terça-feira, 14 de outubro de 2008

São Luis do Maranhão

(foto: eliz pessoa)

A 35.000 pés de altura, sobrevoando o Porto Nacional, desbravando sensações, amortecendo sentimentos, cuspindo palavras e alguns devaneios do medo. Escala em Imperatriz às 23h. Olhos pesados, pálpebras cansadas e um sono beirando os abismos do silêncio, não fossem os barulhos de alguns pensamentos misturados com resquícios de sonhos.

Unhas vermelhas colorindo a escrita e uma leve “birra” com o suco artificial camuflado de laranja, contrastando a lembrança da fruta experimentada lá atrás. As putas das memórias tristes do Gabriel e outros pertences.

Na poltrona do meio, cá estou. Um tanto quanto incomodada com o cheiro de “peido” que acredito sair do sujeito ao lado, à minha direita. Uma, duas, três liberadas de flatulências me dão uma sensação de fobia latente. Explicação que justifique a condenação do sujeito como autor dos “puns”? O incomodo do cara se mexendo como se tivesse formiga no acento.


À esquerda, um maranhense radicado no Rio das maravilhas, sobrevive deixando no nordeste saudades, família e muitas lembranças.


Uma revista é dedilhada, outro livro é desbravado, joguinhos de palavras cruzadas, movimentos incansáveis no banheiro, relógio inerte no pulso, charge de Bush, olhos agora ardendo.

Até então não havia passado pela minha cabeça a idéia de pisar em terras maranhenses. Pelo menos não por agora, mas como alguma coisa de novo surgiu no percurso, eis que me delicio em São Luis, capital do estado do Maranhão.


Por aqui algumas constatações me surpreenderam, e talvez por não alimentar nenhum tipo de expectativa quanto ao lugar, o que percebi foi uma cidade limpa, do aeroporto ao centro.
Em princípio, São Luis agradou-me muito, vendo suas ruas, conversando com seu povo, sentindo o cheiro dos seus rios e mares, experimentando o Brasil.

Fui para o Centro Histórico da cidade de ladeiras e como toda história tece - paralelepípedos, casas coloridas, antigas, carregadas de coisas a serem contadas e camufladas. Bordéis, contos de Ana Jansen, fantasmas e alguns receios do passado ainda vivem na memória da gente dali.

Nas entranhas do Maranhão, outra brasilidade. Pousada Portal do Amazonas, cravada nas profundezas do Centro Histórico, casarão de 1835, uma das casas do mito Ana Jansen, que leva o nome da principal lagoa da cidade. Quando aqui entrei tive medo de dormir sozinha, muito pela energia que ainda se experimenta no lugar, onde muito negros foram aprisionados e muita maldade cometida e, muito mais, pelo fruto de minha cabeça enlouquecida por seus próprios pensamentos alucinantes.

Quem nasce aqui é ludovicence, a cidade foi colonizada pelos franceses com um misto da coroa portuguesa e resquícios dos holandeses, mas após três anos de predominância francesa os portugueses expulsam os franceses e imperam sobre a cidade, nascida próxima aos ventos que sopram mais ao norte.

É a capital nordestina mais próxima do Pará, e o que se percebe é a grande influência das misturas de raças nas gentes deste lugar. Aqui a miscigenação é concreta e exibida nas peles e nos cabelos desse povo. Na Praça Gonçalves Dias dentro do centro tombado, a visita da 2ª Feira do Livro trouxe ilustres escritores e suas confidências, bem ali onde se avista o Rio Anil, a sete metros acima do nível do mar, misto de mar, rio e mangue – muito mangue, enfeitando a vista da gente sobre a ponte que leva o nome de um dos seus filhos políticos – José Sarney. Obras políticas em época de eleição. Cidade Digital no bairro Alemanha.


São Luis é fascinante e, como diria a canção “a ilha maravilha”, de um povo muito bom de prosa, de praias extensas, areia escura, vento constante, extremo da gente, de gatos soltos por todos os lados, de histórias e marcos, de muita coisa para se contar e, acima de tudo, para se aprender.


E toda a vez que a vida me proporciona a oportunidade de conhecer lugares neste país, fica nítida a idéia de que o nosso Brasil é exuberante! Mas que talvez não saibamos tomar conta de tudo isso.
São Luis, um brinde à sua aos seus apelos!

eliz pessoa

2 comentários:

Anônimo disse...

very cool.

Anônimo disse...

sure, why not!