sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Nem todo dia é santo



                                                                                        Foto Estadão, fonte Google Imagens


Dia a dia, passo a passo, caminho do mesmo. Mas nem sempre as repetições se apresentam. Hospital público e muitos pensamentos naquela cabeça de mulher. Como medir a diferença entre a sua dor e a dor dos outros? Tantos deles. Aqui é fácil diminuir o seu problema, medir por atalhos confusos. Daqui e dali, um olho enfaixado, outra perna amputada, uma cabeça raspada, entre passos cansados e um olhar censurado pela presença de um corpo esquecido numa maca. Muita gente simples, doente e aquela sensação atrasada do tempo que se perde na vida da gente.

Sentava a moça observa e pensa, exercita sua paciência esperando como todos ali. No vai e vem da sala dos médicos, representantes de produtos farmacêuticos entram, passam um tempo e saem levando consigo o tempo daquelas mulheres envelhecidas no banco de espera. Ela pensa no absurdo daquela espera toda. Não poderia estar certo, e experimenta certa sensação de infração à saúde alheia. Pensava também em tributos, impostos, taxas administrativas, absurdos de um país que acostumou e envelhecer mais rápidos sua gente. Que se acomoda na indiferença da burocracia. Quanta dor ainda escondida em meio aos seus tramites infinitos?

Fechou os olhos, encostou a cabeça na parede e silenciou. Mas aquela quietude disfarçada foi quebrada pela voz de uma senhora de cabelos brancos, que comentava sobre a demora naquele banco de espera. Não satisfeita, relatou seus problemas de saúde. Sofria de diabetes das mais perigosas, pressão alta fora de controle e depressão controlada por remédios. Disse que seu caso precisava de acompanhamento de três em três meses, mas que já fazia um ano que não conseguia consultar por conta daquelas questões expostas acima. Era visível uma espécie de “orgulho” em seu modo de falar sobre sua doença. Como quem diz: “olha, meu problema é serio por que carrega muitos superlativos.” Bem, ao menos foi assim que a moça fez a leitura em sua expressão.

É fácil perceber que seu problema é miúdo perto de outros tão maiores. É fácil até sentir-se mal diante de tudo isso. Só não é fácil perceber o descaso das autoridades diante ao seu povo. Descaço esse, que se enxerga fácil ao ver a dureza dos profissionais de saúde, ao lidar no atendimento aos doentes. É claro também que não há por que generalizar coisas, muito menos pessoas.

Em meio ao “holocausto” das enfermidades dá para perceber alguns gatos pingados fazendo alguma diferença. A moça com seus olhos já cansados avistavam quatro mulheres vestindo camisa rosa, andando pelos corredores do hospital, distribuindo café, chocolate e pão, além do sorriso agradável no rosto. Evidente que quem ajuda se ajuda acima de tudo, e essa seria a grande lição daquela oportunidade. Não é fácil viver em meio a um turbilhão de flagelos, e tem muita gente que vive assim todo santo dia, embora nem todo dia seja santo.


elizpessoa 

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