segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Itermitências


(Foto de Bernardo Soares)

Escrever sobre a morte não é uma tarefa simplista, ainda mais quando ela resolve trazer a notícia na madrugada. Em resumo, mal dormi direito e quando acordei a sensação estranha de perder alguém, mesmo quando não temos tanta proximidade assim, nos deixa anestesiada e com uma interrogação irremediável na cabeça: Porque morremos?

Ironicamente quando soube da notícia estava lendo “A Menina que Roubava Livros” e este livro é narrado pela morte. Ela é quem conta toda a história para o leitor, como se de fato, fosse íntima de nós. E não o seria? Embora tenhamos a certeza dela cruzando os nossos caminhos, quando ele passa perto da gente, traz consigo significâncias existenciais e outras tantas perguntas. O que de fato é essencial em nossa existência? Quem de fato faz parte dessa importância? Como desejamos sermos lembrados pelos próximos? Que legado deixaremos ao mundo? E a nós mesmos?

Viver é a extrema oportunidade de se lançar as novas experiências, de permitir-se ao mundo. Nem sempre é fácil, pois muitas vezes nos atolamos em tantas bobagens, nos prendemos em coisas pequenas e esquecemos-nos de estarmos aqui, na plenitude integral de nós mesmos. Morrer é uma outra oportunidade que a vida nos dá, de realizarmos o mistério. E mistério é silêncio, não se conta por nada, apenas é.

Não sei o que é morrer (ainda) mais sei que a hora de todos faz parte da continuidade exata da natureza, da Roda de Samsara, da dança de opostos, do caminho de um plano maior no qual não somos os únicos coadjuvantes.

Morrer nos dá a dimensão da simplicidade e do quanto a arrogância e prepotência é nossa maior covardia diante de nós mesmos. A morte deveria de fato ser nossa eterna companheira, o lado B da existência, mas uma grande mestra da vida.
A maior das intermitências.

Morremos porque vivemos um dia.

eliz pessoa

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