Já é tarde e o sol inquieta-se no horizonte da cidade.
Aqui dentro, as sombras do entardecer chegam levando todos os espaços do escritório, acobertando alguns pensamentos, enquanto um desejo sorrateiro experimentado no cheiro do café surge encantando o paladar.
É bem tarde, e as estações do ano levam um pouco da vida da gente, entornando sobre a mesa, palavras perdidas. Um tanto quanto deliquente, me preparo para outra cerveja e conversa de amigo. É tempo de ouvir os outros, de esquecer das entranhas da gente, de deixar o ego quietinho, quase adormecido como se fosse um menino comportado para não atrapalhar a vaidade, agora discreta, menos enfeitada pros olhos alheios. E um resquício de simplicidade, se enfeita em si mesmo. Bem na hora em que o movimento do trânsito respira fumaças nervosas, levando o destino pra algum lugar. E um textinho desprevenido, arrisca novos acertos, esquecendo uso da crase, fincada no a. Exercitando as letras apertandas sobre linhas, formalizando o nascer das palavras existentes em cada um de nós.
E o silêncio? Eis o maior exercício dentro e fora da gente. E só através dele o universo se abre. Um minuto aqui, revela um céu cor de rosa lá fora.
Essa noite faz frio.
eliz
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