sexta-feira, 29 de abril de 2011
TUDO
Foto Eliz Pessoa
É verdade, é verdade! Tudo, absolutamente tudo nos influência. O cheiro do mato depois da chuva, a cor do sol depois da seca, o barulho dos passarinhos de manhã cedo, as notícias mal cotadas na televisão, os site de relacionamentos, os improvisos do governo, a estadia em outro canto, o marasmo, o atalho, o outro.
O outro em nós, isso influência a gente um tanto... tanto que me perco!
Tudo está em tudo todo o tempo. E o tempo tem lá suas esquisitices! Tem horas que ele manda e desmanda sem perguntar se a gente aceita os seus desígnios! Depois, finge que não fez nada, que não viu nada e que nada cabe em nada.
De vez em quando anda meio descuidado, displicente, sonda a área, da meia volta e volta, todo faceiro.
Mas voltando ao topo das coisas, até ali existem histórias de superação, de separação, de dedicação. Aliás, é no auge das sensações que outra queda nos aguarda sorrateiramente num pensamento. E tem gente que se perde com tanta bobagem engaiolada nas idéias retorcidas, como árvores do cerrado em pleno centro-oeste.
No meio do todo, toda a gente se encanta, outras se acham, outras nem sentem. Daqui, no absurdo mudo do que experimento, outro texto, outro desespero, muitas alegrias, tantas delas nem tem lá o seu sentido. Mas quem disse que é preciso sentido em se ter alegria?! Alegria se tem, se experimenta e erradia.
Tristeza também tem lá o seu poder, sua dor, sua ardência. Mas como tudo nesta singela existência, dá e passa. E quando passa leva muito da gente.
Falando em gente, tem tanta gente por aí, por aqui, por acolá, por lá, por tudo que há. Tem gente até pedindo pra nascer, enquanto outros pedem pra morrer. Alguns até morrem! Tudo tem seu tempo, sua hora, seu desprendimento.
Tudo não cabe aqui. Ah, mas não cabe mesmo!
Eliz Pessoa
quinta-feira, 28 de abril de 2011
M-u-d-a-n-ç-a
Que venha o caos, o absurdo, o insano.
Que venha o abismo, o surto, a mudança.
Que venha sem jeito, sem anúncio de si mesmo.
Que venha por dentro, desconstruindo os alicerces de minha base.
Que venha e reformule os detalhes, as cores, o cheiro e os sabores das coisas de antes, para as coisas de agora.
Que venha de mim e que aqui, encontre outro alguém, outra verdade.
Que venha desobstruindo as artérias do peito, limpado os alicerces da alma.
Que venha diferente, sem preconceitos, sem fórmulas que nunca foram exatas,
Sem regras propriamente ditas, sem muito do que não mais há.
Que venham inteiros sobre os olhos os novos horizontes, outras metáforas e particularidades peculiares a cada um de nós.
Que venha, enquanto eu ainda estiver aqui.
Viva, dentro de mim.
Eliz Pessoa
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Onde?
Foto António Leão (Olhares.com)
São tantas coisas dentro da gente, acontecimentos, pensamentos, incertezas, certezas repensadas, atalhos e desalentos caminhando dia-dia sobre os asfaltos dessa nossa existência cercada de mistérios por todos os lados.
E o amanhã da gente?
E os atrasos do tempo?
A pressa das horas?
A transmutação das coisas?
A vida vivida tão abruptamente?
O percorrer do caminho e a forma como trilhamos seus espaços?
Os passos largos da nova estação?
A seca terrivelmente resumida?
A cidade e todas as suas vias congestionadas?
As pessoas seguindo na pressa do nada,
e essa pressa equivocada do onde.
Pra onde mesmo?
Eliz Pessoa
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Interpretações
Foto: Eliz Pessoa
Se eu faço alguma coisa é o retrato de minhas interpretações sobre o mundo que me cerca por todos os lados. E o meu olhar sobre esse mundo, nem sempre é justo. Às vezes peca por excesso de confiança ou de participação demasiada com minha própria inteireza. E eu nem sempre sou inteira, desfragmento-me lentamente como na máquina de um computador já vencido pelo o tempo.
E essa solidão onde me penso melhor, onde piso por dentro, onde o coração malandra impiedosamente, inquietando o pensamento.
Esse ato que desata no abismo, sem confessar meu querer.
