sábado, 23 de janeiro de 2010
SAMPA
Em 25 de janeiro de 1554, as margens do Tamanduateí e Anhangabaú, nascia um colégio de jesuítas sobre o planaldo de Piratininga. Ninguém poderia imaginar naquele tempo, que este seria o marco inicial para o surgimento daquela que hoje, é considerada uma das maiores metrópoles do mundo.
São Paulo é assim, em princípio causa estranhesa, provoca espanto ao ponto de silenciar palavras e um assustado olhar de quem a vê pela primeira vez é insuficente ante a sua imensidão.
Experimentei um tiquinho de sua ousadia, ficando evidente que é necessário tempo para conhecê-la de fato. Para alguns paulistanos, nem nascendo e residindo em sampa, grande parte de suas vidas, se conhece a megalópe por inteiro.
Passeando pela Paulista num domingo de chuva fina e insistente, deu um nó na garganta ao musicar no pensamento, trechos da canção de Caetano Veloso, onde se traduz o misto de sentimentos provocoadas pela cidade dentro da gente. Eu também nada entendi e ainda não entendo... Mas é fácil compreender alguns paulistanos que acham que tudo que não é São Paulo, é caipira. Posso confessar esse sentimento caipira que dá na gente estando aqui. Me senti assim, caipirona em sampa, miúda diante os seus edifícios multiplicados num piscar de olhos. E não me cabe nem uma gota de vergonha em assumir esse lado em mim. Por exemplo, não havia visto até então, tantos japoneses circulando em outra brasilidade, não apenas dentro da Liberdade, ou ainda, tanta gente de diversas origens formigando num só lugar.
São Paulo é cosmopolitana e naturalmente carrega em si problemas de grande complexidade: congestionamentos, poluição, violência, desemprego, super-população e desigualdades. Ainda assim, a poesia é latente, permeável e urbana. Bem mais que a paulicéia desvairada, o caos vindo de todos os lados do Brasil. Por aqui, não é o paulistano que faz a diferença, e sim, o ser humano e suas infindas possibilidades.
Em meio a ruas concretas, surgem antigas vielas de paralelepípedos perdidos no tempo, cercados de charme. Depois de um olhar superficial, essa paulistana mostra-se, incanssável em suas noites afoitas e sua gastronomia diversificada, além dos intraduzíveis borburinhos das vozes e talheres trincados.
Cidade símbolo do desenvolvimento e do progresso desmedido e seus altos custos. Democrática em essência, a cidade não tem uma única face, mas diversos rostos e raças confundem-se dando cores a diversidade a cara de São Paulo. Sua concretude acobertada pelo cinza das fumaças poluídas, não representa o retrato de sua imagem, pois o carnaval grafiteiro nasce dando vida aos edificios que crescem desejando encostar as nuves, enquanto mudanças climáticas modificam a paisagem e a fama da terra da garoa, e o calor imenssurável pelo excesso de humanidade sobre o asfalto, emana sem saída por todos lados, transformando as coisas.
A busca por oportunidade se perde, muitas vezes na desesperança das grandes cidades superlotadas em busca de si mesma. Cidade dos movimentos artísticos, berço da Semana de Arte Moderna, da agitação desmedida. Coração dos grandes negócios, terra das “padocas”, do insano ir e vir de ações cronometradas num relógio. Espaço do Pateo do Collégio, do Copan e suas curvas em S, do Mercado Municipal, da Estação da Luz, Catedral da Sé, do Martinelli – primeiro arranha céu da cidade, do MASP, da feira Benedito Calixto, do Ibira(puera), dos museus, teatros, dos centros culturais e fundações, dos imigrantes italiano do Bixiga, aos antigos operários da estrada de ferro do Brás e da Lapa, da Paulista de antigas chácaras dos cafeicultores e industriais e a primeira via pública asfaltada do país, das periferais que espandem-se dando outra cara ao perfil da cidade, da “concretitude das coisas”... Por essas e outras razões que hoje, a exatos um mês que antecedem a data inical da instalação dos padres jesuítas no Pátio do Collégio, que escrevo essas pequenas percepções pessoais sobre SÃO PAULO e a vontade de revivê-la novamente diante de meus olhos estatelados e caipira.
Brasília, 25 de dezembro de 2009
eliz pessoa
(*) Trecho em itálico: Carlos Drummond de Andrade em Suposta Existência.
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