É bem verdade que sol pra mim, só casa bem com água, piscina e mar. Fora essas possibilidades, o astro rei me causa agonia, rouba minha paciência um tanto quanto "rasa" por aqui.
Foi então que num domingo desses, acometida por um surto passageiro de insanidade, resolvi convidar a Bibis pra sair por aí pedalando sobre o asfalto escaldante de Brasília ao meio dia.
Sobre as asas do avião planejado em tempos de terra vermelha, esperança, poeira e solidão. Eixão norte e sul, uma reta que não pede muita atenção e que daria até pra relaxar, não fosse pelo calor de um verão alumiado de claridade. É quando meu corpo e minhas idéias evaporam-se em menos de trinta graus, perdidos em alguma escala por aí.
De lá sobre a pista, ela. Sem filtro solar, sem boné, sem óculos escuros e calma.
De cá de resto, eu. Com filtro solar, com boné, com óculos escuro e inquieta.
Se coubesse trilha sonora nas duas imagens seriam: Smells Like Teen Spirit, na voz de Kurt Cobain e Don’t Worry, Be Happy, na voz de Bobby MacFerry. Ignorando a tradução da primeira é claro.
Ela sobre o pedal assobiava a melodia da segunda canção. Eu, desesperada, evoluía no ápice da primeira, e matutava: como um ser de sangue latino correndo nas veias, coração e alma resistiam "krishinamente" aquele calor todo?
Se ainda assim coubesse, dois personagens que caracterizassem perfeitamente nós duas naquela ocasião, seriam Charlie Braw, do Snopp e o Pateta, da Disney.
O Charlie, numa animação em que ele liderava a prova de atletismo, mas que antes da linha de chegada, a linha do sonho de vitória invadira seus pensamentos... Imaginando a glória do primeiro lugar. Então, de olhos fechados e nariz mirando o céu, dando espaço ao pretérito imperfeito das coisas, a linha de chegada?
Ficou nas imagens apenas realizadas no fantástico mundo da imaginação.
Aqui, todos os poros do meu corpo exalavam o Pateta num desenho em que ele acordava, com a paz de uma noite bem dormida, pegava seu modesto carro e saia às ruas da cidade, onde reinava o tráfego infernal do trânsito. A paz a esta altura do desenho, fora transformada numa guerra de sensações. Agonia, impaciência, uma espécie de vulcão em erupção, como algo que a gente desconhece em nós, mas que fica ali quietinho, esperando o momento certo de despir-se.
Parte de tudo que nos parte em nós.
Ao fim, sobrou um contexto inserido aqui e mais duas músicas escaldantes de uma amizade programada para nos desprogramar.
eliz