Eliz Pessoa
Laranjeira
Foto: Eliz Pessoa
No sossego dos instantes no mato, em meio aos sons dos passarinhos, na vastidão de um céu imenso e iluminado pelo sol de um dia alegre, folgado, sem obrigações cotidianas, a vida se alimenta dos dias, horas, segundos que dançam livremente sobre os dedos, sapateando teclados de computador.
O interior e a capital juntos no mesmo lugar, na mesma estação, ressecado por idéias distorcidas, quando o ato da escrita manifesta-se intensamente sobre os meus anseios... Compulsivamente redijo um novo parágrafo, atropelando o tempo que não existe somente aqui.
É dia claro e o pé de laranja está carregado de novidades, folhas caídas sobre a grama, flores anunciam frutos que viram no tempo seguinte, e a vida planta na gente novos horizontes, outros dias e uma infinidade de coisas.
Um livro espera pacientemente os desenhos que irão alegrá-lo, sobre papéis coloridos de uma história infantil, e a menina dos gatos, também tem tempo de repensar as coisas.
Caberiam outras histórias e algumas metamorfoses, muitas vezes não vista sobre outras óticas recolhidas, que também co-existe em nós.
Haveria acertos nas coisas ditas e no inusitado lusitano?
Algumas cartas aguardam seus destinos longínquos: Itália, São Paulo, Alemanha, Espanha, Casimiro de Abreu e muitas palavras gastam-se na existência desses rabiscos.
Quais histórias seriam contadas aos amigos de lá? E quais vivências reformuladas caberiam na vida de cada um deles? Mas, em noites de lua clara, a imaginação se expande sobre as vontades do corpo e dos felinos no cio, animais afoitos, mistura da massa, inquietação na gente.
Num dia ainda claro, continuo pensando em tudo isso.
Eliz Pessoa
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Todo dia é assim
Foto Internet (desconheço o fotógrafo)
Na real, o que de fato rola é o aglomerado urbano, falapitas, favelas, puxadinhos, quitinetes, esconderijos humanos, entulho de gente. Todo santo dia é assim, cidades em colapso, assaltos a mão armada e desarmada também, meninos macérrimos exibindo os ossos do tórax e a pele queimada pelo Sol constante. Ônibus, metrôs e clandestinos seguem levando gente como se fossem bichos... E os bichos? Coitados! Seguem fugindo de gente.
Verdades e mentiras convivendo juntas, entre a nossa congestão diária. E se de um lado os governantes governam em prol de suas finanças pessoais, do outro o povo (povinho mesmo! substantivado) trabalha como formigas incanssáveis, esbarrando umas nas outras, fofocando um pouco e levando seus afazeres, atarefadas.
Êita que esse mundo é muito besta e desembesta a gente! E no fundo? Até que eu acredito...
Eliz Pessoa
terça-feira, 19 de abril de 2011
Gradativamente
Foto de R de Rien (Fonte: Olhares.com)
No Brasil muitos sons se misturam com outras sensações dilatadas poro a poro dentro da gente.
Na metamorfose do tempo, a vida se expande sobre muitos apelos, que não cabem somente numa estrofe, num único verso ao avesso de nosso desalento.
Literalmente nos encontramos em frases soltas, nos rabiscos prósperos, feitos para o dia seguinte, nas tantas verdades cantaroladas pelas cigarras agarradas em árvores de sua estação mais passageira.
Pacientemente o tempo se vinga de tudo, transforma a nossa sensibilidade, nos oferecendo novos temores e outros propósitos que não se encaixam apenas em estantes abarrotadas de livros desencantados com a nossa falta de tempo ou por outras desculpas, culpadas, no fardo das linhas que se desequilibram gradativamente, dia a dia.
Eliz Pessoa
Menino
Foto de arquivo Internet (desconheço o fotógrafo)
Vem que é final de tarde, final de semana, final das férias... Em meio à muvuca dos bares de mesas cheias de conversas despojadas, no relaxar dos dias que se confundem com vontades afoitas no movimento das ruas da cidade sem mar.
Cervejas, cachaças, pizzas, cigarros, olhares que se observam dispersando no momento seguinte. Diálogos sem sustança. No meio disso tudo, um menino franzino de olhos afoitos, passa despercebido, carregando uma sacola plástica de restos de comida, indo firme em seu propósito de seguir em frente.
