segunda-feira, 2 de maio de 2011
Paranoá
Foto de Sérgio Costa
As ondas lambem a margem de terra vermelha, deixando conchas de água doce sobre o caminho. Não posso ver, mas ouço o barulho provocado pelas vozes de crianças brincando no lago. Águas de Oxum refletem o céu mais misterioso que conheço, e, embora íntima de suas incertezas, ainda me dá um vazio tremendo em vê-lo tão inteiro sobre o a minha cabeça.
Bem à diante, uma lancha luxuosa dá movimento às águas escuras. Mulheres exibem-se de biquíni e os homens se engrandecem com suas lanchas e suas fêmeas ambiciosas. Inesperadamente um pequeno ultraleve sobrevoa meus pensamentos distantes.
Recordo-me que há um tempo, este mesmo mato tinha cuidados especiais, diferente de hoje quando alonga seus fios sobre o Paranoá, escondendo a gente da gente mesmo. Diálogos entre cortados à distância, barulho do motor, olhar corriqueiro e outras metades.
Escrevo pra distrair o tempo, pra esquecer. Depois, reescrevo pra dá sentido à vida que não memorizo num único instante. Essa vida cheia de falhas, de atitudes silenciosas, dos absurdos de quem detém o poder e de quem experimenta a pobreza. Pobreza das ruas, dos lixos, d’alma em aglomerados urbanos. Pobreza alimentada nos restos desperdiçados em nós. Mas a vida é assim mesmo, misteriosa, passageira, insensata, milagrosa, cheia de artimanhas e musicalidade. Essa vida que dá e passa como as pequenas ondas do Paranoá.
E às vezes, essa solidão que nos faz inteiros, em outras é o acompanhado que se senti só, ou, é só a gente na gente mesmo, convivendo com as nossas próprias diferenças. E há tanta coisa nesse absurdo vazio.
Eliz Pessoa
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