quarta-feira, 28 de março de 2007

No livro “O Ensaio para Cegueira” de José Saramago, as personagens contraem uma epidemia de cegueira-branca, onde tudo que passam a enxergar é o branco total.
Aqui, no Hospital de Base, alguns pacientes, pacientíssimos aguardam atendimento para seus olhos lacrimejados por algum ‘agente da ativa’. Meus olhos agora doloridos observam crianças e adultos no corredor de espera. A fila não esta lá cheia como de costume e do outro lado do corredor o som estúpido da tv não distrai. Do contrário, trai a minha atenção em outras coisas, além do cansaço após um dia de ´trampo´, e o choro do menino rouba paciência da mãe.
Fico pensando em Saramago... E se suas histórias acometessem a todos? Eu mesma olho muitas coisas e não enxergo de fato, passo pelos mesmos caminhos, e mal sei detalhes do a respeito deles, como o mesmo olhar sobre as mesmas paisagens.
No meio de dois sujeitos escrevo. A minha direita um garoto sentado de pernas abertas, toma o banco quase todo... Êta sujeitinho espaçoso! Na direita, o outro fica me olhando escrever. Uma garota diz que vai colocar no Orkut dela alguma frescura de menina, passa blush mexendo os olhos e retoca o batom. No banco do outro lado, dois sujeitos me olham perturbados com os riscos no papel, e o olho lacrimeja de novo.
A guardete desconversa o cara dos olhos faiscados pelo trabalho insalubre, onde a maioria dos homens aqui, trazem seus problemas da lida.
Não vejo a hora de ser atendida, até porque meus olhos andam cegos de ver...
Quando chegam mais crianças o povo “treme”. Crianças têm prioridade.
Já li e reli o livro “Esfolando Ouvidos”, olhei fotos, folhei agenda, futriquei o celular, limpei os olhos e pensei outras mesmices, deixei outras coisas e nada... Nenhum parágrafo que desenvolva meu ser.
Todo mundo com dor no olho e um. Apenas um médico que socorra tudo isso. Logo eu, que queria nadar amanhã. Logo agora que a doutora subiu pra cirurgia e sabe lá quando desce!
A gardete, pra animar a galera, informa-nos que, caso sejamos atendidos hoje será de madrugada. Otimismo ou realismo? Não sei, não sei...
Alguns acreditam e resolvem voltar a manhã. E eu, era mais feliz quando não sabia das coisas, quando não as entendia direito.
Resta minha paciente, impaciência e nada mais.
Saúde!
Logo aqui, onde se sente falta dela.
Vai ver que é por isso que dizem "quem não tem colírio usa óculos escuro."
eliz

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