Depois que ele se foi, tudo passou junto dele: a prosa, o verso, o tom das palavras, a anciã em contá-las e o fragmento das coisas.
Depois que ele passou.
Eliz Pessoa
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Ruas
(Foto da Internet)
Brisa que se expande nas larguras do céu de Brasília. Caminhos onde bicicletas deslizam, na velocidade dos pneus finíssimos. O olhar inquieta-se na penumbra da noite clara. Medo de assalto, após outros roubos da vida. Lua crescendo a lá na frente na pista, após um programa, uma moça esguia, alta, vestindo botas de “Uma linda mulher”, rebolando loucamente, com seu mini-short rasgado, como as calças dos anos 80, exibindo a pele da bunda lisa, sem estrias ou celulites, sem marcas da flacidez imposta pelo tempo e suas leis físicas, salta de um carro escuro. Cinturinha de pilão, tatuagem miúda e do outro lado da calçada, homens engravatados, pós-culto evangélico, experimentam as diferenças dos fatos. Não me atendo a olhares de extremos, apenas ao equilíbrio da puta sobre o salto-fino, e ao meu próprio equilíbrio sobre a bicicleta. Depois de um tempo repensando as coisas, me coube a dúvida se a puta era moça ou moço.
Bem à frente, um mendigo e seu vira-lata, exalam a realidade das ruas e da vida na cidade. Dois homens altamente embriagados consolam-se agarrados na garrafa de água ardente. Conversam alto, esboçam histórias, desequilibram-se simultaneamente sobre o piso firme do asfalto, na decadência das noites.
Bares, movimento, cursos, esquinas que dizem não haver por aqui, outras putas contornando a cabeça dos homens, dão vida a vida na aqui.
Eliz Pessoa
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Filhos de Gandhy
Foto Internet
Pelas ladeiras o pelô no meu último dia por aqui, estou vestida de branco, colar de baiana, pele melada, sandálias abertas, coração incendiado e o sotaque baianês escorrendo na saliva. Desisti da boêmia no Rio Vermelho, ficando resguardada sob a Lua intensa e gasta, clareiando as ladeiras que descem sem dizer pra onde na cidade carnavalesca.
De um lado bares e MPB, do outro, show gratuito nas praças e axé nos palcos escondidos e música cubana. No meio da festa, recebo um presente baiano. Um colar de pedras azuis e brancas dos Filhos de Gandhy. Um homem me coloca o colar nos ombros e sai sem dizer muita coisa. Agradecida experimento os últimos instantes da brisa de Salvador. Sigo em frente pelas praças e vielas, acompanhada de duas paulistanas até ao ponto onde o samba rola solto. Vozes femininas, música de Riachão, “ai meu Deus!”. Não entro evitando o pagamento do couver artístico naquela hora da madrugada. Esta noite não durmo e não me esqueço mais das coisas tardias, horas que se cumprem carregadas de pretensões sobre a supervisão dos meus olhos afoitos de mais Brasil. Lentamente um senhor, negro de cabelos e barbas esbranquiçado, acende um cigarro e descuidadamente me observa com o colar sobre o pescoço. Hora o colar, hora eu. Sem mais dizer, dou a volta, atravesso a rua rumo a Praça Terreiro de Jesus. Ali mesmo, sambo, aproveitando do som feito nos bares. Festa em noite de lua clara sob os desígnios de São Salvador.
Ela se aproxima com suas fitinhas do Senhor do Bomfim, oferecendo-as “gratuitamente” para as paulistanas que se esquivam ante ao fato. Tenta enrolar com sua lábia atropelada, chega à primeira e quanto vem na segunda, lá estou eu e o seu olhar sobre o colar de Gandhy. Ela torna-se séria e me olha com frieza, desconversa e não me tenta novamente. Logo me sinto segura e respeitada com o uso do colar presenteado. Tomo fôlego e caminho pelas ruas apertadas do pelourinho esquecido.
Madrugada à dentro, mistérios sem palavras, pensamentos furtivos, hiatos, vontade de ficar mais um pouco, de experimentar ainda mais desse tempero e ver o sol nascer redondo na Bahia de Todos os Santos, Encantos e Axé.
À benção Oxóssi!
Salvador-BA, 3/4/2011, Brasil!
