foto: Luiz Caçador
Todo final de tarde (como ousaria alguns escritores), no crepúsculo, é quase sempre assim, ele começa a cantarolar seus semitons como se fosse um Luciano Pavarotti sobre o palco de uma cena da ópera mais “glamorosa” da Itália.
Ele é miúdo, tão pequeno que chega a caber na palma da mão, mas o esforço que faz para afinar as cordas vocais é tão sincero, que o peito, enfeitados de pena, estufa como se fossem estourar numa próxima nota desgarrada.
Definitivamente, ele faz à mesma coisa, quase todos os dias. Como se, os dias todos fossem iguais, com as mesmas questões infundadas.
Interessantemente, do outro lado da árvore, sentado à beira das entradas de supermercados, os cães também arriscam outras “sempre”, amarrados a coleiras enquanto seus donos assumem os seus papéis de consumidores nos finais de tardes. Quando a nossa economia agradece, amadurecendo o ato novo, quase tardio.
Aqui na margem esquerda do micro, o autor bem que desejou um escrito em folhas de papéis em branco, só pra ver as formas da caligrafia preenchendo o vazio de um A4 qualquer. Se bem que de qualquer ele não tinha quase nada, depois que o desejo do texto almejou os olhos nele.
São quase dez minutos para as dezoito horas de uma tarde de terça, e nem tem feira exposta nas ruas da cidade.
A falta de educação dos motoristas, e o excesso de poder subindo às cabeças dos habilitados dão formas às regras infringidas do texto. E uma raiva, camuflada de Pateta, num desejo das antigas de meu tempo, encarna no corpo de alguém, como se tudo fosse possível no momento de raiva derramada sobre a fúria do volante. Velozmente o parágrafo prossegue, ainda que seja grave a greve dos roteiristas americanos. E o mundo divulga as imagens do outro lado da América.
Não me importo quase nada com tudo isso, e o quase, abrem espaço para um caixa de surpresa cheio de mistério. Quase presto atenção ao fato ocorrido.
Silenciosamente uma lista de Shindler aparece no MSN, e os animados bonecos coloridos adormecem enquanto o mundo gira.
Já é tarde, e esse dia nunca mais voltará as nossas existências, porque passará e deixará àquela íntima sensação de que nunca existiu de fato. Foi como um algo não vivido.
Porque, por aqui, o passado é apenas um sonho, que, às vezes, enche de saudades, noutras é menos singular que a única verdade, presente agora. Bem aqui, onde tudo acontece num piscar de olhos, no descuido do segundo perdido.
: : eliz : :
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