quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Por uma prece


Ontem uma ausência perene se fez prece.

Sentimento calejado, espaço vago entre o ser e o ter de uma questão.

Essa passagem se mostra sorrateira, seduzindo em momentos de descuido, enfeitando-se em fantasias de carnavais nas ruas da cidade que habita em cada um de nós.

Nem só de festa vive o homem, mas há que celebrar a alegria e a dor. Há que acalmar a alma para entender os abismos que surgem entre dois pés descalços num morro distante.

Sei que é breve, sei que passa, mas enquanto resiste o caminho, outras lições se mostram apresentadas.
Todos nós temos a nossa dor, todos nós temos as nossas responsabilidades, ninguém é melhor que ninguém, ninguém está acima da maior autoridade, aquela que não finda jamais em olhar a gente por outros ângulos.

Eu sei que o caminho vai apagando na medida em que a gente o trilha, sei também que a estrada é longa e rápida, como a incoerência de muitas palavras. Mas eu peço por mais fôlego, peço por todos aqueles que não têm mais ar, por todas as almas que se encontram no vazio, peço por uma prece que alcance a todos os corações, por uma luz que encontre passagem em todos os chacras abertos pelo mundo. Peço por um instante de silêncio em memória de todos os que se foram na esperança de ver um mundo melhor.

Peço sempre e todo dia por menos pesos em nossas explosões, porque nem só da carne vive o homem, nem só do espelho vive a imagem, nem só de palavra vive a língua, nem só de entorpecimento da vida se embebeda a alma, nem só do nó se opera um milagre.

E enquanto a canção se espalha pela casa, certo silêncio pede licença enquanto a noite termina.


elizpessoa

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