terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Cinco pra meia noite

Foto: José Reis (Sopro de Vida)



Pela janela, a fresta da noite carrega o cheiro do mato na mata de traz da quadra e os cachorros viram-se em latas na esquina da casa abandonada, depois saem a procurar cadelas-namoradas, e ganham quadras escuras da noite desta cidade.

Por aqui uma certa sensação de culpa assola as idéias, porque um felino fora solto, por mãos de escritor, depois de castrado sua sobrevivência - o que de mais precioso um ser vivo guarda em si. Talvez seja o peso da consciência mais atenta ao que circunda ao redor... Talvez.

Mas não há voltas quando cicatriza o rasgo.

E os raios ao longe trazem consigo a vontade de ver chuva caindo na janela do lado de fora e algumas intemperânças desmontam o ânimo do trabalho varando noites.

Algo se assemelha com as contradições do clima... É a chuva que se insinua e não desaba, ou o sol que raxa cuca de homem vazio.
Tudo por aqui ecoa trovões sobre nuvens rosadas da noite.

Em meio a algumas sensações cotidianas, como as costas reclamonas diante do micro, os olhos já pesados de tanto ver àquela vontade traiçoeira de acolher o livro e ler, deixando pra depois o que seria pra ser feito hoje, ou outras imprudências de quem ainda se perde ouvindo qualquer coisa que se sinta, em meio a tantos sentimentos acústicos.

No estúdio, as unhas de tinta vermelha, dão cores aos dedos, e a pressa desavisada das retinas, rendidas recolhem outra memória. E esse papo baixo de companhia de letras, não me deixa esquecer que eu estou aqui de passagem, pairando sobre um precipício infinito onde flutuam pensamentos inflamados.
À noite assim que é bom...

É tarde, tenho que dormir.


eliz pessoa

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