terça-feira, 24 de junho de 2008


(Foto por Érica Assunção)

Desarticulando a palavra, arranhando um texto novo, desarmando o papel, alinhando pensamento, modificando a escrita, desmontando a casa, vasculhando cadernos, inventando coisas... Respirando profundamente, pirateando outra idéia, envelhecendo constantemente, suspendendo alucinações, endireitando as costas, assistindo ao crescimento dos cabelos, expirando corrida, velocidade, nado e nada, aquietando sentimento, silenciando sons, retrocedendo um pouquinho, desligando a cabeça, D e s c o n e c t a n d o p o e s i a .

eliz pessoa

sábado, 21 de junho de 2008

Depois...

(foto: Agata Areia)

De tanto crer em Astrologia, Numerologia, Bruxaria, Simpatia, mal olhado, oração, reza, religião, intuição... De tanto acreditar no impalpável, nas coisas que eu não via, acabei por não ver o que não acreditava.



Então os mitos, crendices, desejos escorregavam escada abaixo, e o que ficou foi a transformação dia-a-dia.



Depois de tudo, a bobagem derramada das mãos. E agora perdi o tino, o jeito para a coisa, e resolvi bem amar o silêncio, fazer as pazes com a solidão, com o sossego e fiz morada em casa.



Depois fui ficando egoísta, pra dentro, deixei de lado o popular, as gentes, as horas e notícias. Pouco a pouco fui desligando as coisas, me enclausurando nos sons que vinham de todos os lados.
Depois que tudo passou, não quis mais lembrar as sutilezas no caminho, nem o arranhar das pedras sob as solas dos pés descalços, nem mais a sensação arrepiante do mergulho frio.
Fui me decompondo, desfragmentando, descamando a pele, descascando um pensamento, me acostumando à praticidade, sem sombras ou dúvidas.



Depois algo ficou cru, perdendo o cheiro, desaprendendo a melodia, o ritmo.
Depois, bem depois a nota se perdeu e o som acometeu minha alma, encurralou-a num beco e não havia saída. Sem pretextos para outra inspiração.


Depois, bem depois de tudo.


eliz

terça-feira, 17 de junho de 2008

Nu

foto: Rattus

No silêncio resta muito da gente, labirintos, idéias vastas, quietude, re-começos, reencontro de palavras mudas, nó, textos esquecidos em cabeça de gaveta, no esconderijo de armário, dentro das páginas de livros.


No silêncio alguém se encontra e finge serenidade, depois se olha no espelho e espelha o tempo, presente de tudo que passa.


No silêncio a solidão espreita, e se esconde na curva da casa de tinta descascada, quina do quadro no retrato exibindo um sorriso.


No silêncio uma palavra morre, enquanto outra se mata, e bem no canto um gato espreita a hora do nada.


Nu silêncio a vida cisma da gente, sombando nossas verdades e se deleita num pranto novo, com ares de maturidade, depois despenca ao chão como fruto vencido.


No silêncio gritam lembranças, quando a noite se alonga sobre o corpo do dia.

Ah! Mas o dia... Nele não há silêncio, apenas a imensidão do barulho que cala.

eliz