(foto: Agata Areia)
De tanto crer em Astrologia, Numerologia, Bruxaria, Simpatia, mal olhado, oração, reza, religião, intuição... De tanto acreditar no impalpável, nas coisas que eu não via, acabei por não ver o que não acreditava.
Então os mitos, crendices, desejos escorregavam escada abaixo, e o que ficou foi a transformação dia-a-dia.
Depois de tudo, a bobagem derramada das mãos. E agora perdi o tino, o jeito para a coisa, e resolvi bem amar o silêncio, fazer as pazes com a solidão, com o sossego e fiz morada em casa.
Depois fui ficando egoísta, pra dentro, deixei de lado o popular, as gentes, as horas e notícias. Pouco a pouco fui desligando as coisas, me enclausurando nos sons que vinham de todos os lados.
Depois que tudo passou, não quis mais lembrar as sutilezas no caminho, nem o arranhar das pedras sob as solas dos pés descalços, nem mais a sensação arrepiante do mergulho frio.
Fui me decompondo, desfragmentando, descamando a pele, descascando um pensamento, me acostumando à praticidade, sem sombras ou dúvidas.
Depois algo ficou cru, perdendo o cheiro, desaprendendo a melodia, o ritmo.
Depois, bem depois a nota se perdeu e o som acometeu minha alma, encurralou-a num beco e não havia saída. Sem pretextos para outra inspiração.
Depois, bem depois de tudo.
eliz