segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Domingo


foto: Felipe Silva

Enquanto dormiam, os pássaros lá fora amanhecem num som festeiro.
Bem-te-vis, Quero-queros despertam o áudio de uma, até então, silenciosa manhã de domingo dentro dos apartamentos.

Ela descansa o ouvido sobre o peito dele, ritmada pelo bater das válvulas do coração.
E o pesar da respiração fazendo amor com o oxigênio, no entrar e sair do ar exercitado nos pulmões.

Ainda é cedo, quando as palavras despertam na cabeça de um corpo em transe, entre os mistérios do sono e o parto da manhã.

Como em letra de canção, “hoje o dia também pousou sobre a minha cabeça e clareou,” desobedecendo à indisciplina da palavra quando nasce adentrando a identidade do ser, encenando outro autor, desenhando outro texto estrábico num ir e vir de um malabarismo de idéias. Enquanto o carnaval fora de época dos passarinhos ainda lá fora e o amanhecer preguiçoso do dia anuncia o domingo, de novo.

E mais uma vez o corpo se ergue envolvidos em movimentos letárgicos e espanta-se com a festa dos passarinhos.

Ela também quer cantar pra acordar a vizinhança inteira, como se todo dia fosse dia de índio.


eliz pessoa

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