sexta-feira, 11 de maio de 2007

O Grande Circular

Grande Circular, até isso tá diferente nesta cidade. Me lembro bem quando estudava, uma das grandes marcas daquela época em Brasília, era a linha que vinha intitulada: Grande Circular. Hoje em dia, até o nome já não é mais o mesmo, agora é só Circular, ou Circular Plano Piloto.

Antigamente, pessoas andavam de um extremo à outro dessas duas asas na linha do circular.

Havia histórias de assaltos, ponto de encontro entre desconhecidos e conhecidos, meninas fazendo farra, adolescentes cheios de tipos: tipo assim, tipo assado. Diálogos interrompidos em meus pensamentos . . .

Deixando o egocentrismo de lado, muitos pensamentos, alguns perdidos, outros encontrados no percurso do ônibus.
Conheço gente que já passou reveillon (isso mesmo) reveillon, dentro do Grande. Comemorando o término e início de mais um ciclo, junto aos solitários motorista e cobrador.
Será que solitários mesmo? É certo que uma solidão bastante acompanhada. Eis a solidão de nosso tempo.
Também sei de pessoas que na falta do que fazer, andavam todo o trageto do Grande, só pra ver algo "novo".

No Grande devia-se desconfiar de tudo, do homem engravatada lá atrás, do menino sujo ao lado. Todos eram suspeitos na linha, inclusive eu.
Qualquer vacilo era um grande vacilo, qualquer distração poderia levar o salário do mês todinho para o bolso alheio, e quando isso acontecia com alguém, aí vinha o susto, juntamente com ele o "medo" de próximo se tornar eu, você, nós!

Mas o Grande também tinha espaço para a poesia, muita gente leu algumas dela por lá, nos vidros do ônibus.
Poesias engraçadas, sérias, profundas, que dependendo de como estivéssemos, influenciava diretamente o nosso modo de sentirmos o mundo.
Muitas amizades nascidas ali e muitas desavenças também.
Muitos e muitas todos os dias.

Mas o Grande tinha suas figuras carimbadas, como o rapaz da Arnica, àquele que, sem que ninguém esperasse, gritava acordando todo mundo das próprias idéias. Pior é que a tal da Arnica era milagreira, curava tudo e podia-se pagá-la com tudo. Também valia para obtê-la, dinheiro, ticket, vale transporte e etc... Na ausência destes, caberia os óculos na sua cabeça, o cordão ao pescoço, o tênis, a calcinha, o sutiã, qualquer acessório era objeto de troca pela "milagreira" Arnica.

Tinha também o deficiente mental conhecido por todos que ali transitavam. Alguns diziam: olha o "doidinho" do grande. Ele não cheirava bem, mas parecia uma criança. Além dos motorista rastafari e do cobrador sério e de tantas coisas que ficaram na memória de minha cidade.

Hoje quando passa já não mais o Grande, mas apenas mais um ônibus transitando em nossas ruas. Pra lá e pra cá. Como se as coisas continuassem as mesmas dentro de nós.

Novos Tempos . . . Só não sei o que isso quer dizer.

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