quarta-feira, 30 de julho de 2008

Retalhos

Foto: Felipe Raimundo

É preciso silêncio e uma calma profunda, inimaginável.

Dentro de cada detalhe de nova estação, não bastam olhos atentos, alegres e despertos.
Bem mais que tudo isso, as cores florindo lá fora são riquezas para um coração ingênuo, inacabado.
E os pés afastados metros, centímetros, quilômetros de distância de um pensamento perdido, não relatam mais memórias fajutas, fugidias escorregadas no tempo.

Nas falas, frestas de línguas alienadas, muito barulho, rumores de vidas alheias, seguem incansáveis como se a lida expirasse em segundos. E o homem em frente a si mesmo torna-se inegável, intrínseco.
Em meio à tudo, é necessário o barulho e o ato dentro da gente, ainda que não apertado, falho, a sós na quietude da esquina de uma rua qualquer, sobre a lâmpada, e a sombra que alguém projetou e sumiu, deixando clara a grandeza do dia, embora seguinte.

É preciso a distância e o atalho bem próximo, retalhos de outro na rua.
Depois não vale mais nada. Nem à hora, nem a horta, nem a mesa farta do domingo.

eliz pessoa

domingo, 20 de julho de 2008

De vez em quando

Não ando inspirada. Do contrário, expirou-se as palavras em mim. Porém não fui tão imprudente e agora leio outras canções, e fecho os olhos para outras esquinas, dou as costas a caminhos e não arrisco um texto novo.

Ando preguiçosa demais da conta, escondida, conversando com as quatro paredes do quadrado de meu quarto. Ali dentro, sambo com se estivesse em plena Marquês da Sapucaí, no recudo da bateria da Mangueira – atalhos do coração, e canto sorrindo para os quatro cantos das mesmas quatro paredes pintadas de verde, na esperança lá de casa.

Depois, recito poemas que eu nunca escreveria, por pura falta de jeito pra coisa, e os clamo como se fossem meus, e choro quando neles me encontro.. Não de dor, ou sofrimento, mas pela grandiosidade da palavra escorregando aqui.

E aí calo, fico quieta no sossego meu. E adormeço na generosidade da cama, entre as quatro paredes escondidas lá em casa.

eliz