Festa PLAY
Já era tarde quando a chamaram para encontrar os
amigos no beira. Ela não hesitou e de imediato topou encontra-los numa das asas
da cidade. Beberam, comeram, conversaram e decidiram ir para uma festa na outra
as. Ela tentou enganar o frio com um agasalho pesado. Encontraram muitos
motivos gastos e desalmados, até que enfim, chegaram. Dinheiro curto, vontade
acirrada e aquela moçada que ainda reside na casa dos vinte. Estilos e tipos
quase uniformizados, uma cerveja para ocupar as mãos e um olhar meio esquisito
sobre o mesmo modelo de sempre. O eletrônico misturado ao Rock, um som um
confuso, um povo disfarçando o divertimento, uma noite de sexta.
Todos procurando diversão e ela só conseguia pensar
ela estava cercada de amigos, porque todo o restante era o caos e a
indiferença. O banheiro feminino abarrotado de moçoilas programadas, inclusive
ela, que ainda sim, suspeitara desde o princípio daquela atmosfera toda. O
espelho mais cobiçado que galã da novela das oito, os trabalhadores da noite,
faxineira de lavabos, vendedor de fichas, segurança. Dentre todos, o único que
aparentava diversão era o DJ, que estava mais para animador de auditório ou
professor de academia. Quanta empolgação para um início de festa, sensação que
ela não compartilhava. Todo mundo em busca da tal felicidade instantânea e ela
apelava para a cerveja tentando entrar no clima do maior animado, o cara.
Estaria ela retraída? Não, ela não era tipicamente
uma pessoa inibida. Do contrário falava pelos cotovelos, gesticulava como
italianos, sorria até mostrar o siso, e ainda sem juízo, nasceu para comunicar-se.
Naquela noite a outra face se fez presente e um
olhar observador foi tomando espaço nos cantos da festa, realizando algum
sentido. Moças paquerando moças, moços procurando gente, homens segurando bebidas,
mulheres, homens segurando a parede, meninas antenas nos sentidos e o maluco do
DJ querendo dar mais ênfase a sua parada.
Não satisfeita, ela escondera as mãos nos bolsos do
vestido estampado. Parada na pista inquietava-se. Um sujeito meio sem jeito se
aproximou e logo começou e puxar conversa. Ela não se esquivava, no entanto,
modificava o foco da observação. Agora ele – o centro de sua atenção - se diz
não gostando da música e acertada e perguntava do que música a moça gostava.
Ela remediou o assunto com o nome Michael Jackson, ele citava todos os álbuns
do cara, ela sorria enquanto ele se animava. Divertida escutava e testava para
ver até onde ele chegara. Ele tenta, persiste, insiste, acelera diminuir o
ânimo, anima-se de novo, recorta o pensamento e tenta, tenta e tenta. Ela experimentava
o cansaço que o sujeito a causara nas voltas para conseguir um beijo. Ela se
cansa e resolve abrir o jogo e dizendo a ele:
“Olha aqui! Estamos no meio da uma pista de dança,
o som tá rolando, as pessoas dançando, alguns agindo outros aceitando e você gastando
todo o seu raciocínio para no final das contas, conquistar um beijo, uma ficada
ou coisas do gênero, mas não vai rolar. E na boa?! Se quiser continuar eu não
me oponho, mas tenha consciência que não vai rolar.” Ele insiste, ela relaxa. Noite à dentro, cantadas furtivas, gente
embriagada, drogas, esquisitices e outras paradas. Ainda bem que é sexta-feira.
elizpessoa
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