quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Cadê os óculos do poeta?

foto:
Carlos Levistrauss


Nos buracos da cidade transitam ratos, baratas, “baratos”, insetos, incestos, felinos, até alguns calangos trocaram a liberdade do gramado cerrado por ares do submundo urbano. Como no fundo do mar, debaixo das metrópoles, um novo mundo, vivo debaixo de nossos pés.

Em meio ao caos, a vida se expande e deita-se na grama, sobre o sol raso dos dias quentes. Enquanto o trânsito orienta os sentidos, outros ouvidos carecem de música.
Os mp3 enfeitiçam a paisagem que passa e num instante as avenidas parecem saídas de um filme de cinema.

“Cansei de ser duro, vou botar minha alma a venda” canta o caçador, cansado de ser caça. E a Yôga, ainda assim, alonga a coluna do indivíduo, estreitando os laços da energia bloqueada na loucura dos dias.

Muitas morenas desfilam suas feições nordestinas nas asas abertas da cidade. Reflexo da genética abrasileirada. À flor da pele, um samba descompassado de Almir Guineto traz memória de um Chacrinha envelhecido nas tardes de sábado. E o carnaval ainda nem pintou por aqui.

Sem muitas palavras, o olho de um anônimo, observa a vida que lida na gente.
Sutilezas na nuca das meninas lá fora, intenções denunciadas pelos gestos, enquanto a mão do faxineiro alisa a pele da parede.

Limpidamente, o bloco vai ficando mais bonito, trabalhado pela forma das coisas.

Por aqui, poucos corintianos exibem suas camisas de uma nação supostamente democrática. Suspeito de tudo isso e ando (sinceramente) com medo da polícia, sem (ainda) fazer coisas “erradas”. Depois, desconfio de qualquer conversa de Jornalista, enganando como a torcida dos caras.

Paraliso a leitura do jornal de uma banca qualquer, pois transformaram o trabalhador morto, num mau elemento “graças” a eles, menos um no sistema.

Algumas vertentes aumentam o grau de minha miopia, e ainda assim, nego o uso das lentes de vidro, porque por vezes nem quero enxergar melhor. Como Drummond nas calçadas, descalçadas pelos gringos europeus que visitam o país das mocambas, mulatas de bundas redondas. Depois que roubaram até os óculos do poeta. Talvez nem ele queira ver no que nos transformamos.

Mas ainda cabem processos galgados pelas pernas que correm dos bandidos, como “Trainspotting” de um filme assistido.

Ando tão a flor das ruas, que qualquer cena desvairada me faz pensar...

Mas devolvam ao Drummond os óculos, pois ele já não enxerga mais, além de tudo que avistou em sua poesia: “Existe, existe o mundo apenas pelo olhar que o cria e lhe confere espacialidade?” Concretitude das coisas.

Em meio a tudo, falácias...

:: eliz ::

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