Eliz Pessoa
sábado, 9 de abril de 2011
SEXTA
Foto retirada da Internet
Bem que é final de tarde, final de semana, fim de férias. E em meio à muvuca dos bares, das mesas cheias de conversas despojadas, no relaxar dos dias que se confundem com vontades afoitas, no momento preenchido pelas ruas da cidade sem praia, cervejas, cachaças, pizzas, cigarros, olhares que se observam, dispersando no momento seguinte.
Diálogos sem sustança. E, no meio daquilo tudo, um menino franzino, de olhos afoitos, passa despercebido, carregando uma sacola plástica com restos de comida, firme em seu propósito de seguir em frente, seja lá pra onde.
Depois, tudo passou junto com ele: a prosa, o verso, o tom das palavras, a anciã de movimentá-las e o fragmento das coisas.
Depois que ele passou.
eliz pessoa
sexta-feira, 8 de abril de 2011
Massacre em Realengo
Foto Jornal Estadão
Quanta dor caberia num coração? E quando essa dor multiplica-se em tantos outros? Dor de um país inteiro, agora em luto pelas vidas ceifadas tão imaturamente da existência.
Quantas incógnitas também cabem dentro de uma mente, perturbada em si mesma?
O massacre dos jovens em Realengo nos traz novamente à tona, muitas questões, antes deixadas de lado em nossa sociedade. A questão do desarmamento da população, as escolas e sua vulnerabilidade perante a violência que não tem nome, classe social, raça ou credo. A violência repetida contra as mulheres, escolhidas a dedo pelo esquizóide assassino. E aos sobreviventes? Que traumas ou rupturas o massacre os trarão? Essa tal de bullying? Palavra recente para fatos tardios. Qual a criança que nunca sofreu com isso? E até que ponto um simples bullying desencadeia reações inesperadas anti-convencionismos? E a questão da segurança pública e seus interesses adversos?
A voz embargada da Presidenta ontem, o desespero das famílias inteiras sobre seus filhos, a imprensa e sua super exploração dos fatos, além das verdades derramadas sobre as vidas feridas e dilaceradas em plena sala de aula.
Em meio à adrenalina dos acontecimentos, questões camufladas pelo tempo vão ficar sem respostas. Mas há que repensarmos juntos, que país deixaremos para as nossas crianças? Todas elas vítimas de um, igualmente, vitimado pela sua própria loucura e vitimando por ela também.
Aqui, fica a dor televisionada e a solidariedade às famílias e aos sobreviventes dessa tragédia nacional.
Em prece, silencio em nome da todas as crianças e jovens ainda vivos nas muitas escolas espalhadas pelo Brasil, em memória aos mortos educacionais.
Eliz Pessoa
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Insinuação
Foto tirada da Galeria de Patrícia Carmo (internet)
Depois que voltei de viagem, uma pena invadiu meu sistema, confundindo as sensações menos remotas daqui de dentro. Meu mundo rodopiou e as coisas que antes faziam sentido, perderam-se num piscar de olhos descuidados. A cidade de antes, as pessoas, relações, a segurança e outras palavras. Mutuamente meu mundo de dentro não ouvia mais os sons com os quais me identificasse e as pessoas em minha volta, perceberam o extraviou. Nessa correria, entendi que o tempo escorre sutilmente de nossas vidas e por essa razão é que não me cabe mais podar-me cotidianamente, como se eu não existisse em mim. Meu lugar de trabalho não é mais na coxia, do contrário, está no mundo, nas outras pessoas e arquiteta na artimanha das coisas. É pra fora que o Sol me alcança por inteiro, sem piedade de minhas retinas. Se houver o nascimento de um texto é para levá-lo além do sossego de meus cadernos. Meu sorriso deve exibir-se para além da imagem refletida no espelho lá de casa, livre para outras faces. Não há mais espaços para boicotes pessoais. O mundo é minha morada e nele meu palco se abre inteiro. Entrego-me as viagens desta vida e insinuo atrevidamente ao tempo que me espera, sem receios, sem obstáculos àquilo que me alimenta.
E assim a existência que me experimenta agora, se fará inteiramente feliz na absoluta certeza de que todo o processo “sevaleudeapena” sem pena de nós.
eliz pessoa
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Salvador, Bahia
Pelas ladeiras do Pelourinho, em pleno processo resgatado pelas madrugadas, mendigos dormem sobre as calçadas das igrejas antigas, meninos de rua cheirando cola e acetona, procurando por crack e perambulando em paralelepípedos históricos.
