratuito nas praças e axé nos palcos escondidos e música cubana. No meio da festa, recebo um presente baiano. Um colar de pedras azuis e brancas dos Filhos de Gandhy. Um homem me coloca o colar nos ombros e sai sem dizer muita coisa. Agradecida experimento os últimos instantes da brisa de Salvador. Sigo em frente pelas praças e vielas, acompanhada de duas paulistanas até ao ponto onde o samba rola solto. Vozes femininas, música de Riachão, “ai meu Deus!”. Não entro evitando o pagamento do couver artístico naquela hora da madrugada. Esta noite não durmo e não me esqueço mais das coisas tardias, horas que se cumprem carregadas de pretensões sobre a supervisão dos meus olhos afoitos de mais Brasil. Lentamente um senhor, negro de cabelos e barbas esbranquiçado, acende um cigarro e descuidadamente me observa com o colar sobre o pescoço. Hora o colar, hora eu. Sem mais dizer, dou a volta, atravesso a rua rumo a Praça Terreiro de Jesus. Ali mesmo, sambo, aproveitando do som feito nos bares. Festa em noite de lua clara sob os desígnios de São Salvador.

Ela se aproxima com suas fitinhas do Senhor do Bomfim, oferecendo-as “gratuitamente” para as paulistanas que se esquivam ante ao fato. Tenta enrolar com sua lábia atropelada, chega à primeira e quanto vem na segunda, lá estou eu e o seu olhar sobre o colar de Gandhy. Ela torna-se séria e me olha com frieza, desconversa e não me tenta novamente. Logo me sinto segura e respeitada com o uso do colar presenteado. Tomo fôlego e caminho pelas ruas apertadas do pelourinho esquecido.
Madrugada à dentro, mistérios sem palavras, pensamentos furtivos, hiatos, vontade de ficar mais um pouco, de experimentar ainda mais desse tempero e ver o sol nascer redondo na Bahia de Todos os Santos, Encantos e Axé.
À benção Oxóssi!


Salvador-BA, 3/4/2011, Brasil!

Eliz Pessoa

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