A primeira impressão percebida vem da curiosidade e dos apelos ao desconhecido. Um universo que se repete novamente: mendicância, pobreza e verdades de um mesmo Brasil arrematado por si mesmo.
Na pele a umidade típica de cidades praianas e a nítida sensação do tamanho de Salvador. Gigante a cidade se ergue sobre meus olhos na experiência do estar aqui.
O povo esbanja um “q” de orgulho por sua baianidade, como se dissessem: “ópaí que eu seu baiano”, alargando a face para um “Sorria minha linda, você está na Bahia!”. De imediato, a sensação de um pensamento sorrateiro em voltar outras vezes.
A Yolanda escondida na mochila e a cidade calada sem o descuido das palavras.
Pela manhã o sotaque cantarolado do baiano dá o tom da conversa. Café da manhã reforçado, depois ladeiras, ladeiras e mais ladeiras. Deve ser por isso que dizem que o baiano é preguiçoso. Depois, transporte coletivo e o restante da cidade.
Facilmente se tropeça em igrejas. Arcaicas, banhadas ou não a ouro, dilacerada pela cúspide dos anos e carregada de uma religiosidade cercada de sincretismo, com seus santos pesando sobre as idéias confusas que nos impuseram do pecado e do pecador. A maioria delas, esquecidas no tempo. Poucas delas em processo restauração, o que deixa entender que foram também ignoradas pelas instituições que deveriam cuidar desse patrimônio.
Por aqui os encantos são traiçoeiros... Moedas, centavos são cobiçados por vendedores, pedintes, ciganas (ai delas...) e outros indivíduos locais. Na tentativa de tratá-los com simpatia, sem me tornar indelicada, abri um sorriso no rosto, mas a firmeza na resposta nessas horas é mais que necessária, senão acabamos rodando a baiana. Fitas amarelas, verdes, azuis, vermelhas oferecidas largamente como quem deseja enfiá-las “goela abaixo”.
Fotos, flash e rascunhos. Turistas de todos os cantos do mundo movimentam a economia de uma Salvador ainda fascinante, confusa, malandra e ávida por todos eles.
Cercada de negritude, surgem os estilos e cabelos rastafári, dreadloock, tranças coloridas e idéias que se desenrolam nos grafites, gravuras, desenhos de um povo que se conta dia a dia em seus gestos sensuais, na fala afoita, na conscientização da raça, nos gestos e sons dos tambores do Olodum ou nos afoxés dos blocos de um carnaval que eu não vi passar, mas que já imagino através de sensações abrasileiradas.
O tempo nesta cidade transcorre momentamente sobre o vazio das horas que parecem não existir. Até parece que alguma coisa salva-a-dor da gente, pelo o menos por enquanto. Entre a metamorfose dos dias e noites, o barulho dos copos preenchidos de cerveja e conversas soltas na audição das palavras ditas simultaneamente, depois suas praias urbanizadas, estreitas em faixa de areia, onde o mar dá o ar da graça sobre o muro de pedras, que tenta ingenuamente conter o avanço das águas. E quando as ondas invadem as calçadas molhando de gente, um baiano anuncia a frase: “Êita que o mar hoje está é bom... ta jogando até sereia pra fora.”
Na Bahia o deboche rola solto, a paquera evidencia-se nos olhares que se cruzam intensamente entre as pessoas. Brasileiros de todas as partes do país, gringos do todos os cantos dos continentes e uma alegoria guardada para o dia seguinte.
Igreja do Bonfim, sensações dilaceradas, fitas amarradas em três nós na portaria das escadarias e na praça central, benzedeiros do candomblé e umbanda se oferecem em troca de algum dinheiro. Muito obrigado mais uma vez.
Alguns Don Juan cercam as gringas de palavras gastas em Português. Sensuais, cortejam suas moçoilas e levam seu dinheiro embora.
Assaltados ficamos todos, diante dos fatos carregados de ações brasileiras.
Cachorros, gatos, bombas soltos, livre em tempos de vira-latas, dividem democraticamente a praças públicas com moradores das ruas.
No sobe e desce de ladeiras, as idéias se confundem com as sensações da gente, como se o mundo se apresentasse sobre nossos olhos e curvasse aos nossos pés.
A Bahia me deu a sensação de que o melhor lugar do mundo é aqui e agora, dentro da gente.
Axé!
Eliz Pessoa
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